ATL 2017

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sexta-feira, 22 de junho de 2012

EQUAÇÃO DRAMÁTICA: Rio+20 – Eco 92 = 0



Para os povos indígenas essa equação é muito real, pois nas últimas décadas o avanço do modelo neoliberal, do agrohidronegócio sobre seus territórios tem deixado um rastro de destruição e morte. E o que é mais grave, isso tudo sob o olhar complacente, quando não omisso, dos governos. Inúmeras denúncias de graves violações dos direitos dos povos indígenas  foram feitas neste espaço da sociedade civil mundial. Talvez o que mais indignadamente tenha sido denunciado foi a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.
A delegação dos Xavantes da Terra Indígena de Marãiwatsédé juntamente com aliados, fizeram uma série de atividades, debates e entregaram aos representantes do governo uma carta para a presidente Dilma. No documento pede a urgente retirada dos invasores dessa terra de seu povo Xavante.“Nesses 20 anos que se passaram, Marãiwatsédé se transformou na Terra Indígena mais desmatada da Amazônia brasileira, envergonhando todo o nosso país com a devastação criminosa que produtores de soja e de gado estão ainda fazendo na nossa terra sagrada. Vinte anos também não foram suficientes para que a Justiça brasileira tivesse a força necessária para fazer valer a decisão que respeita a Constituição Federal e os povos indígenas, tomada por unanimidade e determinando a retirada dos invasores, pois todos entraram em nossa terra ilegalmente, de má fé” Termina a carta com um apelo “. Estou lutando há 46 anos. Eu era criança quando o governo retirou minha comunidade nos aviões da FAB em 1966. Desde aquela época estamos lutando para voltar e retomar nossa terra. Estou cansado. Mas não vou desistir. Nunca. (Carta do cacique Xavante Daimião à presidente Dilma)
 
Yanomami
Davi Yanomamy está no Aterro do Flamengo à espera de seus companheiros indígenas para irem entregar o documento   dos Povos Indígenas do mundo, aos chefes de Estado, ao governo brasileiro. Aproveito para perguntar-lhe como avalia a participação dos povos indígenas na Cúpula dos Povos. “É um  pingo d’água” responde. Um pingo apenas, mas importante. Não deixou de externar certa decepção, pois não conseguiram seu ouvidos pelas autoridades. “ Na Eco 92 vieram autoridades ouvir nossos problemas, mas aqui nem isso aconteceu”. Sentiu-se ressentido pela falta de unidade do movimento indígena. “Estamos divididos. Isso é uma fraqueza. É isso que fazendeiro, mineradora, militares, querem.”
Apesar de terem seu território demarcado há 20 anos, a falta de políticas de proteção efetiva, permite constantes invasões de garimpeiros e outros interesses.

Guarani Kaiowá e povos indígenas do Mato Grosso do Sul

Outra situação dramática, denunciada em vários espaços e momentos na Cúpula dos povos,  foi a  dos Kaiowá Guarani, em especial, e dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul. “Estamos em guerra, pois os invasores declararam essa guerra há séculos.”, afirmam em carta dirigida à presidente Dilma e aos povos e nações do mundo. Nela fazem uma série de exigências aos três poderes do país, como única forma de poderem sobreviver conforme garante a Constituição Federal e acordos e legislações internacionais. A situação de violência é gravíssima em decorrência da não demarcação das terras.
 TIPNIS – Bol ívia

