ATL 2017

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domingo, 11 de agosto de 2013

Kaiowá Guarani -Manchas de Vergonha


 

A Anistia Internacional vem acompanhando com preocupação a realidade dos povos indígenas no Brasil e particularmente no Mato Grosso do Sul. Foi no intuito de ver e sentir a atual situação desses povos que uma delegação coordenada por Salil Shetty. Estiveram no acampamento da Teko'á wirixa (Xamã) Damiana, próximo a Dourados, na beira da BR 463. 

Uma "mancha de vergonha", conforme expressou o representante da Anistia. Ali onde a cana e a soja se encontram, onde casebres Kaiowá Guarani estão espremidos entre a cerca e o asfalto, talvez seja a mais contundente imagem da discriminação,   racismo e genocídio em curso contra comunidades desse povo.

A alta velocidade com que os veículos passam no local, sem nenhuma sinalização, fazendo frequentes vítimas, manchando de sangue asfalto e terra, é mais um trágico símbolo da violência estrutural ali implantada. Somente neste acampamento ocorrem a morte de 5 pessoas da mesma família, por atropelamento.

A delegação acompanhada de várias lideranças indígenas da região e aliados, foi também, em silenciosa indignação, prestar sua homenagem às vítimas, especialmente crianças, mortas nos últimos anos, sem que até hoje nada tenha sido feito para punir responsáveis ou evitar a continuidade da tragédia. As cruzes na beira de um riacho, num resto de mata, tem que ser colocadas e visitadas à escondida, pois os donos do agronegócio na região querem impedir a todo custo o sepultamento das vítimas neste  local. E narra a Xamã Damiana que viu o corpo de sua tia, ser arrancado por uma escavadeira a mando dos mesmo.

Não é apenas mais uma delegação a constatar a violência, contra os direitos humanos e étnicos de uma comunidade Kaiowá Guarani, é mais um grito de alerta internacional contra as "manchas de vergonha" espalhadas  pelo Mato Grosso do Sul.

Dia Mundial dos Povos Indígenas

Por ocasião do dia mundial dos povos indígenas instituído pela ONU em dezembro de 1994, houve inúmeras manifestações, denúncias e protestos pelo mundo afora.

A Coordenação Andina dos Povos Indígenas  (CAOI) divulgou uma carta na qual chamam atenção dos Estados nacionais e sociedade sobre o continuado desrespeito dos direitos dos povos indígenas, apesar de serem signatários de várias leis, normas e convenções que garantem o direito desses povos especialmente a seus território e recursos naturais, liberdade e paz.

Concluem se pronunciando "contra a perseguição judicial e todas as demais formas de criminalização do movimento indígena de Abya Yala como estratégia de intimidação aos líderes indígenas  e contra a liberdade de expressão e direito de protestar que os povos originários temos tido como única estratégia de visibilizarão de nossos direitos".

 Em Roraima em torno de 500 indígenas marcharam pelas ruas da capital Boa Vista,

protestando contra a violação de seus direitos, entregando documento em várias repartições públicas. No documento denunciam as diversas ações em curso  contra os direitos indígenas nos três poderes. Concluem conclamando "O  Estado de Roraima deve aprender e trabalhar com a realidade local e adequar o plano de desenvolvimento a partir dos direitos indígenas. Com nossa Marcha no dia  Internacional dos Povos Indígenas, chamamos atenção das nossas autoridades públicas para a grave situação dos direitos dos povos indígenas em Roraima para reverter esse quadro negativo, pela Justiça e Dignidade."

Mesa de diálogo ou de enrolação

Frustração. Esse foi novamente o sentimento entre os mais de 40 mil Kaiowa e Guarani no Mato Grosso do Sul. O governo, através de seus ministros havia prometido uma solução definitiva para a grave situação das terras indígenas desse povo e dos Terena. A reunião  que deveria definir a proposta foi protelada do dia 5 para o dia 7, sem qualquer proposta concreta de solução, além de uma saída de duvidosa execução, para a Terra Indígena Buriti, onde foi assassinado pela polícia a liderança Terena Oziel.

Os Kaiowá Guarani honraram sua palavra e não retornaram a nenhum território tradicional, originário, neste período. Já o governo, através da "mesa de diálogo" apenas gerou mais uma profunda decepção e total descrédito quanto às soluções infinitamente adiadas.

Com nosso grande profeta e poeta D. Pedro nos colocamos na sintonia da esperarnça e tranformação

Oração da causa indígena

Pai-Mãe da Terra e da Vida,
Deus Tupã de nossos pais e mães,
Venerado nas selvas e nos rios,
No silêncio da lua e no grito do sol:

Pelos altares e pelas vidas destruídas

Em teu nome, profanado,

Nesta nossa Abia Yala colonizada,

Te pedimos que fortaleças

A luta e a esperança dos povos indígenas

Na reconquista de suas terras,

Na vivência da prória cultura,

Na fruição da autonomia livre.

E dá-nos (a nós neocolonizaores)

Vergonha na cara e o amor no coração

Para respeitarmaos esses povos-raiz

E para comungar com eles em plural Eucaristia

Awere, Amém, Aleluia

(Dom Pedro Casaldáliga)

Pelos altares e pelas vidas destruídas
Em teu nome, profanado,
Nesta nossa Abia Yala colonizada,
Te pedimos que fortaleças
A luta e a esperança dos povos indígenas
Na reconquista de suas terras,
Na vivência da própria cultura,
Na fruição da autonomia livre.
E dá-nos (a nós, neocolonizadores)
Vergonha na cara e amor no coração
Para respeitarmos esses povos-raiz
E para comungar com eles em plural Eucaristia.
Awere, Amém, Aleluia!







                        Egon Heck

                        Povo Guarani Grande Povo

                        Cimi, Brasília, 11 de agosto de 2013