Numa matéria de julho
de 1975 Eliane Castanheda afirma “Nada tem sido mais dramático para a
sobrevivência das tribos indígenas brasileiras
que a construção de estradas em seus territórios. Pela estrada vem o
branco, o vírus das doenças, os germes da mendicância, da violência, da
prostituição...”(Veja 18/07/1975)
As recentes violências em Humaitá-AM, tocam numa das feridas
das veias e vias abertas na Ditadura
militar no Brasil. Ao ordenarem, em sua estratégia geopolítica e econômica,
que se rasgasse a densa floresta amazônica em todas as direções, não apenas se
estava abrindo estradas de invasão (chamado de vias da integração, do
desenvolvimento, do deslocamento do nordeste da seca para a Amazônia sem
gente!) mas caminhos do genocídios de inúmeros povos e comunidade indígenas que
estavam sob os traçados das estradas. E foi nesta política, que o território
Tenharim foi rasgado pela
Transamazônica, BR 230, na década de 70.
“Para Schwade, a investigação da Comissão Nacional
da Verdade sobre a violência sofrida por índios terá que apontar o que ocorreu
com os Cinta Larga e Suruí, na região dos rios Aripuanã e Rooswelt, entre
Rondônia e Mato Grosso; os Krenhakarore do rio Peixoto de Azevedo, na rodovia
Cuiabá-Santarém (conhecidos como Índios Gigantes); os Kanê ou Beiços-de-Pau do
Rio Arinos no Mato Grosso; os Avá-Canoeiro em Goiás; Parakanã e Arara no Pará,
entre outros, em função dos projetos políticos e econômicos da Ditadura.”
Construção
de rodovias no governo militar matou cerca de 8 mil índios
Por Luciana Lima ,
iG Brasília | 25/09/2013 06:00
“As investigações da Comissão Nacional da
Verdade (CNV) pela região Amazônica indicam um verdadeiro genocídio de índios
durante o período da ditadura militar. Não há como falar em um número exato de
mortos devido à falta de registros. Os relatos colhidos, no entanto, apontam
que cerca de oito mil índios foram exterminados em pelo menos quatro frentes de
construção de estradas no meio da mata, projetos tocados com prioridade pelos
governos militares na década de 1970.” (IG, 25/09/2013)
O
referido texto , que além de denunciar o massacre de mais de 2 mil Waimiri
Atroari pela construção da BR 174 – Manaus-AM –Bos Vista-RR se refere especificamente às trágicas consequência da construção da Transamazônica
parra os povos indígenas. “A Transamazônica foi escolhida como prioridade e,
por isso, representou uma verdadeira tragédia para 29 grupos indígenas, dentre
eles, 11 etnias que viviam completamente isoladas. Documentos em poder da
Comissão da Verdade apontam, por exemplo, o extermínio quase que total dos
índios Jiahui e de boa parte dos Tenharim. O território dessas duas etnias está
localizado no sul do Estado do Amazonas, no município de Humaitá”.
Essa é a
hora da verdade. A Comissão Nacional da Verdade , juntamente com a Comissão
Indígena da Verdade e Justiça deverão, com urgência fazer um detalhado
documentário sobre as graves consequências da violência e mortes acarretadas a
esse povo pela estrada. Registrar o
genocídio que acarretou a construção da Transamazônica, o que ela significou
para dezenas de povos, dentre eles os Tenharim. É o momento do povo brasileiro
conhecer melhor a verdadeira história dos massacres e não ser mais uma vez
jogada contra os índios, estimulando o
ódio e o preconceito.
Os povos
indígenas, maiores vítimas desse modelo
desenvolvimentista, tem denunciado reiteradas vezes essas tragédias, dos índios
e as estradas. Entidades como o Cimi, vem a quatro décadas denunciando as consequências dessas rodovias
da morte para comunidades e povos indígenas.
A
continuidade desse modelo de progresso a qualquer preço, do qual mais uma vez
os povos indígenas são as maiores vítimas, fica evidenciado nos grandes
projetos como as hidrelétricas de Belo Monte, no Xingu e as planejadas para o
Rio Tapajós, dentre outros.
O que a violência de Humaitá
revela
A
violência que significa uma estrada que passa por um território indígena. Os
Tenharim sentiram o golpe que significou a transamazônica atravessando seu território, abrindo-o para a
invasão de interesses econômicos,
principalmente madeireiras e mineradoras e garimpo. São mais de três décadas de permanentes agressões aos índios e ao seu território.
Margarida
Tenharim denunciou à Comissão Nacional da Verdade as centenas de indígenas
mortos por ocasião e em consequência da estrada.. Eu vi, diz ela, as mortes de
adultos, jovens e crianças...foram muitos. Passaram por cima de nossos
cemitérios...Estão querendo guerrear de novo, mas nós vamos lutar pelos nossos
direitos. Outra liderança fala da dependência que veio a partir da estrada e
mostrar o preconceito e animosidade que persiste “ainda hoje tratam nois como
bicho”.
Essa
situação revela a urgência de se estabelecer normas definitivas, superando a
política colonialista e integracionista, aprovando o Estatuto dos Povos
Indígenas e o Conselho Nacional de Política Indigenista.
Veja
no sítio abaixo:
Egon Heck
Cimi,
secretariado
Brasília,
3 de janeiro de 2014
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