É uma das  situações graves hoje enfrentado pelos povos indígenas hoje no continente. A organização dos povos indígenas do oriente boliviano, estão em marcha para La Paz, para cobrar do governo de Evo Morales respeito a seus direitos, justiça para os responsáveis pelas violências contra seus povos e a paralisação da estrada que atravessa o parque e terra indígena. Ao exporem a situação a delegação indígena, representando 36 povos, pediu a solidariedade de todos os povos á sua luta. Acusaram o governo de Evo Morales de estar impondo à região uma política neocolonialista, com sérias violações aos direitos das populações que ali vivem. A estrada estava sendo construída por uma empreiteira brasileira. O Brasil tem interesse na construção dessa estrada na região amazônica.
Documento dos Povos Indígenas do mundo aos chefes de Estado
Finalmente a delegação dos povos indígenas do Mundo puderam entregar seu documento ao Ministro Gilberto Carvalho, que veio representando a presidente Dilma, que não teve “tempo” em sua agenda para os povos indígenas.
“vimos em uma só voz expressar perante os governos, corporações e a sociedade como um todo o nosso grito de indignação e repúdio frente às graves crises que se abatem sobre todo o planeta e a humanidade (crises financeira, ambiental, energética, alimentar e social), em decorrência do modelo neodesenvolvimentista e depredador que aprofunda o processo de mercantilização e financeirização da vida e da Mãe Natureza.
Defendemos formas de vidas plurais e autônomas, inspiradas pelo modelo do Bom Viver/Vida Plena, onde a Mãe Terra é respeitada e cuidada, onde os seres humanos representam apenas mais uma espécie entre todas as demais que compõem a pluridiversidade do planeta. Nesse modelo, não há espaço para o chamado capitalismo verde, nem para suas novas formas de apropriação de nossa biodiversidade e de nossos conhecimentos tradicionais associados.
Finalmente, não são as falsas soluções propostas pelos governos e pela chamada economia verde que irão saldar as dívidas dos Estados para com os nossos povos. Reiteramos nosso compromisso pela unidade dos povos indígenas como demonstrado em nossa aliança desde nossas comunidades, povos, organizações, o conclave indígena e outros.
A SALVAÇÃO DO PLANETA ESTÁ NA SABEDORIA ANCESTRAL DOS POVOS INDÍGENAS”
Egon Heck –
Povo Guarani Grande Poro – Cimi 40 anos
Cupula dos Povos, Rio de Janeiro, 22 de junho de 2012



quinta-feira, 21 de junho de 2012

Sambódromo sem samba


 Sambódromo sem samba


 Os povos indígenas do Brasil e do continente levarão na bagagem da volta uma lembrança um tanto amarga, longe das imagens luxuosas do desfile das escolas de samba, no início do ano.O duro cimento sob o qual se estiraram os cansados corpos que mais de mil e quinhentos guerreiros originários de Abya Yala ( Américas), mais do que de samba vão lembrar de uma dura batalha, para fazer avançar seus direitos, contra a ferocidade genocida do  capital multinacional e suas grandes obras mortíferas. O sambódromo ficará no seu imaginário não como espaço de samba e alegria, mas de abrigo precário, na dura luta pelos seus direitos.
Um mar sem banho. Apesar de estarem sendo acompanhados pelo olhar atento do mar, e as belas praias do Rio, do vigilante pão de açúcar, nada disso vieram desfrutar. Apenas registros da beleza em meio à dureza das denúncias de violação de seus direitos e a construção da união necessária para o enfrentamento dos interesses contrários à sua sobrevivência. Foram à praia diversas vezes, mas para atividades como a da bonita paisagem humana construída ontem à tarde com a participação da maioria dos indígenas e outros participantes da Cúpula dos Povos


Um Flamengo sem jogo. Permaneceram e perambularam durante vários dias no aterro do Flamengo, sede da Cúpula dos Povos. Em meio à multidão chamaram muita atenção. Seus vistosos cocares, colares e a leveza dos corpos pintados, foi por muitos levados como lembrança, não do exótico, mas dos povos indígenas que não apenas estão vivos e entre nós, mas que tem certamente mais futuro do que o sistema capitalista, como esteio da civilização ocidental. Participaram em dezenas de atividades autogestionadas,expressaram sua indignação diante da violência e o desrespeito aos seus direitos mais fundamentais como à terra, autonomia e paz.

Queremos levar nosso documento aos chefes
Os povos indígenas vão levar uma profunda decepção por não terem conseguido levar sua realidade e propostas para os chefes e representantes de mais de uma centena de países enclausurados no  Riocentro. Através de uma marcha, com os movimentos sociais e da comunidade Vila Autódromo, chegaram até as redondezas do local. Mas foram barrados por uma tropa de choque e tiveram que retroceder. Tiveram a promessa de que amanhã Gilberto Carvalho receberá uma comissão. Porém o grupo quer ter um encontro com a presidente Dilma. A Vila autódromo é revelador das políticas elitista que estão sendo colocadas em prática nas grandes cidades que irão sediar jogos da Copa do Mundo e outros grandes eventos como as Olimpíadas. A ‘limpeza’ das cidades significa jogar para debaixo do tapete toda a miséria a que milhões de famílias estão relegadas nas favelas e periferias das cidades. “no Rio “mais de 150 mil pessoas estão ameaçadas de remoção forçada nos próximos 4 anos, somente por conta dos projetos relacionados a esses eventos internacionais”.

