ATL 2017

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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Somos todos Guarani Kaiowá


Uma intensa campanha brota e circula nas redes sociais e nas ruas. É o Brasil e o mundo se dando conta de um drama secular. Hoje a campanha ganhará importantes aliados  e visibilidade, com as propostas de adesão da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, da Comissão da Amazônia, dentre outras. Ganhará também espaço e visibilidade com uma entrevista coletiva on line no Conselho Nacional de Psicologia. E ganhará as ruas com uma caminhada na esplanada dos Ministérios.

Todos somos e seremos um pouco mais Guarani Kaiowá, cidadãos brasileiros e cidadãos do planeta terra, na medida em que nossa comoção indignada frente a violência institucionalizada e mortes anunciadas, se transformar em ações que exigem respeito aos direitos humanos e da natureza. Que beleza se dessa campanha emergir um  país um pouco mais justo, com o reconhecimento e demarcação das Terras Kaiowá Guarani e de todos os povos indígenas do país.

sessão histórica

O Planalto do poder não mais poderia continuar omisso vendo o furacão passar. A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, colocou na pauta da 213ª ordinária, a situação Kaiowá Guarani,com a presença de uma delegação indígena deste povo. Também estiveram presentes os membros da Comissão Especial Kaiowá Guarani, criada no âmbito desta secretaria do governo. Dentro os indígenas  estavam os líderes das comunidades em situação de violência e conflito: Lide Lopes, de Pyelito Kuê, Jenilton do tekohá Guayviry, filho do cacique Nisio Gomes, assassinado há quase um ano, Dionisio liderança de Arroio Korá, comunidade que esta em retomada de parte de suas terras já homologadas, e sob intensa pressão e violência de pistoleiros.

Outras lideranças expressivas do movimento. Lindomar, liderança do povo Terena, relatou a grave situação do  povo kadiweu  do Mato Grosso do Sul, contra os quais também pesa ação de despejo, embora seja uma terra indígena já demarcada, homologada e registrada. É uma insegurança jurídica absurda, pois se isso acontece com as terras regularizadas, imagina o que não poderá suceder às demais terras indígenas. Tudo isso tem sido estimulado pela portaria 303 da AGU. Nos próximos dias está previsto o julgamento, no STF, da petição que poderá por fim a essa situação. Ressaltou que a decisão da 3ª Região da Justiça Federal, tomou decisão favorável  à permanência dos índios de Pyelito Kuê, mas de forma vergonhosa.' Como duzentos índios vão sobreviver em um hectare de terra?"

A chegada do Ministro da Justiça e da delegação Kaiowá Guarani foram aplaudidas de pé. A imprensa estava ali postada com suas ferramentas, ávidos de novidades.

A Ministra dos Direitos Humanos ressaltou a importância que os povos indígenas tem para o Brasil e em consequência também para o governo, razão pela qual essa secretaria não poderia deixar de promover essa reunião de cooperação e trabalho sobre essa causa. O Ministro da  Justiça se esmerou em anunciar as medidas concretas que estavam sendo tomadas pelo governo: empenho para a cassação da liminar, cujo resultado anunciou efusivamente logo depois, reforço do policiamento com a presença de maiores contingentes da Polícia Federal e Força Nacional na região e medidas para agilização dos processos de demarcação das terras indígenas na região do Mato Grosso do Sul. Afirmou que dentro de 30 dias estaria sendo publicado o relatório da terra indígen Pyelito Kuê. Disse ser vontade expressa da presidente Dilma, que se cumpra a Constituição, e que ordenava que fossem tomadas todas as medidas cabíveis para que isso aconteça com relação as terras Kaiowá Guarani.

O Dr. Eugenio Aragão, que preside a Comissão Especial Kaiowá Guarani, lamentou que o  governo só age quando acontecem catástrofes, quando se chega à beira do abismo. Lembrou que apesar de 91% das terras indígenas estarem já demarcadas, o que sobrou são as áreas mais difíceis “são carne de pescoço”! Nessas regiões, em especial, as populações indígenas continuam sendo vistas como estorvo e entrave para o progresso.  Ensejou que seria o momento de avaliar os erros do governo no tocante à regularização das terras indígenas. Disse ser urgente a solução da questão fundiária, caso contrário se continuará alimentando o genocídio, o ódio a raiva  o rancor contra esse povo indígena.

Marta Azevedo, presidente da Funai, de forma emocionada, e por vezes falando em Guarani, reafirmou seu compromisso com esse povo, dizendo que aceitou a presidência do órgão como forma de contribuir  diretamente com a conquista dos direitos dos Kaiowá Guarani. Admitiu que são enormes as dificuldades para fazer avançar os processos de demarcação, mas que tem conseguido alguns compromissos, como o dos antropólogos dos 6 Grupos de Trabalho, que prometeram  concluir e entregar os relatórios até o final do ano.

