Gildo Terena
avança, resoluto diante do batalhão de choque, que com suas armas anti motim
tenta impedir a marcha indígena, que se dirigia a Porto Seguro, onde a invasão
começou. Era 22 de abril do ano 2000.
Como Terena
e pensando na luta de todos os povos indígenas do país se ajoelha e abre os
braços em forma de cruz. Suplica as policiais que não matem os índios. Vendo
que os enfurecidos policiais continuavam sua marcha violenta contra os eles, se
deita no asfalto e a tropa passa por cima. O fato e a foto correram o
mundo. Os povos indígenas do Brasil fizeram a grande marcha de retomada da
esperança, de seus sonhos, de suas lutas.
Um grupo
familiar de seu povo haviam saído da Terra Indígena Buriti, na década de 80,
pela impossibilidade de continuarem sobrevivendo em reduzido espaço de
terra. Em busca de um pedaço de terra,
já haviam perambulado por vários lugares, sem que o governo se dignasse lhes
garantir um pedaço de chão para trabalhar e viver em paz.
Manhã do dia
de Corpus Christi. Um batalhão da polícia federal e militar do Mato Grosso do
Sul chega atirando contra uma multidão de índios Terena da Terra Indígena
Buriti, na retomada da fazenda Buriti. Um tiro atinge mortalmente Oziel. A
violência e insanidade com que o Estado brasileiro trata seus primeiros
habitantes é revoltante. Os Terena assim como os Kaiowá Guarani estão
submetidos ao terror da violência, por exigirem seus direitos às suas terras.
Desde 2003,
quando retornaram pela primeira vez ao pedaço de seu território tradicional, foram violentamente expulsos
pelos jagunços e polícia. O mesmo se repetiu em 2010. E o processo legal foi se
arrastando, o relatório antropológico de regularização confirmando a terra
indígena. Outra decisão judicial embarga a conclusão do processo de
regularização. Poderosos interesses políticos e econômicos, articulados no
governo do Estado e com a conivência do governo federal e da justiça.
Um grupo
Terena continua sua longa peregrinação
por esse país do latifúndio e agronegócio, que continua negando terra e paz para os primeiros
habitantes. Estão quase na divisa do Mato Grosso com o Pará. Onde irão parar?
Talvez fora do país, ou no mar, pois os
males tomaram conta desse Brasil. Ao ser informado sobre o brutal assassinato
de Oziel, Gildo deve ter chorado é indignado lembrou aquela cena violenta do
início dos outros 500 anos de invasão.
Oziel,
mártir e herói do povo Terena na luta
por seus direitos e território é plantado no coração do Território e memória
deste povo e dos povos do Mato Grosso do Sul e do Brasil.
Cartas e
manifestações de solidariedade ao povo Terena e repúdio à brutalidade genocida
com que os povos indígenas estão sendo tratados, chegam de todos os cantos do
país e exterior. Os povos indígenas estão mobilizados, tanto no canteiro de
obras de Belo Monte quando nas retomadas dos Terena. Até quando os interesses
do agronegócio e os discursos do Conselho Nacional da Agricultura contra os
direitos dos povos indígenas irão prevalecer semeando violência pelo país
afora?
Na
declaração da Marcha e Conferência Indígena, os 3.500 indígenas afirmam:
Apesar do peso da velha história,
inscrita nas classes dominantes deste país, na sua cultura, nas suas práticas
políticas e econômicas e nas suas instituições de Estado, já lançamos o nosso
grito de guerra e fundamos o início de uma nova história, a grande história dos
"Outros
500". (Coroa Vermelha, Bahia, 21 de abril de 2000.)
Egon Heck
Povo Terena Povo guerreiro, Ultimo dia de maio de
2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário