Tento ser otimista. Mas a cada eleição que chega parece que a cena do fundo do poço se
repete. Aí vem o premio consolação: pior
não pode ficar. E entram de cabeça. Com consciência e secular paciência.
Candidatam-se. Esse ano são mais de 80 indígenas concorrendo a alguma vaga do
poder legislativo estadual ou federal. Escolhem alguém que algum benefício, de alguma
maneira possa lhes proporcionar. E não faltam os tapinhas nas costas, que logo
mais adiante se transformam em punhaladas.
Em Roraima, o Conselho Indígena de Roraima – CIR travou uma ferrenha campanha contra o título
de eleitor. O estrago a cada votação
justificava a catilinária contra tão contraditório documento, sagrado para a
assim dita democracia. Porém esse ano avançaram na perspectiva de lançar dois
candidatos pelo movimento indígena. Assim tornaram-se reais as chances de
eleição de um deputado
O voto étnico assim como o partido indígena nunca passaram
de mera ficção. O mesmo destino teve a proposta do Parlamento Indígena.
Mas houve resistências e lutas que infelizmente não se
transformaram em conquistas. Por ocasião
da Constituinte exclusiva, foi encaminhado
ao Congresso a solicitação de 5 vagas para os povos indígenas. Mais uma vez o
pleito indígena foi negado.
Os candidatos e a ignorância
Mais uma vez estamos diante de um quadro patético. Para os
aspirantes ao Palácio do Planalto e as benesses do poder, o que interessa é
chegar lá. Os povos indígenas não cabem nessa conta. Alguns talvez
ainda estejam com a ideia do índio do primário, ou do índio de peninha,
norte americano. Aécio, mineiramente se
esquiva do tema incômodo. Dilma já mostrou
que não quer saber. Marina também
está sob a pressão dos ruralistas. Porém sua origem dos seringais do Acre, sua
convivência e luta conjunta dos povos da floresta, lhe possibilitou um
conhecimento e compromisso, sensibilidade e respeito, que na atual conjuntura
torna difícil converter em garantia de direitos dos povos originários.
Seja por ignorância ou má fé, os direitos e a vida dos povos
indígenas estão novamente no banco dos
réus ou à disposição como moeda de troca. Sem ilusão terão pela frente as
maquininhas da democracia. Resta-lhes mostrar que são cidadãos primeiros deste
país, e não mais admitem omissão ou ignorância com relação às suas lutas e seus
direitos.
Se todos os candidatos
Se dessem conta, nesta eleição,
De que existe uma Constituição
A ser cumprida e uma dívida
Histórica para com
Os habitantes originários desse país,
A ser saldada com
urgência
Eles clamam por
justiça,
Por demarcação e respeito
A suas terras/territórios,
Punição aos assassinos
seculares
E atuais de suas lideranças e povos.
E mais do que isso,
Que assumissem um compromisso concreto,
De viabilizar esse país plural,
Com respeito, dignidade e autonomia
para os povos
indígenas
Egon Heck
Cimi-secretariado
Brasilia, 3 de outubro de 2014
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