Passos contra o genocídio

A delegação Kaiowá Guarani em Brasília, teve uma intensa agenda de conversações, debates, e reuniões com órgãos de Direitos Humanos, Ministério Público e Supremo Tribunal Federal. Na avaliação das lideranças o caminho é este. Continuarão sua luta na volta a seus tekohá, e estarão em Brasília, nas mobilizações por esse país afora, para somar forças e sensibilizar a sociedade brasileira e mundial sobre o genocídio que está em curso, com inúmeras vidas ceifadas e uma violência institucionalizada.

Hoje irão participar de coletivas de imprensa, manifestações públicas, participação em eventos na Câmara dos deputados. Amanhã haverá uma audiência pública, convocada pela Comissão de Direitos Humanos do Senado.

Por todo o país aumentam as mobilizações  contra o genocídio Guarani Kaiowá e pelos direitos dos povos indígenas. Já estão agendadas  atos públicos em quase duas dezenas de cidades brasileiras, especialmente as capitais de Estados.

Numa reunião no Centro de Defesa dos Direitos Humanos, na Cãmara dos Deputados, presidida pela deputada Erica Kokai, ficou claro a importância de acentuar essa campanha de indignação e comoção nacional, a fim de chegar à coordenação de algumas ações concretas que levem ao reconhecimento dos direitos desse povo e estanque as violências, injustiças e genocídio em curso.

 Egon Heck e Laila Menezes

Povo Guarani Grande Povo

Cimi 40 anos, ultimo dia de outubro de 2012

domingo, 28 de outubro de 2012

Para onde vamos?


O abismo está logo em frente. O pé está no acelerador. Programas de aceleração. Projetos sem limites e sem controle.  Vidas ameaçadas. Vidas esmagadas. Vidas sem vida. Para o poder econômico dominante, isso tudo não passa de um alarmismo paralisante. Avante nobre portador do estandarte da morte. Tua ganância põem em risco a vida na terra. Ou melhor, conforme L. Boff, vão-se os humanos, a vida do planeta fica.

Para Luiz Krieger, presidente da União Internacional para Conservação da Natureza, integrada por mais de cem países, afirma que se não estancarmos o consumismo, a exploração predatória, as injustiças e a destruição, fatalmente estaremos caminhando para o abismo. Ele chama atenção para o memento delicado por que passa o nosso planeta, nossa casa comum a terra.

O VIII Simpósio Filosófico e teológico das Faculdades dos Jesuítas em Belo Horizonte, foi um desses momentos que cada um de nós precisa para sentir o pulsar da vida e da esperança mundial e planetária, apesar do ritmo frenético da destruição patrocinada pelo sistema capitalista em nossa casa comum, Gaia, o planeta Terra

Que estamos fazendo com a Terra que Deus nos confiou?.
Sob esse título muita água rolou, sob as diversas perspectivas.  O Simpósio tinha como "objetivo articular a teia de questões e saberes na perspectiva do humanismo cristão que apela para a consciência e responsabilidade em relação ao Planeta Terra". Pois cresce na humanidade a percepção de que o ser humanos é filho da Terra e responsável para que ela continue habitável.

No painel sobre a perspectiva dos povos indígenas, quilombolas e povos asiáticos, ficou evidenciada a violência sistêmica que está levando povos inteiros ao extermínio, e com eles a crescente destruição da natureza e portanto das possibilidades da continuidade da vida no planeta Terra. O representante do Cimi expos a criminosa negação das terras e portanto das condições de sobrevivência dos Kaiowá Guarani, no Mato Grosso do Sul, bem como outras realidades indígenas no país e no mundo. Ao mesmo tempo chamou atenção para os importantes avanços e contribuições dos povos indígenas na efetivação de novos paradigmas civilizatórios.

O professor Zeljco, da Unicamp, disse, ao se referir ao capitalismo voraz e devastador, "Que progresso é esse? E concluiu pela urgente necessidade de unirmos forças dos poetas, lutadores, dda vida,do sagrado, para impedir um desastre ainda maior. "Os poetas não fazem bombas", concluiu.

Povo Guarani Grande Povo

Cimi 40 anos, final de outubro de 2012

sábado, 20 de outubro de 2012

ATO CONTRA O GENOCIDIO


Ato contra o genocídio Kaiowá Guarani, em Brasília


Sol de rachar logo após o meio dia. A esplanada dos ministérios amanheceu com cinco mil cruzes plantadas no coração do poder. Cinco mil vidas indígenas ceifadas, simbolizando o genocídio em curso e as décadas e séculos de decretos de extermínio e mortes planejadas. Cenário tétrico, que deveria comover os responsáveis pelos três poderes, em última instância pelo silencioso e continuado genocídio do povo Kaiowá Guarani do Mato Grosso do Sul.