Quando amanhece o dia 21, milhares de comunidades andinas vão receber os primeiros raios do sol celebrando o início do ano novo indígena. Os povos originários do mundo presentes na Cúpula dos Povos também irão dedicar mais um dia de luta pelos seus direitos, em homenagem aos milhões que tombaram para que a Mãe Terra com todas as suas formas de vida e seus  povos não fossem destruídos.
Numa das importantes declarações os Povos Indígenas do mundo conclamam “Os povos indígenas chamamos o mundo a voltar ao diálogo e harmonia com a Mãe Terra, e adotar um novo paradigma de civilização baseado no Bem Viver-Viver Bem.”
Egon Heck
Cimi 40 anos, Cúpula dos Povos, Rio de Janeiro, 20 de junho de 2012

Manifestaç​ão rumo ao Rio Center

Indígenas em manifestação rumo ao Rio Center, dos chefes de estado, mas foram barrados por um batalhão da policia de choque





terça-feira, 19 de junho de 2012

Passeata dos Povos Primeiros



Sol quente e sob o olhar atento do mar, marcharam  os primeiros habitantes desta terra, em paz e guerra, à sombra de imensos prédios. Centro do Rio de Janeiro. Pisaram forte os pés nativos expulsos, mas vivos, nesses cinco séculos de invasão.  Os povos indígenas deram ao centro do Rio algo que os engravatados, do outro lado não podem dar: múltiplas cores, sons, gritos e palavras de ordem contra o genocídio  e a morte decretada, a destruição desenfreada, da natureza, das gentes, da vida. “Dilma não mate a nossa esperança...”, “Chega de enganação, demarquem as nossas terras” Não às hidrelétricas, não ao PAC e à PEC 215...”

Foi de lavar a alma, ver a aquela multidão serpentear entre os prédios e avenidas, para dizer ao Rio e ao mundo que não apenas estão vivos e estão aqui, mas que querem por fim à secular dominação e ajudar a construir um mundo melhor para todos, sem a enganação verde da economia global neoliberal, a falácia da proteção ambiental e do desenvolvimento sustentável do grande capital.

A dignidade desfilou no Rio, do Sambódromo, onde estão hospedados, partiu o grito forte das mulheres, do aterro do Flamengo, partiram os povos raiz, e por fim os ambientalistas mostraram a “marcha ré”, do governo Dilma com relação aos direitos da Mãe Terra, das leis de proteção ambiental.
Foi um dia memorável. Ficará há história e coração de cada um dos indígenas participantes.
A situação mais grave, em termos de violência, assassinatos, fome, desnutrição, dependência, suicídios, é a do Mato Grosso do Sul. E é exatamente a região em que as terras estão sendo assaltadas pelo grande capital, empresas multinacionais como a Bunge, Dreifus, Raizen...estão plantando cana, nas terras Kaiowá Guarani. A denúncia de Oriel, na atividade sobre Direitos à Terra e  “Grilagem de terras”. O biodiesel de cana que está movendo uma frota de ônibus aqui no Rio, está sendo movido a sangue indígena, pois é tirado de nossas terras no Mato Grosso do Sul.

O objetivo da passeata, além da dar visibilidade aos povos indígenas presentes na Cúpula dos Povos, no Acampamento Terra Livre, foi de deixar seu protesto contra a imposição e implantação dos grandes projetos que afetam diretamente a vida e sobrevivência dos povos indígenas. Esses projetos são financiados pelo banco BNDES, dinheiro público. Por isso foi feito um cerco ao prédio do banco. Depois de rituais de protesto, o mesmo gesto foi repetido diante do prédio da Petrobras

A Articulação dos Povos Indígenas no Brasil está coordenando a elaboração de um documento que será entregue aos chefes de Estado reunidos na Rio +20. Também estarão participando das plenárias e Assembléias onde está sendo construído o documento unificado em que ficará definido o posicionamento e as propostas consensuadas na Cúpula dos Povos com relação à grave ameaça à vida no planeta Terra.

Apesar dos povos indígenas estarem enfrentando sérios problemas de infra-estrutura (hospedagem e alimentação) entendem que esse é um momento histórico em que deixarão seu recado ao mundo. Seu grito de guerra e de paz.

Egon Heck

Cimi 40 anos – Povo  Guarani Grande Povo

 Cúpula Dos Povos, Rio de Janeiro, 19 de junho s012

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Povos indígenas - a luta tem futuro


“Estamos lutando pela vida dos nossos povos, mas principalmente por nossas crianças. Somos povos raiz dessa terra e exigimos respeito e justiça. Apenas queremos viver com dignidade e paz.”




