Dia de muito calor em Cuiabá, Mato Grosso. Dia especial.
Momento de comemorar o meio século de existência da Operação Anchieta,
posteriormente Operação Amazônia Nativa (desde 1987). Além de ser a primeira entidade criada dentro
do processo de surgimento de um novo indigenismo, no final da década de 1960
ela teve a mesma raiz e inspiração do Cimi, que seria criado quatro anos
depois, por Egydio e Tomas, ambos jesuítas ligados à Missão Anchieta, em
Diamantino, MT.
Momento histórico. Os idealizadores da entidade expuseram o
contexto eclesial e social em que ousaram enfrentar conjunturas adversas para
abrir um novo caminho de compromisso missionário, a partir de um novo e radical
compromisso com os povos indígenas e as populações marginalizadas e oprimidas.
Essa rebelião que partiu do coração de cada um dos fundadores
da OPAN, estava em sintonia e alimentada pela fé transformadora e necessidade
de mudanças profundas. Como sentiam e vivenciavam essa realidade de dentro das
estruturas, percebiam a necessidade de partir para outros caminhos, que não das
missões tradicionais com estruturas de internatos. Os leigos seriam os que
neste momento poderiam fazer a diferença, pois não tinham sobre si o peso das
estruturas. Estariam mais leves e livres para um compromisso mais radical com
os povos indígenas que estavam submetidos a um intenso processo de extermínio.
No dia 6 de fevereiro, a OPAN inicia a comemoração dos 50
anos de existência com a presença dos idealizadores e fundadores Egydio e Tomás
e alguns dos primeiros voluntários que estavam atuando em projetos no norte do
Mato Grosso e na Prelazia de Guajará-Mirim, em Rondônia.
Os fundadores da entidade expuseram os caminhos que os
levaram a idealizar a entidade a partir da força e insatisfação presentes na
juventude, submetida ao regime ditatorial militar e de uma Igreja que estava
sendo impulsionada pelos ventos do Concílio Vaticano II, além de outros
momentos fortes em nível de América Latina.
Tomas Lisboa expôs a histórica caminhada que resultou no
desmonte a missão de Utiariti e o consequente deslocamento dos missionários
para as aldeias. Também relatou seu batismo de fogo ao conviver por alguns
meses com os Tapaiuna (beiços de pau), vítimas de mais uma ação criminosa do
governo, que articulou o contato com esse povo, desencadeando a drástica
redução de mais de 300 índios para uns 40 sobreviventes. E estes foram
transferidos para o Parque do Xingu, onde aguardam até hoje seu retorno ao território
original.
Egydio Schwade contou as peripécias enfrentadas ao procurar,
em vários lugares do Brasil, voluntários que assumissem o desafio radical de
conviver com os povos indígenas nas aldeias, num processo de encarnação, desde
o aprender a língua do povo, até procurar ao máximo ser um deles. Foi nos
seminários que ele obteve maior adesão à sua proposta. Lembrou que a OPAN no
decorrer desse meio século de existência teve muitas mudanças e enfrentou
muitos desafios. Porém, foi sem dúvida uma caminhada com muita dignidade e
compromisso com os povos indígenas em nosso país.
OPAN e Cimi, uma
mesma raiz e caminhos diversos
Houve uma sintonia e articulação muito intensa entre as duas
entidades. Tanto isso é verdade que em determinados momentos, membros da OPAN passaram
a trabalhar no Cimi e membros do Cimi eram também membros da OPAN. O primeiro
secretário geral do Cimi foi Egydio que na ocasião era coordenador da OPAN. Nos
dez primeiros anos, os missionários do Cimi faziam o curso de formação
indigenista na OPAN.
O importante de toda essa história é que a causa indígena
ganhou aliados de compromisso e confiança na luta por seus direitos e no
enfrentamento das lutas contra seus inimigos.
Indígenas dão seu
recado
A primeira mesa foi de representantes dos povos indígenas. Estes
insistiram na importância de não apenas festejar, mas de aprofundar a aliança e
solidariedade entre os povos originários para enfrentar com sabedoria, união e
energia todas as adversidades que o atual governo pretende desencadear contra seus
direitos.
As lideranças indígenas foram unânimes na avaliação da
gravidade da situação com relação aos direitos dos povos indígenas. Esta
situação exige uma permanente vigilância e mobilização para que não prevaleça o
império da violência, da criminalização e retrocesso com relação aos direitos
conquistados. Igualmente importante foi considerada a formação de quadros, de
guerreiros, que façam o enfrentamento contra as forças adversas encasteladas no
atual governo, com um discurso anti-indígena orquestrado pelo atual presidente.
Uma história de lutas e conquistas, solidariedade e alianças
com os povos originários do Brasil. Na
abertura do evento Ivar, um dos históricos membros da entidade, fez referência
às inúmeras ações que foram desenvolvidos nesses 50 anos. pela vida e direitos
dos povos indígenas
Como Opanista e em seguida como membro do Cimi pude
testemunhar e partilhar de inúmeras lutas, vitórias e derrotas dos povos
indígenas em nosso país e outras regiões do continente americano
Egon Heck
Cimi Secretariado
Nacional
Parabéns Egon Hecr, descobrir seu blog, agora vou ver as notícias sobre as questões indígenas também por aqui!
ResponderExcluirParabéns pelo excelente trabalho que tem prestado ao povo indígena e a todos descendentes.
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