Antes do dia amanhecer, uma animada conversa toma conta do
Centro de Formação onde estão reunidos mais de 400 representantes de 15 povos
indígenas, de vários quilombos e comunidades de pescadores artesanais e
quebradeiras de coco. São os povos e
comunidades tradicionais construindo uma esperançosa aliança na luta, pela
construção de um país mais justo e respeitoso com toda sua população.
Enquanto os galos começam a cantar e os pássaros dão o ar da
graça, com seus cantos maviosos, o coração de cada participante de mais esse
momento de luta vai se aquecendo para mais uma jornada de protestos e
enfrentamentos com os inimigos encastelados nos três poderes.
Ontem foi a vez de ocupar o Palácio do Planalto. Por mais de
três horas cantaram e fizeram manifestações e rituais para exigir do governo,
medidas imediatas e eficazes para impedir retrocessos e supressão de direitos
conquistados há décadas com muita luta, sofrimento e sangue derramado.
Conseguiram que uma delegação de 30 representantes dos
manifestantes, tivessem um encontro com cinco ministros e representantes de secretarias
do governo. Depois de quase uma hora e meia de conversas, denúncias e
exigências, as lideranças voltaram, decepcionadas e revoltadas: “Esse governo
só sabe enrolar. Só vamos conseguir mudar essa situação através de nossas lutas
na base”, desabafou uma das lideranças participantes da “mesa de diálogo”.
O país plural e
desigual
A união dos povos e comunidades tradicionais e originárias
vai sendo construída e se solidificando em torno das lutas concretas, em
especial pelos territórios. E é exatamente estes que estão sob a mira do
agronegócio, que busca subtrair as terras das populações do campo. Os três
poderes estão abarrotados de iniciativas, projetos de lei, de emendas
constitucionais, portarias, declarações, visando impedir ou subtrair direitos
constitucionais desses povos.
Projetos de destruição e morte, como o MATOPIBA, dentre
muitos, demonstram a clara intensão de continuidade e aprofundamento do neoliberalismo
e neodesenvolvimentismo, que necessariamente passa por maior concentração da
terra e do capital. “A guerra é uma só. Não temos medo da morte. Nosso lugar
não é na beira da estrada, mas é em nossos territórios. Em nossa aliança a
gente se fortifica como povo. Da Amazônia, aos pampas gaúchos, viemos para nos
unir e lutar”.
Na verdade, está se fazendo um caminho de volta de união e
solidariedade, principalmente entre os quilombolas e os povos indígenas. Quando
escravizados e oprimidos, os negros fugiam encontrando abrigo nas aldeias.
Reconstroem-se hoje os caminhos de luta conjunta pela garantia dos seus
direitos.
Essa pluralidade que torna o país tão belo e diverso,
infelizmente tem uma elite dominante empenhado em destruir essa beleza, fazendo
com que o Brasil continue sendo um dos países mais desiguais do planeta.
Ontem se visibilizou mais um desses momentos fortes de busca
da união e construção de uma aliança cada vez mais sólida. Emblematicamente
esse ato se deu na ocupação do Palácio do Planalto.
Egon Heck
Fotos: Laila/Cimi
23 de novembro de 2016