Essas são expressões que perpassam os inúmeros depoimentos, denúncias e anúncios dos mais de mil e trezentos indígenas participantes da Cúpula dos Povos, especialmente do Acampamento Terra Livre.
É um momento histórico importante para o movimento indígena do Brasil e mundial. É hora de gritar que não apenas estão vivos, mas  que muito tem a contribuir na construção desse novo mundo possível e urgente, a partir dos projetos do Bem Viver de seus povos.

Os povos indígenas acreditam  que com sua união e o apoio amplo de todos os que lutam para  para superar o colonialismo e o neoliberalismo, e assim salvar o planeta terra.


Egon Heck – Cimi 40 anos – Cúpula dos Povos Rio de Janeiro, junho de 2012


domingo, 17 de junho de 2012

O grito indígena na Cúpula dos Povos





Ao intercalarem rituais e clamores, em centenas de tons,línguas e cores, os povos indígenas estão indignadamente fazendo seusdesabafos, conclamando para a união para a luta comum contra esse sistema quelhes decretou a morte e travestiu de verde a destruição. São em torno de  mil e trezentos indígenas de mais de cempovos do Brasil e das Américas, presentes na mobilização, conclamação, debate e grito nativo no espaçodo Acampamento Terra Livre, na Cúpula dos Povos.


Essa diversidade, raiz efuturo do continente, se manifesta de maneira contundente. Não agüentam mais oavanço dos projetos de morte e saque de seus territórios, sob o discurso verdeda sustentabilidade e preservação. Querem dizer isso ao mundo. Que os ensurdecidose insensíveis chefes de Estado e governantes sejam atingidos pelas flechas  de futuro, que exige imediata e radicalmudança nos rumos dos projetos de desenvolvimento e a devolução e garantia dosterritórios dos povos indígenas e o reconhecimento de sua autonomia e seusprojetos de vida.


Confiam na força da união dos povos indígenas do mundo emaliança com todos os setores da sociedade que lutam contra o devastador sistemacapitalista global, para interromperem o caminho de morte, que ameaça a vida todosos seres vivos e do próprio Planeta. Denunciaram o assassinato de dezenas delideranças indígenas e a total impunidade em que permanecem esses crimes.


Estão cansados de denunciar a violação constante dos seusdireitos. Porém não se cansam de anunciar seus projetos de Bem Viver comocontribuição e alternativa aos projetos do grande capital global, que tem aserviço de seus interesses os Estados nacionais e o sistema financeiro mundial.


Ao infernoBelo Monte


Entre as inúmeras denúncias foi ressaltado, por diversospovos e lideranças indígenas,  a situaçãoe conseqüências calamitosas do mega projeto da usina hidrelétrica de BeloMonte. Raoni e Megaron  deixaram clarosua posição e dos povos indígenas contra essa monstruosa obra que irá impactarmortalmente vários povos indígenas, populações ribeirinhas, com um rastro dedestruição.


Está sendo unânime o rechaço dos povos indígenas a todo tipode desenvolvimento baseado nessas grandes obras a serviço do grande capital econtra os direitos e vida dos povos originários deste continente.


Egon Heck


Cimi 40 anos – Rio de Janeiro 17 de junho de 2012


Povo Guarani grande povo.



sábado, 16 de junho de 2012

Demarquem nossas terras

Após a abertura do Acampamento Terra Livre, na Cúpula dos Povos, no Rio de Janeiro, um batalhão de fotógrafos  estava seguindo uma pessoa que adentrava ao Auditório 33 onde estavam algumas centenas de indígenas de todo o Brasil. Antonio Patriota, ministro das Relações Exteriores, veio dar uma olhada apenas no evento. Mas foi convidado pelos índios a dar uma palavra aos presentes. Deixou escapar o que parece ser a grande preocupação do governo: tentar convencer o mundo de que no Brasil é possível conjugar desenvolvimento com proteção ambiental.
Para os povos indígenas esse esforço do governo brasileiro é em vão. É apenas  uma retórica fantasiosa ( para não dizer mentirosa) onde a onda de desenvolvimentismo, uma vez mais tem os povos indígenas como maiores vítimas. Basta olhar o descalabro e o caos  em que estão a saúde e educação indígena e mais grave ainda a total falta de uma política de produção de alimentos, de acordo com a lógica das economias indígenas.  Prefere-se institucionalizar a dependência através das cestas  básicas.

