Nesta semana Brasília foi a capital do Brasil indígena. A luta e a esperança acamparam na Esplanada dos Ministérios. Talvez pela primeira vez na história desse país, quase 200 povos indígenas deram a cor, o tom e a voz dos primeiros habitantes dessa terra, mostrando quão injusto, cruel e bárbaro está sendo o avanço dos poderosos sobre os territórios indígenas, os recursos naturais, as culturas, religiões e vidas desses povos.
No coração do poder se instalou e processa um espaço de
luta, de resistência e afirmação da diversidade e dignidade dos povos
primeiros. Quando as raízes se agitam, o poder treme, fecha as portas, se torna
mudo e cego para os clamores que brotam do fundo da terra, do grito contido,
das leis e dos direitos violados. O
Estado brasileiro teme o poder simbólico e real das lutas indígenas, porque é
responsável pela constante violação dos direitos desses povos.
Vigiados e
constrangidos

São tolerados apenas em espaços e momentos predeterminados,
controlados por forte aparato policial e mesmo assim passando por
constrangimentos, como ocorreu na Câmara dos Deputados, no último dia do Acampamento
Terra Livre. Foi a confirmação do que o movimento indígena já vinha alertando:
de falas e papeis sobre nossa realidade, exigências e direitos os Três Poderes estão
abarrotados. Se nada acontece, ou pior, retrocedem e buscam suprimir nossos
direitos é porque existe um sistema perverso de negação de nossas vidas e nossa
existência enquanto povos e culturas diferenciadas.
Do diálogo da
enganação às lutas pela terra e direitos conquistados
Lideranças de todas as regiões do país foram se movimentando
para Brasília. Os governantes armaram as barricadas dos seus interesses,
blindados pela força das armas, sem argumentos convincentes, faziam do “diálogo
de enganação” seu cavalo de Tróia. Não é de hoje que as classes dominantes
fazem de conta que dizem a verdade, quando essa nada mais é do que o
encobrimento de interesses e uma história falaciosa para garantir privilégios e
acumular capital.
Os povos indígenas estão fartos de serem ludibriados por
discursos enfeitados, mancomunados com o cinismo mordaz das elites dominantes.
Tudo vil enganação. Se deixassem cair as roupas da mentira, estaríamos frente a
um exército desnudo, desavergonhado.
Cientes dessa realidade os povos indígenas presentes na
mobilização nacional e nas regiões deixaram claro sua decisão de lutar por seus
direitos, a qualquer custo, nessa guerra que lhes é imposta diariamente. “Vamos
defender nossas terras nem que seja com nossas vidas... Não podemos nos
acovardar”, externou uma das lideranças.
Restam os duros caminhos do retorno às suas terras
tradicionais e a autodemarcação, como forma de pressionar o governo brasileiro,
diante de sua omissão e alegação de não ter recursos para resolver a situação.

Os gritos de
demarcação já, contra a PEC 215 e todas as iniciativas antiindígenas
continuarão a ecoar nos corações de multidões pelo país e mundo afora. As
flechas, bordunas e maracás continuarão soando no espírito dos jovens
guerreiros e aguerridos anciões. A espiritualidade, rituais e rezas haverão de
vencer todos os muros, armas e barreiras!
Egon Heck (texto) fotos: Laila Menezes
Secretariado do Cimi
Brasília 18 de abril de 2015
dando o exemplo para nós e transmitindo força, muito bom teu artigo
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