Assassinato de Simeão Kaiowá: punição já
“Lembramos
que quando não conseguiram ocultar o corpo ensanguentado de Simeão, fazendeiros
e políticos espalharam a vergonhosa mentira de que os índios estavam fabricando um cadáver para incriminar os
fazendeiros e o agronegócio. Diziam eles que o corpo já estava em estado
enrijecido, portanto, morto já antes do conflito. Caluniadores infames vejam o
vídeo que e deixem de querer enganar a opinião pública. Assistam o vídeo feito
pelos jovens Guarani-Kaiowá e Terena, produzido por Ascuri e Aty Guasu”
desabafou uma liderança Kaiowá Guarani repercutindo na imprensa regional
Enquanto escrevia essa missiva, este apelo já alcançava 35.468
visualizações.
Não é possível deixar de mencionar a impunidade que
crassa neste país, em que os assassinos dos povos indígenas matam na total
certeza da impunidade. Assim foi com a ignominiosa morte de Marçal. Mal
chegaram as informações em Campo Grande e as autoridades, desde o governador
até o secretário de segurança, passaram a espalhar a versão de que se tratava
de um crime passional.
O julgamento do acusado de ser o mandante o crime, o
fazendeiro Libero Monteiro de Lima, e do executor, o morador de Antônio João,
Romulo Gamarra, deu-se em 1993. Este último chegou a ser preso, mas foi solto
por um habeas corpus, evadindo-se para o Paraguai. Desde o início do processo
foi solicitado o desaforamento do julgamento para outra região do país, porém,
o juri se deu em Ponta Porã. Os réus saíram absolvidos do tribunal. O crime prescreveu
em 2003.
Será que se chegará aos executores e mandantes o
assassinato de Simeão? O Estado será responsável se uma vez mais trilhar pelos
caminhos da impunidade. Para que isso não aconteça, a sociedade brasileira
exige rigorosa e ágil investigação e punição dos culpados.
Lembro-me do assassinato do missionário Vicente Cañas, em
maio de 1987. Depois de quase 30 anos, um novo júri está previsto para
acontecer nos próximos meses. A determinação veio do TRF da 1ª Região (ver
mais).
A
lenta justiça humana
Uma das advogadas que atuou na acusação nos primeiros
julgamentos do assassinato de Vicente Cañas declarou que “a justiça que tarda,
falha”. Porém, ficou para a memória dos nossos mártires. O Centro de Formação
Vicente Cañas, em Luziânia, Goiás, está, juntamente com os jesuítas e o Cimi,
celebrando no próximo ano, os 50 anos da vinda do Irmão Vicente ao Brasil, e,
em 2017, os 30 anos de seu martírio.
Dom Dimas, arcebispo de Campo Grande, com aval dos bispos
do Regional Centro-Oeste da CNBB, escreveu carta à presidente Dilma, na qual questiona
as caluniosas afirmações de uma filha de fazendeira, que chamou de braços
demoníacos o Cimi e a CNBB:
A pergunta que não quer calar é:
“Até quando? Quantas pessoas ainda terão que morrer, para que se chegue à
conclusão de que é preciso fazer algo de concreto para que a paz, o respeito
pelos direitos e pela justiça sejam assegurados a todos?”
O
movimento indígena e seus aliados continuarão a acompanhar o desenrolar do
processo, esperando que dessa vez se faça justiça punindo exemplarmente os
responsáveis pelo bárbaro crime.
Brasília,
11 de setembro de 2015.
Egon Heck
Cimi
Secretariado
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