Logo após as breves palavras do ministro Antonio Patriota, Otoniel Kaiowá Guarani  do Mato Grosso do Sul pegou o microfone para dizer exaltado. “Demarquem nossas terras.  É bom o senhor estar aqui. Queremos a demarcação de nossas terras urgente. Não adianta falar em economia e proteção ambiental para nós, o que queremos e precisamos que o governo demarque as nossas terras”.
Acampamento Terra Livre
“A salvação do planeta está na sabedoria ancestral dos povos indígenas”, consta no folder da programação do IX Acampamento Terra Livre, organizado pela Articulação dos Povos Indígena do Brasil, e que se integra com agendas, participação e contribuições dos povos indígenas do continente Abya Yala. Durante uma semana serão debatidos os grandes temas que desafiam a humanidade hoje e em especial os povos indígenas do mundo. Serão feitos mobilizações, rituais, debates e elaborado um documento que expressa a posição do movimento indígena mundial diante da grave crise em que o sistema capitalista é uma ameaça à sobrevivência da vida no planeta.
“O respeito aos povos indígenas requer valorizar a sua contribuição na formação social do Estado nacional e reconhecer o papel estratégico que os territórios indígenas tem desenvolvido milenarmente na preservação do meio ambiente, na proteção da biodiversidade e na solução dos problemas que hoje ameaçam a vida no planeta”
Essas atividades dos povos indígenas previstas para os próximos dias fazem parte dos mais de 3 mil eventos que estão previstos.
Mandantes do assassinato de Nisio Gomes, na cadeia
Foi deflagrada operação de prisão  dos mandantes e envolvidos no assassinado do cacique Nisio Gomes, conforme noticiou a imprensa de Campo Grande. O cacique foi assassinado em novembro último passado na Terra Indígena Guayviri, no município de Aral Moreira, no Mato Grosso do Sul. Mesmo que o anúncio da operação tenha  sido estrategicamente feito no decorrer da Cúpula dos Povos e Rio + 20, o que se espera é agilidade da justiça para  punir os responsáveis de dezenas de lideranças assassinadas e que permanecem na total impunidade. Além do mais não se tem ainda informações sobre o corpo do Nisio e do professor Rolindo. Que a prisão dos mandantes abra caminho para a localização dos corpos.

Egon Heck
Cúpula dos Povos, 15 de junho de 2012

Povo Guarani Grande Povo

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Povos Indígenas - cresce a violência

Os números são estarrecedores. A violência contra os povos indígenas,  são indícios de um processo de guerra, de genocídio que continua decretando a morte de inúmeros indígenas de norte a sul do país, da terra dos Makuxi, Wapichana e Ingarikó em Roraima aos Kaingang, Guarani e Charrua no Rio Grande do Sul.

No dia em que iniciou a Rio + 20, em que o Brasil como anfitrião tem que ficar bem na foto, em Brasília é lançado o "Relatório de Violência contra os Povos Indígenas no Brasil".  No placar de regularização de terras indígenas,o governo Dilma está com m desempenho pífio - no ano de 2011 homologou apenas 3 terra indígenas. Já em 1992 o governo Collor demarcou 128 terras indígenas, enquanto o governo Lula demarcou apenas 88 terras indígenas em oito anos de governo. Conforme D. Erwin, no lançamento do relatório, essa foi e continua sendo a principal causa da violência contra os povos indígenas ".  Tanto o presidente da CNBB, como o presidente do Cimi, demonstraram sua profunda preocupação com o avanço da violência contra os povos indígenas, em conseqüência de um modelo de desenvolvimento que não respeita os povos indígenas. "Pensávamos que a publicação do relatório  ajudaria a diminui a violência. Infelizmente está aumentando. É o rolo compressora que não respeita os povos indígenas e ribeirinhos, no caso do  emblemático e fatal projeto da usina hidrelétrica de Belo Monte."  D. Erwin lembrou que nos 40 anos do Cimi vários missionários derramaram seu sangue em defesa dos direitos dos povos indígenas. "Continuaremos decididamente ao lado dos  povos indígenas", afirmou o presidente do Cimi.

