A
lua estava com seu brilho de gala, sedutor, convidativo.Mais uma noite de rua,
de protesto. Na aldeia é momento de
ritual, de alegria, de celebração, de grito. A lua ilumina e anima a todos
igualmente da aldeia escondida na floresta amazônica, às multidões apinhadas em
vozes plurais, na selva de pedras.
A
juventude na rua acordou o Brasil. A indignação, dor e revolta da aldeia deixa o governo com dor de cabeça. Juntos contestam o poder usurpado, corrupto,
exigem mudanças, produzem transformações. Já. Não dá para esperar
mais um bilionário espetáculo nas arenas da indignidade galopante. As
ruas e aldeias não se deixam enquadrar, conspurcar por vis moedas do
capitalismo global.
Milhões
de cartazes ambulantes dão o recado, de forma criativa, direta e alegre. Os
gritos completam o cardápio com ironia e humor. "O Brasil acordou, o povo
apareceu foi, deu seu recado, fora corruptos de toda espécie, o país é mais que futebol, não mais somos
colônia da Fifa ou quem quer que seja.
Energia
bonita, no apagão de Belo Monte, na refundação do país. Da aldeia ao Planalto, a voz que fala
mais alto é o plural coro dos jovens, dos excluídos , dos negros, dos índios,
dos sem terra, dos sem teto, dos em transporte, das cidades sufocadas.
Ao
passar por meus cabelos e barba branca, com a cara pintada com os riscos verde
e amarelo, um jovem comentou "viu que não é só movimento de
adolescente!..Senti a terceira juventude vibrar em mim. E mais! Senti a revolta
sufocada criando assas nos gritos e gestos exaltados. Pedindo paz. Violência
não! Mas como então chegar aos ouvidos moucos do poder? Só Fora Feliciano não
satisfaz. Fora Renam Calheiros!, fora os
corruptos encastelados, abaixo todas as formas de ditadura,! O povo em
movimento já é mudança. O novo é construído pelo povo, no caminho!
Entre
um grito e outro, vem me à lembranças os Zapatistas, em Chiapas, os
Sandinistas, na Nicarágua da década de 80, as machas indígenas na Bolívia e no
Equador, os grandes Assembléias indígenas no Brasil, desde a década de 70, a Marcha e Conferência Indígena, negra e Popular, do ano 2000, os
Acampamentos Terra Livre, já no novo milênio.
É a
vitalidade do movimento indígena, que rompeu o período da ditadura militar, e
traz em potes frágeis, com sua sabedoria milenar, para a construção desse
Brasil popular, emergindo nas ruas, radicalizando a democracia, no horizonte do
novo necessário e urgente.
É o
grito insurgente das ruas e aldeias
Egon
Heck
Povo
Guarani Grande Povo, início do inverno de 2.000
Nenhum comentário:
Postar um comentário