Muitas
vezes somos surpreendidos com a expressão “precisamos colocar o país nos
trilhos”. Não ensejamos falar de uma situação de algo “descarrilhado” e que
mineiramente desejamos ajudar a colocar o trem no trilho, uai!
Queremos falar de
rara beleza nas trilhas da Chapada Diamantina, na Bahia. No rastro dos
garimpeiros, do início do século passado,
brotaram íngremes caminhos e sôfregos povoados. Em meio às rochas de
mais de um bilhão de anos, os diamantes foram sendo procurados com a ansiedade
de quem vai ao pote com muita sede e
fica rico, ou permanece lascado. Um século depois aí encontramos frondosas
montanhas e vales de heroica resistência
banhadas de águas cristalinas, cachoeiras espetaculares e monumentais formações
rochosas.
Não é possível andar nessas trilhas sem se deixar envolver
pelo encanto desse Brasil ainda por poucos conhecido. Afinal de contas a nossa
classe dominante ainda continua de costas para esse país profundo e belo. A maioria dos pacotes turísticas continuam sendo
para Las Vegas, Disney, Europa...onde é possível esbanjar dinheiro acumulado às
custas do trabalho e suor do povo brasileiro.
As trilhas de encantadoras maravilhas por esse país afora,
continuam envoltas em poeira e descaso das alquebradas secretarias de
turismo. Talvez seja essa uma das razões
que mantém a natureza quase intacta, e
vista, sentida e apreciada por pouca gente.
Um deslumbre a cada
passo
Tivemos
a felicidade de usufruir do privilégio de
passar alguns dias nos deliciando
com as caminhadas nas trilhas dessa beleza. Depois de algumas horas
de subidas e descidas
subitamente somos
agraciados com espetáculos indescritíveis.
São flores dando as boas vindas com seus suaves abanos, são
as límpidas águas se esparramando em nossa frente, em irresistíveis convites
para um mergulho, são as serras
majestosas vistas num ângulo de 360 graus, é o sol se esparramando por sobre as
montanhas, enchendo a alma de sentimentos de gratidão e louvor ao autor de
espetáculos tão emocionantes.
Seguindo nossas caminhadas pudemos observar uma tênue quantidade de água se precipitando em mais de
350 metros de queda, transformando-se em fumaça no meio do caminho. É a espetacular cachoeira da
Fumaça. Em frente um colossal paredão de rochas, nos dá a dimensão de nossa
pequenez diante do espetáculo que
vislumbramos. Seguindo em outra direção chegamos à cachoeira da
Purificação. Suas águas geladas desafiam
a nossa coragem de um sagrado ritual de
purificação de nosso corpo, nossa mente e nosso espírito.
E assim nosso grupo de caminhada com um pouco mais de 20
pessoas de várias regiões do país, fomos saboreando as belezas, armando e
desarmando nossas barracas e carregando-as até mais de mil metros de altitude,
em sintonia com a natureza e suas energias.
Nos topos das montanhas um vento gélido nos envolvia durante a
noite. Os trovões, raios e chuva, com
suas roucas vozes e luzes intermitentes, foram nos abençoando. Pisamos leve e livres no chão da
Chapada
Diamantina. Nos sentimos revigorados e oxigenados em nossa esperança e compromisso com a luta pelos direitos da Mãe Terra e
justiça para todos os povos e vida do planeta Terra.
Egon Heck
Grupo da “Caminhada Troca de Saberes
Brasilia, 27 de janeiro de 2015