Nailton Pataxo-Hã-Hã-Hae, em sua apresentação falou da emoção de estar participando desse ato, como um dos testemunhos do massacre, opressão e do assassinato de mais de 30 membros de seu povo nessa luta pela reconquista de seu território. Lembrou do grande sofrimento e opressão, que gerou uma descrença quanto à Justiça e uma desesperança quanto à garantia dos direitos de seu povo. Por essa razão eles tomaram a iniciativa de buscar a justiça retomando seu território, em abril desse ano. Ao agradecer a todos os apoiadores e aliados lembrou "Nosso problema está resolvido, mas vamos lutar agora para resolver o problema de todos os índios do Brasil". Fez referencia à gravíssima situação dos Kaiowá Guarani no Mato Grosso do Sul e sugeriu "Que o acampamento Terra Livre seja realizado em áreas de luta pelos direitos, sendo dois dias de conversa e três  de limpeza".

Jader Marubo do Vale do Javari, Amazonas, fronteira com o Peru, relatou com dor e indignação a situação de morte a que estão relegados os povos indígenas dessa região, sendo que 82%  dos indígenas de 6 povos estão com hepatite e temem a febre negra (hepatite B mais hepatite D), além de alta incidência de tuberculose, filaria, dentre outras doenças. Além disso tem seu território invadido por madeiros, fazendeiros, peixeiros, narcotraficantes. Ele teme pela morte de pelo menos  13 grupos indígenas isolados, conforme dados da Funai, e de outros 8 grupos dos quais tem informação."Temo que esses povos sejam extintos, sem que os senhores venham a conhecê-los". Concluiu se emocionante testemunho denúncia " Apenas queremos a dignidade de ir e vi e viver. Queremos a terra para viver dignamente.

Na segunda parte do ato foi lançada a campanha, articulada pela Associação dos Juízes pela Democracia - AJD e pelo Cimi, "Em defesa da Causa Indígena".  A Campanha www.causaindigena.org.br  busca amplo apoio aos direitos dos povos indígenas, em especial pela terra e vida dos Kaiowá Guarani e contra a PEC 215, que é um dos projetos de lei que visa tirar os direitos indígenas garantidos pela Constituição e legislação internacional.

Egon Heck

Povo Guarani Grande Povo, Cimi 40 anos

www.egonheck.blogspot.com.br






Lançamento Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas 2011

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Caos na Educação Escolar Indígena - apuração(punição) urgente
Escolas caindo, professores indígenas sendo demitidos em massa, fechamento de escolas em aldeias, desvio dos recursos da educação indígena que vão para ralos nas prefeituras e  secretarias de educação de estados, cooptação de professores, o mato tomando conta de escolas, escolas transformadas em carcaças, deterioradas sem serem concluídas, educação escolar indígena em situação caótica,Conselheiros distritais funcionários públicos sem compromisso com  a comunidade, saque dos recursos, nepotismo, descaso, abandono, criminalização dos saberes indígenas, chantagem para com os professores indígenas...Todas essas expressões relatadas na oficina  sobre educação escolar indígena realizado no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia neste início de junho. Participaram membros de todo país. No mesmo sentido foram as denúncias levadas ao MEC por delegações indígenas que estiveram em Brasília ultimamente.
Uma delegação de representantes de 6 povos do Acre, trouxeram denúncias ao MEC a calamitosa situação das escolas, mostrando, inclusive uma sala de aula em que os alunos estavam de guarda chuva para não se molharem. Além disso as comunidades mais distantes sequer escola tem.
Com essas denúncias, tanto as delegações indígenas quanto os participantes da oficina sobre a educação escolar indígena, pedem urgente apuração dessa grave situação, e que se chegue à punição dos responsáveis.

Presidente Dilma assina
Quando a presidente Dilma, por ocasião da Rio+ 20 estiver assinando o Projeto de Resolução das Diretrizes Curriculares para a Educação Escolar Indígena,  estará colocando mais um remendo na caótica situação do ensino nas terras indígenas, realizado através das 2.819 escolas indígenas existentes entre os 240 povos indígenas no Brasil.
Todo esforço empreendido pelo Ministério da Educação para construir uma educação diferenciada, específica e de qualidade para os povos indígenas será em vão caso não se construir um sistema de educação escolar que tenha autonomia e efetiva participação das comunidades indígenas em todos os níveis.
De pouco adianta o esforço de alguns que se esmeram em construir belos castelos de leis, que na prática esbarram nas estruturas de poder e interesses contrários ao reconhecimento dos povos indígenas. Ou ainda a  imposição de modelos, como o dos distritos etnoeducacionais sem a devida participação do movimento indígena.

