Ao visitar os acampamentos que hoje só no cone sul são mais
de 30, o que salta aos olhos é o clima
de permanente terror e temor em que vivem as comunidades que se encontram na
beira das estradas ou em cantinhos ínfimos de seus tekohá, territórios
tradicionais. “passaram a noite atirando por cima do nosso acampamento. Não dormimos e nos mantemos vigilantes,
afirmam as lideranças, ao se referirem as situações de sobressalto em que vivem.
As narrativas da presença e ação
dos pistoleiros são aterrorizadoras. E
vão narrando os inúmeros casos de
ameaças e violências a que são submetidos nesse processo de luta pelos seus
territórios. Castigados pela fome e doenças, ameaçados e discriminados, violentados em sua dignidade como pessoas e povo, lançam ao mundo seu grito e clamor, seu desespero e esperança.
A luta
contínua
Ao visitarmos a comunidade
Pueblito Kuê, município de Iguatemi, que há dois anos chegou a tamanho
desespero que havia optado pelo suicídio coletivo como única atitude diante da morte decretada e a
expulsão eminente de sua terra tradicional sagrada. Diante do clamor e grito mundial, a justiça
revogou a reintegração de posse e determinou que permanecessem em um (pasmem !1)hectare de
terra. Diante da total impossibilidade
de duas dezenas de famílias sobreviverem com um mínimo de dignidade em degradante
confinamento, ocuparam, recentemente,
mais um pedaço de sua terra. A ordem de
despejo e ameaças dos pistoleiros não tardaram. A comunidade resistiu bravamente, na certeza de que um dia seus
direitos seriam respeitados e se fizesse justiça. Foi então proposto um acordo
judicial em que ficou garantido à comunidade a permanência em 97 hectares. Ali
os encontramos fazendo barracos e preparando a terra para lançar as sementes. É
momento de respirar mas sem desistir de seu direito à terra. Fazem o apelo para
o governo cumpra a Constituição e demarquem logo a terra.
Kurusu Ambá
– cruzes, sementes e o último recado
Um dramático apelo vem da massacrada comunidade de Kurusu
Ambá. Em carta e vídeo lançam o último recado às autoridades “venham até aqui.
Daqui não sairemos jamais. Venham nos enterrar. Chega de prazos para nos
despejar.
É a situação de guerra suja, velada ou aberta, tentando
matar o corpo e alma desse povo, pisotear
sua resistência e dignidade. Situação infame que envergonha
qualquer ser humano que se preze e tenha
sentimentos, qualquer país que respeite minimamente os direitos humanos.
Com eles passamos noites de reza e celebração, dias de
angústia e medo, tempos de lançar a semente da esperança para colher frutos de
justiça. Que a alegria das crianças
contagie a desesperança e amoleça os corações empedernidos dos responsáveis s
por essa situação tão insana de negação da terra aos seus habitantes
originários.
Poderia continuar narrando inúmeras situações de violência
num rosário de sofrimentos, qual repórter de guerra em campo de batalha!
Prefiro fazer coro com os resistentes povos da esperança na
crença de que jamais serão vencidos.
Egon Heck
Cimi – Secretariado
Brasília 2 de dezembro 2014