Foram se ajeitando e se ajuntando aos poucos. Entre as
indumentárias e instrumentos mais importantes os vistosos cocares, o urucum e
jenipapo, o maracá, o tacape e arco e flecha rituais.
No coração um enorme sentimento de
paz e guerra.
Vieram lutar pela terra, pelos seus direitos, pela vida de seu
povo e de todas as nações indígenas do Brasil. Véspera de abril. Na memória a
falácia do falso “descobrimento”. Vem do litoral do “encobrimento” para a
capital do vil poder. Vem do Monte Pascoal, tão admirado por Cabral, vem de
Barra Velha, de novas lutas pela terra, vem de Cumuruxatiba, de Prado, vem de
Porto Seguro, de Santa Cruz de Cabrália, de Coroa Vermelha e uma dezena de
outras aldeias. No Centro de Formação Vicente Cañas, a primeira parada. Início
do ritual. É de encher o coração sentir a alma dessa gente retumbar ao som do
maracá, da borduna e da flauta. É hora de fazer a esperança avançar. Hora de
protestar, de exigir os direitos.
As ruas falaram na semana que passou. Mas falaram apenas no
singular. Nenhuma referência ao Brasil plurinacional que é o melhor sonho para
um país tão desigual, corrupto e injusto. É preciso lutar por um outro projeto
de país, no qual as cores vivas e belas dos povos originários não poderão
faltar. Troca de governo é ilusão passageira. É preciso trocar o projeto de
nação, aprofundar a democracia, vencer o estreito calabouço do autoritarismo e
ditadura de uma minoria de privilegiados.
“Se negarem nossas terras haverá guerra. Não vamos aceitar
perder nossas terras. Isso é vandalismo. Fazem das audiências públicas sessões
de terrorismo. Morro lutando pelo meu povo. Estou aqui para o que der e
vier”. Essas expressões de uma das lideranças
Pataxó, firmes e contundentes, denotam a consciência política de seus direitos,
ao mesmo tempo em que refletem o fim da paciência depois de mais de 500 anos de
opressão.

Os povos indígenas da Bahia foram os
primeiros a sofrer o impacto da chegada de uma civilização marcada pelo
massacre e genocídio para saquear as riquezas, as almas e a cultura de mais de
mil povos, com uma população aproximada de 6 milhões de pessoas. Nesse processo de extermínio mais de um
milhão de índios foi morto a cada século.
No ano 2000 os povos originários sobreviventes marcharam
para o litoral da Bahia, para, no local da invasão, dizer não ao processo de
violência e etnocídio. Foram mais de 3 mil representantes de mais de 150 povos.
Quando se dirigiam a Porto Seguro para dizer sua palavra sobre os 500 anos de
invasão, foram dura e covardemente reprimidos para polícia.
São inúmeros os problemas que os Pataxó, Tupinambá,
Pataxó-Hã-Hã-Hãe e outros povos indígenas da Bahia enfrentam. O mais grave,
todavia, continua sendo a não demarcação e respeito dos territórios indígenas.
Será mais um momento de exigir dos poderes o reconhecimento dos direitos e se
unir aos povos indígenas do país, para dizer não à PEC 215, ao PL 1610 e às
dezenas de iniciativas de rapina que tem como intuito retirar ou reduzir os
direitos indígenas conquistados na Constituição de 1988.
Egon Heck – fotos Laila Menezes
Secretariado do Cimi –
Brasília, 16 de abril de 2015
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