Egon Heck
Cimi 40 anos , Brasília 12 de junho de 2012

sábado, 9 de junho de 2012

Os Enawene Nawe - o que a globo não disse



Numa produção milionária, com belíssimas imagens, a emissora global levou ao ar, logo depois do dia mundial do meio ambiente, e no ambiente da Rio+20, o programa com a reportagem sobre os  Enawene Nawe. No centro de formação Vicente Cañas, um grupo de missionários do Cimi assistimos o programa. Parte deles está realizando um encontro sobre os mais de 70 grupos indígenas em situação de isolamento voluntário (os "isolados") que fogem do contato de morte, das violências e das doenças.
Eles  tem acompanhado a caminhada dos membros do Cimi junto a grupos contatados  a partir da década de setenta, como  foi o caso dos Enawene Nawe , Myky e Suruwahá. Conforme o missionário Francisco Loebens, que participou dos primeiros contatos com os Suruwsahá "O governo procura insensibilizar os grupos isolados até aprovar suas grandes obras, como aconteceu com a construção das hidrelétricas de Girau e Santo Antonio, no rio Madeira.  Outra situação acintosa é a dos Awá Guajá, no Maranhão. Quase duas centenas de serrarias atuam dentro da terra desse povos, com impactos de violências e ameaças de extermínio do grupo, sob a omissão dos governantes, em todos os níveis." A entidade Survaivil Internacional está realizando uma ampla campanha de denúncia dessa situação exigindo providências urgentes para evitar o genocídio desse povo.
Não poderíamos deixar de manifestar nossa admiração pela realidade tão rica em cultura, símbolos, arte, sabedoria, que boa parte de brasileiros agora conhece. É sem dúvida uma contribuição para a humanidade, e principalmente aos governantes cegados pelo sistema da acumulação, destruição da natureza, mercantilizarão da vida e consumismo absurdo.
Ficam no ar o que não foi ao ar ou foi filtrado e omitido. Questões como a grande pressão e invasão das madeireiras da região, que criminosamente tem retirado madeira do território desse povo.
Quando, como secretário do Cimi, com o coordenador regional Mato Grosso e outro missionário fomos, em maio de 1987, fazer uma Visita ao companheiro Vicente Cañas e aos Enenawe, encontramos o corpo de Vicente, mumificado, com sinal de perfurações e afundamento craniano. Já se passavam 40 dias de seu cruel assassinato. O seu silêncio era por seus amigos interpretado como participação no ritual da pesca, que se desenvolve durante meses. O que mais indigna é a impunidade que paira até hoje . Um julgamento  de tres dos acusados de participação no assassinato acabou acontecendo em Cuiabá, depois de 20 anos,, sem condenação dos acusados.
Os Enawene denunciaram a preocupante e humilhante  diminuição dos peixes em função da construção de dezenas de pequenas hidrelétricas no curso do rio Juruena. Além disso o governo, por ocasião da definição dos limites do território desse povo, deixou de fora um dos mais importantes rios, o Rio Preto. Porque até hoje não se reviu essa grave violação aos direitos dos Enawene?
Egon Heck
Cimi 40 anos, Brasília 9 de junho de 2012

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Isso é um matadouro

Chorando, com o filinho no colo, a mãe angustiada pela piora gradativa do filho, e não conseguir nenhuma providência por parte do hospital, exclamava, com o coração partido em tom de indignação e revolta “Isso aqui é um matadouro, um matadouro”. Alguns funcionários do hospital particular e alguns pacientes procuravam consolar a mulher, recomendando que levasse imediatamente a outro hospital, para que a criança não viesse a óbito.
Quem mais insistiu e fez coro com a mãe aflita, foi uma outra mãe que um pouco antes havia trazido ao hospital um filho, jovem, com muitas dores. Ele ficou com uma irmã enquanto a mãe deu uma saída, aguardando o atendimento. Após a consulta os funcionários do hospital informaram que não poderiam fazer a medicação indicada antes que fossem pagos os remédios. Não demorou e a mãe chegou bufando, agitando a carteira, gritava: estão pensando que não tenho dinheiro. Está aqui, vários cartões para pagar essa porcaria. Seus filhos..., aqui está o dinheiro, vão agora medicar meu filho. O que estão esperando. Nós cumprimos ordens se defendeu a enfermeira, enquanto a mãe exigia falar com a direção.  Aos gritos foi hospital a dentro. O rapaz foi medicado.
Tudo isso se passou num hospital privado da periferia de Brasília. Quando a saúde se transforma  em mercadoria e o hospital em negócio, o quadro presenciado tende ser  rotineiro. Apesar de recentemente ter sido aprovado uma lei que garante o atendimento, sem pagamento prévio, não será fácil garantir os direitos de algo de mais sagrado, que é a atenção à saúde.
Os hospitais públicos, muitas vezes, se transformaram em sumidouro de recursos públicos, antro de corrupção. E os SUS, fruto de tantos debates da sociedade, esforços de profissionais honestos, abnegados funcionários, parece também estar à deriva. Aliás no sistema capitalista e democracia das multinacionais, do qual o Estado se torna um refém e um útil instrumento de lucros e acumulação,  pouco ou quase nada se pode esperar. Resta-nos o controle social. Mas que controle? Sou candidato compulsório do SUS. No SUS-tô, sem me assustar tenho  que enfrentar essa realidade. Haverá mudanças? Quem sabe que aposentado tenha pelo menos algumas conquistas, não de mérito, mas da idade.
Faço esses comentários pois acompanhei os companheiros indígenas do sul do país, na sua homérica  briga e exigências com relação à calamitosa situação da saúde indígena, em todas as regiões do país.
O Cimi está defendendo a imediata  realização da V Conferência Nacional de Saúde Indígena, como única forma de superar essa trágica situação da saúde indígena.
Egon Heck – www.egonheck.blogspot.com.br
Cimi 40 anos, 3 de junho de 2012

