Linda celebração. Comovente. A catedral repleta de gente se
juntando em hinos de gratidão e louvor a Deus pelo testemunho do profeta Dom
Tomás Balduíno. Um ano transcorreu desde sua partida para a morada do Pai, onde
com todos os povos vamos um dia nos
encontrar. Luar lindo. Cheia, a lua veio se juntar ao coro das gentes e da
natureza num grande momento da memória perigosa de um guerreiro destemido.
Dom Eugênio, bispo da Diocese de Goiás, expressou sua
admiração pelo profeta Tomás, reafirmando que a melhor maneira de fazermos a
memória e honrar essa bonita e radical obra de um homem de fé, é dar
continuidade às suas obras e sonhos, na luta pela terra e pelos que a amam e
respeitam, como os povos indígenas, as populações tradicionais, os sem terra e
todos os expulsos da terra. Manifestou o compromisso assumido pela Diocese de
Goiás de dar continuidade à luta de Dom Tomás no apoio incondicional aos povos
indígenas na luta por seus direitos, especialmente a terra/território.
Canutto, em nome da CPT Nacional, lembrou que a Comissão
Pastoral da Terra, tem se sentido um tanto órfã, com a morte de Dom Tomás. Mas
que ao contrário de sentir-se inibida em sua missão de luta pela terra, reforma
agrária e justiça no campo, tem a
certeza que essa luta está se fortalecendo, agora com a intercessão de Dom
Tomás.
Em nome do Cimi destaquei a importância da celebração dessa
memória perigosa do profeta Tomás. Em contribuição com essa memória, relatei
fato ocorrido em 11 de janeiro de 1977. Naquela ocasião, se realizava na missão
Surumu, em Roraima, uma das primeiras assembleias de tuxauas (caciques) e
lideranças indígenas daquele território federal. No reinício dos trabalhos da
tarde, uma surpresa. Dois representantes da Funai e da polícia, dirigiram-se à assembleia
exigindo a retirada de Dom Tomás, presidente do Cimi, do recinto. Caso
contrário o encontro seria dissolvido. Era ordem do general Ismarth de Araújo,
presidente da Funai. Após o impacto da ameaça, o presidente do Cimi se levantou
e exclamou: “Daqui só saio preso”!
Instantes de perplexidade. Os índios confabularam entre si,
decidindo pela retirada de todos do local. Eles foram concluir sua assembleia
em outro local. Só assim Dom Tomás e Egydio se retiraram.
Um representante dos acampamentos e assentamentos da região
ressaltou a insistência de Dom Tomás de que a Igreja deveria estar junto do
povo e com ele fazer a caminhada de libertação. E como fruto dessa opção, foram
se criando os grupos de vivência do Evangelho e as Comunidades Eclesiais de Base.
Relatou também momentos impressionantes em que se manifestou profundamente a fé
e luta de Dom Tomás.
No final da emocionante celebração, ecoaram canções que
expressam a Igreja peregrina, para a qual lutar não foi em vão. Ao contrário aí estão os testemunhos de uma
Igreja que caminha com o povo em suas lutas por direitos, justiça e libertação.
Foi também entoada uma canção feita em memória do lutador que estava sendo
lembrado, de maneira especial dentro do grande número de mártires e profetas da
atualidade: “Um silêncio que se faz, cai a tarde, bate o sino, segue em frente,
vai em paz, para sempre, Balduíno”.
Urubu-ka’apor
em pé de guerra
Essa é a manchete que se podia ver na imprensa em agosto do
ano 2.000 (Folha do Paraná, 24/08/2000) seguido da explicitação “Índios vão aos
EUA denunciar invasão de áreas”. Na matéria, três caciques da nação urubu-ka’apor
relatam os objetivos da viagem “vão denunciar no Museu do Índio Americano e na
Organização das Nações Unidas-ONU, em Nova York, a invasão de suas terras por
fazendeiros e madeireiros e o descaso das autoridades brasileiras quando à
demarcação de suas terras... A cada dia aumenta o número de invasores para roubar
madeira... é a nossa última tentativa de chamar atenção da opinião pública
brasileira e estrangeira para os problemas que estamos enfrentando... desde
1991 existe uma liminar de reintegração de posse concedida pela Justiça Federal
do Maranhão em favor dos índios. Essa liminar já foi revalidada cinco vezes,
mas não cumprida” (idem).
Quinze anos depois. Uma delegação de indígenas brasileiros e
aliados denunciam na ONU o assassinato de Euzébio ka’apor em função de sua luta
contra o esbulho da madeira pelos madeireiros invasores. O secretário do Cimi,
em sua fala no Fórum Permanente da Questão Indígena, na ONU, manifesta a
indignação dos povos indígena do Brasil, por mais essa violência e crueldade. Pede
que o governo faça uma rigorosa investigação e punição dos responsáveis pelo
crime. Além disso, salienta que a única
forma de evitar com que esse tipo de violência continue, é a imediata retomada
da demarcação das terras indígenas por parte do governo.
Egon Heck
Cimi-Secretariado
Brasília, 5 de maio de 2015
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