ATL 2017

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domingo, 6 de maio de 2018

Guerreiras nativas na luta pelos direitos indígenas


“Sem as mulheres nada existiria. Por isso estamos aqui para mostrar a importância da presença das mulheres indígena” (Tuyra Kayapó).
A plenária das mulheres realizada no início do 15º Acampamento Terra Livre, em Brasília, foi um dos momentos fortes dessa grande mobilização nacional do movimento indígena.


Esse primeiro encontro de mulheres indígenas no ATL, foi um espaço conquistado para demonstrar a importância da presença das mulheres na luta pelos direitos dos povos originários. “Esse espaço é nosso, uma construção com muitas mãos”, afirmaram várias das mulheres indígenas em suas manifestações. Algumas com filhos no colo chamavam atenção para a necessidade de estarem sempre mais unidas pela beleza de suas pinturas corporais e adornos. Essas guerreiras não se deixam dobrar pelo desânimo ou dureza de suas lutas diárias, na resistência pela vida.
Depoimento de Elisa Urbano Pankararu, por ocasião da Plenária das Mulheres Indígenas, no decorrer do 15º Acampamento Terra Livre:
“Estou atualmente como coordenadora do departamento de Mulheres Indígenas da APOIME (Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste Manas Gerais e Espírito Santo). Aprendi com as lideranças que conheço e conheci, que APOINME somos todos nós. Portanto, todos e todas, homens e mulheres, o que entendo que nós mulheres somos parte integrante do movimento indígena.


A história desse país, desde o golpe de 1.500, o primeiro golpe que configurou o nosso sofrimento até hoje: negação de direitos, violências de todas as naturezas, segregação por todos os lados. Enfim, um conjunto de elementos responsáveis pelo extermínio físico e cultural dos nossos povos. Portanto, refletir ações de tais naturezas é refletir ações do colonizador pois foi ele que violentou homens, mulheres e crianças. Por isso deixou de herança suas mazelas. A cultura da violência, do racismo, do machismo e da prepotência, que existe em todos os espaços, do privado ao público, até chegar em instâncias administrativas. Nesse caso, a negação de políticas públicas para as mulheres é fruto desse contexto.
Nossas mulheres são também guardiãs dos saberes tradicionais, conhecimentos sagrados de nossos antepassados. Também seres especiais. Ou seja, nosso protagonismo faz parte da natureza. Eis a importância de sermos APOMNE nas nossas aldeias, nas instâncias e espaços ser representatividade municipal, estadual e no cenário nacional”.
Séculos e décadas de resistência e luta nas trincheiras da dura sobrevivência sob as garras da invasão.
Unidas e organizadas somos fortes



Susana Xokleng lembrou a bela e dura luta que as mulheres indígenas travaram, especialmente na década de 1990, quando se organizaram por regiões e povos e em nível nacional criaram o CONAMI (Conselho Nacional de Mulheres Indígenas). Lembrou muitas guerreiras que ainda estão aqui e muitas já não mais estão em nosso meio. Fez uma lembrança especial a Rosana Kaingang que fez parte dessas inabaláveis guerreiras. Terminou sua fala com um grito de alerta: “Nossos inimigos estão querendo nos engolir. Mas se unirmos nossas forças, junto com nossas lideranças tradicionais vamos vencer essas batalhas”.
Adriana Tremembé lembrou que os povos indígenas serão sempre perseguidos, mas nunca vencidos. “A força dos encantados e a inquebrantável disposição de resistência e luta dos guerreiros e guerreiras nos dão a certeza da nossa vitória e garantia dos nossos direitos”.
Em vários momentos foi lembrada a situação caótica por que passa o país, cada vez pior desde o golpe, desafiador para os povos indígenas e todos os pobres.
Encerraram a plenária das mulheres indígenas conclamando: “Precisamos estar juntos na luta. Querem nos exterminar”.

Egon Heck   - fotos Laila/Cimi
Cimi Secretariado Nacional
Brasília, 04 de maio 2018.