sábado, 2 de junho de 2012

Índios do sul: recado dado


Os índios do chimarrão, do Rio Grande do sul e Santa Catarina, se bolearam pras bandas de Brasília com o coração  quente e a mente afiada, pra dar uns pealos  em quem necessário fosse, pois seus direitos, desrespeitados, deviam ser devidamente recuperados. Traziam uma baita raiva pelas recentes perdas de lideranças e crianças sob a  imobilidade e olhar displicente de quem da saúde deveria cuidar.
 Não queriam continuar com o sentimento de estarem no ministério da morte, ao invés da saúde,  pois até caixão para enterrar os mortos estava faltando.  Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) era sinônimo de último ai, da desatenção à saúde de suas comunidades. Depois de muito barulho e fala forte, conseguiram se reunir com o Ministro da Saúde, duas vezes, o obter dele quatro páginas de compromissos devidamente assinados pelas autoridades e lideranças presentes. Pode não ser a salvação para o falido sistema de saúde, mas é um  bom começo para construção de um sistema que funcione.
Mas a briga não era apenas aí. Ao Ministro da Justiça também  quiseram deixar o recado claro – não fique com enrolação com as nossas terras. Demarcação já. Cobre, senhor ministro, da presidente Dilma a homologação das terras demarcadas. O ministro de Minas e Energia, não tem patavina a fazer nessa questão!
Também estiveram no Congresso. Ali foram tranqüilizados, de que a PEC 215 ficará dormindo. Porém já ressabiados  com tanta enganação, pro via das dúvidas, deram-se por satisfeitos, no momento. Mas com a advertência – se tentarem aprovar, vai ter muito entrevero,  que nem briga de facão no escuro.
Na Funai quiseram ver tintim por tintim a situação de cada terra não demarcada e qual o tempo ainda vai levar para tudo estar resolvido.
Também  estiveram com dois ministros do Supremo Tribunal Federal, para conversar sobre a situação de duas terras indígenas da região e que precisam ser julgadas para concluir os procedimentos de demarcação.
Bom barbaridade
Apesar de toda essa maratona ainda sobrou um tempinho para jogar um futebol. Foi para oxigenar as idéias e desenferrujar o corpo cansado pelas quase 40 horas de viagem .
Numa rápida avaliação,  ressaltaram alguns aspectos importantes, vitórias suadas, ou ao menos compromissos que podem mais claramente ser cobrados.  “Das várias vindas aqui para Brasília  essa foi a que melhores resultados obtivemos”, destacou das lideranças. Destacaram o compromisso de todos e que certamente o espírito daqueles guerreiros que já partiram, estiveram presentes nessa mobilização, dando força e sabedoria nas horas mais difíceis. Também foi lembrado a importância da presença de várias lideranças jovens, “pois nois não sabemos quanto tempo ainda vamos ficar”, destacou o veterano Augusto, que já está na luta desde a década de setenta. Salientaram também o fato de estarem os três povos ali unidos na luta – Kaingang, Guarai Mbyá e Charrua. Além disso estavam em sintonia com suas comunidades que também fizeram movimentos, assim como estavam unidos à luta dos povos indígenas de todo o país.
Egon Heck
Cimi 40 anos – WWW.egonheck.blogspot.com.br
Brasilia,  1 de junho de 2012