Em sua quinta reunião, a mesa de negociação tão decantada pelo Ministro da Justiça, transformou-se numa mesa de decepção e retrocesso.
Os
representantes do governo do Estado do Mato Grosso do Sul, foram logo deixando
claro a mudança de posição com relação à Terra Indígena de Buriti. "Não
existe mais terra a ser comprada com os Títulos da Dívida Agrária.
Portanto nada feito com relação aos 16
mil hectares que seriam comprados pelo governo federal e pagos pelo governo
estadual".
"Isso
mostra claramente que não existe interesse por parte do estado em resolver o
problema." Uma das presentes, que não é membro da Comissão, teria logo
acrescentando "temos que ir para o plano B". Ou seja, o único caso
que parecia estar resolvido, retrocedeu e na próxima reunião, daqui há 15 dias,
a assessoria jurídica terá que apresentar outra alternativa. Outros prazos e
propostas postergarão indefinidamente qualquer solução efetiva. "Tudo
voltou à estaca zero" afirmaram as lideranças participantes
Levantamentos
feitos pelo juiz Odilon de Oliveira apontam mais de 300 mil hectares de terra no Mato Grosso do sul em poder do
narco-tráfico. Existem tamaabém terras públicas da União... O que na verdade
precisaria ser feito é um levantamento fundiário das terras no Estado, que
pudesse servir de base das terras disponíveis que poderiam ajudar as soluções
para garantir as terras indígenas neste Estado
A maior surpresa
da reunião foi a presença de três pessoas de uma mesma família trazendo consigo
três lideranças Kaiowá Guarani. Ficou evidente que a velha estratégia de
dividir o povo, para provocar conflitos internos, estratégia dos invasores há
mais de cinco séculos, continua sendo utilizada.
Diante da
manifesta falta de boa vontade do governo estadual, resta aos povos indígenas,
suas comunidades e organizações encontrarem os melhores caminhos para terem
seus direitos respeitados e as violências físicas, culturais e psicológicas erradicadas.
"Foi muito
frustrante. Cada vez que vou numa reunião dessas saio com dor de cabeça",
desabafou um dos indígenas participantes.
Enquanto isso o sofrimento, a violência e destruição
continuam no chão manchado de sangue indígena, no Mato Grosso do Sul.
Mais
uma vez a cacique Damiana e seu povo à beira da estrada, se veem envoltos na dor da terra negada e agora novamente seus
barracos queimados pela insana ganância da cana. A usina São Fernando arrenda
as terras que envolvem o acampamento, para o plantio de cana. Mesmo as chamas
não apagam a esperança da guerreira e sua gente, de um dia voltarem novamente
parra seu tekohá-terra tradicional.
Esse
provavelmente é o acampamento que mais tem sofrido em termos de mortes por
atropelamento, queima de casas, expulsão por várias vezes nesses mais de quinze
anos na beira da estrada.
O
diretor da Survival Stephen Corry disse hoje, ‘Os povos indígenas do Brasil são
constantemente sacrificados em nome da ganância, suas vidas perdidas na busca
do crescimento econômico a qualquer custo humano. Os Guarani têm o direito de
voltar às suas terras, mas em vez disso, são forçados a sofrer uma vida de
imundície na beira da estrada.’(Cimi-27/08/13)
Egon Heck
Povo Guarani
Grande Povo
Cimi Brasília 29
de agosto de 2013
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