Amilton Lopes, Avá Apikaverá na sua língua Guarani, nasceu em território Guarani, na fronteira com o Paraguai.

Esse era o Amilton Lopes, guerreiro incansável dos direitos de seu povo, que viveu como poucos os caminhos e descaminhos, as idas e voltas de uma liderança Kaiowá Guarani. Teve momentos de intensa contribuição nas lutas de retomadas das terras, iniciado pelo tekohá Pirakuá, em 1983. Poucos meses depois seria brutalmente assassinado Marçal Tupã’y, na aldeia de Campestre. A partir daquele momento Amilton sentiu-se comprometido em continuar a luta de Marçal pelos territórios Guarani. É o que fez. Foi mais adiante morar em Nhnaderu Marangatu. Desempenhou importante liderança no processo da luta pela terra. Quando a comunidade foi expulsa pra a beira da estrada, em 15 de dezembro de 2005, fez uma fala violenta, contra a expulsão defendendo a liberdade e direito de seu povo àquele território.

um sorriso de dor,
Não é expressão de felicidade
Mas de um drama,
De uma revolta e indignação,
Pois hoje estamos despejados,
Estamos na rua!
A gente chora
Porque somos expulsados,
O que faremos agora?
Não temos mais paz.
Os Kaiowá tem que ser livres,
Nunca podem ser assim executados,
Hoje choro pelas crianças!
Tenho a certeza
De que esse juiz e esses policiais
Vão dar os melhores presentes
Para suas crianças.
E nós o que daremos para as nossas?
Carinho e esperança,
Fome e talvez um pedaço de pão!
O que pensam que somos,
Esses que fazem isso conosco,
Que somos animais ou traficantes,
Para virem tirar nós daqui
Com fortes armas?
Não precisavam.
Nós sabemos lutar saindo
E sair lutando,
Porque nós Kaiowá Guarani
Resistimos e vamos resistir
Com nossas palavras!
Pisaram em cima de nós,
Mas ainda temos raiz,
Vamos brotar, crescer
E dar frutos.
O sol ilumina o mundo
Ele é nosso pai,
Se ninguém gosta de nós
Vamos destruir o mundo.
E sair lutando,
Porque nós Kaiowá Guarani
Resistimos e vamos resistir
Com nossas palavras!
Pisaram em cima de nós,
Mas ainda temos raiz,
Vamos brotar, crescer
E dar frutos.
O sol ilumina o mundo
Ele é nosso pai,
Se ninguém gosta de nós
Vamos destruir o mundo.
(Nhanderu Marangatu – para que o mundo saiba )
A fatalidade e a luta
No domingo, dia 16 Amilton e sua esposa saíram antes do clarear do dia, para pescar. Por volta das 10 horas da manhã, com muita esperança de pegar uns bons peixes no rio Apa, que passa pela terra indígena Pirakuá, que ele ajudou a recuperar há quase três décadas, jogou a tarafa. Ao tentar desenroscá-la caiu na água. Fatalidade. Dali não mais conseguiu sair. Seu corpo só foi encontrado três horas depois. Deixou esposa, seis filhas e três netos. No dia 9 de outubro ele completaria 56 anos.

Várias vezes falou que gostaria de contar toda a história de vida e luta para que futuramente pudessem conhecer os detalhes dessas lutas. Sua bela e dura trajetória de lutas, vitórias e sofrimentos, certamente será lembrada pelo povo Kaiowá Guarani e seus aliados.
Egon Heck e Laila Menezes
Povo Guarani Grande Povo - Cimi 40 anos , 19 de setembro de 2012
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