Ao referir-se ao Cimi, Dom Pedro Casaldáliga, dizia que
essas quatro letrinhas, incomodaram e desafiaram muita gente do poder e da
dominação. Plagiando nosso poeta e
profeta, diria que as quatro letrinhas
de IASI também enfrentaram muitos
poderosos que se opunham à vida e direito dos povos indígenas, especialmente na
década de 70. Foi um incansável guerreiro da causa indígena. Sua obsessão pelos
desafios maiores, lhe causaram muitas ameaças e inimigos. Dentre suas maiores
batalhas estão as lutas pelas terras/territórios indígenas.
Denunciou com
veemência os usurpadores e invasores.
Não tinha medo de enfrentar a ditadura militar e seus prepostos. Quando
necessário desafiou os militares a o prenderem,
mas não abria mão um centímetro quando se tratava do direito de povos
indígenas às suas terras.
Procurando salvar
vidas e culturas
Iasi está na raiz do indigenismo missionário comprometido e
respeitoso que se consolidou na criação do Cimi. Enfrentou situações difíceis,
como no contato com os Tapayúna (Beiço de Pau) com os quais fez contato para
salvar esse povo do extermínio a que foi submetido ao contado indiscriminado com as frentes extrativistas,
de expansão agropecuária e colonização. Eram aproximadamente 1.200 índios
“dizimados por envenenamento, armas de fogo, gripe e remoções forçadas,
restaram cerca de 40 indivíduos ( Relatório Comissão Nacional da Verdade, pg
221). Iasi falava com muita emoção e revolta, de suas tentativas de evitar esse
genocídio.
Denunciou energicamente a ditadura militar pela ação
perversa do governo em desviar o traçado
da BR 364 passando no meio do território Nambikwara, e disponibilizando suas
terras aos latifundiários. Aliás, conforme as constatações da época, o estado
do Mato Grosso, já estava titulando terras até um terceiro andar. E nessas
ações vergonhosas estava envolvida a Funai que concedia certidões negativas aos
às empresas de colonização e
agronegócio.
Iasi foi batalhador incansável das situações mais graves que
envolviam as vidas, territórios e saque de recursos naturais das terras
indígenas. Marcou presença
principalmente na região amazônica que na década de 70 foi submetida a extrema
violência pelos projetos ligados ao Plano de Integração Nacional – PIN. As
principais vítimas foram os povos indígenas ( vide- Vítimas do Milagre, de
Shelton Davis).

Iasi
missionário radical e testemunho de fé
Em maio de 1987, ao
visitar os missionários no Mato Grasso, encontramos o Irmão Vicente Cañas,
assassinado há uns 40 dias. Fomos imediatamente comunicar o fato ao Iasi, em
sua humilde casinha no Barranco Vermelho, junto aos Rikbatsa. Comunicamos o
fato aos jesuítas em Cuiabá e subimos para o barraco do Vicente. Emocionado,
Iasi ajudou a envolver os restos mortais em saco plástico, prevendo a
necessidade de investigações que esclarecessem
o brutal assassinado de seu colega, o martírio de Vicente.
Iasi esteve com outros colegas jesuítas como Egydio, Tomas,
Balduino e Vicente, na origem de
profundas mudanças na Missão Anchieta – MIA.
Igualmente foi de fundamental
importância a sua contribuição na caminhada do Cimi, do qual foi secretário
executivo, escolhido pelo então Conselho da entidade, dia 22 de julho de 1975
(Ver Boletim do Cimi nº 22 de julho/agosto de 1975). Algum tempo depois pediu
ao Egydio, que era assessor, que reassumisse o secretariado, pois ele preferia
ficar livre para missões mais difíceis, envolvendo principalmente a luta pela
terra.
No dia mundial da água, Iasi sentou sereno em sua canoa e
deixou-a seguir para a eternidade. Foram 95 anos intensos de dedicação à causa
indígena e da vida. Seu testemunho e lembrança continuem a alimentar nosso
compromisso com a causa dos povos indígenas
Cimi Secretariado
Brasilia 22 de março de 2015
(EH)
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