Eliseu e Rose Kaiowá Guarani caminham por entre as cruzes como se estivessem caminhando entre cinco séculos de dominação, perseguições, invasões, expulsões e mortes. Seguram faixas que denunciam o genocídio desse povo e clamam por solidariedade "Salve kaiowá Guarani" , "Em defesa do povo e das terras dos Kaiowá Guarani". Falam da violência que seu povo sofre nos dias atuais, quando várias lideranças foram assassinadas e outras estão seriamente ameaçadas pelo poder dos fazendeiros e do agronegócio.

http://www.youtube.com/watch?v=SnVqafGCE6c&feature=youtu.be(veja video)

Na medida em que o tempo foi passando mais e mais pessoas, quase todas vestidas de preto, como gesto de luto e protesto. Nas camisetas o clamor contra o terrorismo dos poderes contra a vida e os direitos dos Kaiowá Guarani e demais povos indígenas do país ameaçados em perder direitos conquistados na Constituição e consagrados na legislação internacional. Existe uma verdadeira guerra contra as terras indígenas e o saque dos recursos naturais.

Imprensa e aliados foram se juntando à manifestação. Entidades de Direitos Humanos, indigenistas, parlamentares de plantão, em tempo de Congresso vazio. Até a veterana jornalista, que desde a década de setenta vem denunciando as violações dos direitos indígenas se fez presente. Eliana Lucena, foi e continua sendo uma aliada dos povos indígenas em nosso país, há mais de 40 anos.

Dentre os articuladores  das ações estão o Conselho Federal de Psicologia,  Justiça Global, Plataforma de Direitos Humanos,Sociais,Culturais e Ambientais - DHSCA e o Conselho Indigenista Missionário.

Foi um grito forte da sociedade civil exigindo medidas imediatas e eficazes da parte dos três poderes para estancar o genocídio e garantir os direitos dos povos originários deste país. As falas foram neste sentido. Foram elencadas ações em curso para exigir do governo e do Estado brasileiro. Ações e denuncias na Organização dos Estados Americanos (OEA) e Organização das Nações Unidas (ONU). Por isso só com uma aliança ampla com a sociedade e a intensa mobilização dos povos indígenas poderá se dar um exitoso enfrentamento com os interessas anti-indígenas.

Dentre os participantes do ato vale destacar a presença solidária de D. Enemesio

, presidente da Comissão Pastoral da Terra, juntamente com outros representantes do órgãos de várias regiões do país.

O genocídio continua, mas também se consolidaram importantes alianças da causa e a esperança também avançou. A luta continua. A luta Kaiowá Guarani ganhou importante visibilidade. Os enfrentamentos vão se dar nos diversos espaços. As cruzes fincadas no coração dos poderes certamente trarão resultados. Os povos resistentes  à secular dominação são portadores de futuro e aliados de todos os marginalizados e empobrecidos deste país.

Enquanto isso as comunidades nas retomadas, nos acampamentos, nas aldeias, organizam a esperança, enfrentam os poderosos e lutam com as forças que lhes restam contra as políticas de morte e genocídio.

 

Egon Heck

Povo Guarani Grande Povo

Cimi 40 anos, 19 de outubro de 2012

 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Kaiowá Guarani, despejo é morte

Passou o primeiro turno das eleições. A greve da polícia federal terminou. Tudo pronto para executar os despejos dos índios no Mato Grosso do Sul.

            Os dos Kadiwéu,(município de Bodoquena) está anunciada para a próxima semana. A do Passo Piraju(,município de Dourados),também está na eminência do despejo. Pyelito Kuê/Mbarakay(município de Iguatemi) também está sob a ordem do despejo. Portanto mais violência, sofrimento e mortes estão anunciadas.

            Do Potrero Guasu(município de Paranhos) as lideranças comunicaram que seus barracos na retomada foram queimados essa noite.Apesar de insistente pedido para que a Força Nacional se faça presente no local em que estão acampados, dentro da terra já com portaria declaratório e parte fisicamente demarcada, até o momento nem ela, nem Funai, nem polícia federal estiveram na área para assegurar os direitos dessa comunidade indígena.

            Para os povos primeiros dessas terras, a terra é vida e despejo é morte. Mas parece que as forças da morte esperam mais uma vez prevalecer.
 Passo Piraju: luta pela vida , contra o etnocídio/genocídio

Conforme relatório de comissão da Aty Guasu à comunidade  à comunidade de Passo Piraju, esta "se encontra em estado de pânico, perplexa e desespero total". Relatam a importância da presença de alguns Ñanderu, lideres espirituais, para diminuir o desespero e medo e buscam indicar rumos diante da decisão do despejo, cujo prazo está previsto para amanhã. " Uma das decisões definitiva anunciada na reunião pela comunidade Passo Piraju é não sair do lugar, é resistir e morrer todos juntos. Esta decisão foi repetida, em coro, várias vezes pela comunidade.

Nós não vamos sair daqui! nós vamos morrer todos junto aqui!. Na beira da estrada não vamos voltar mais viver! por isso vamos morrer todos junto aqui mesmo!”. Ao falar essa frase várias mulheres e moças indígenas choram sem parar. “Parece que a Justiça do Brasil só que ver o sofrimento e morte dos índios na beira da estrada”. “Será que essa é justiça de verdade?”
. De fato, para todos nós Guarani e Kaiowá, esse tipo de decisão de despejo deferido pela Justiça é violência que gera miséria e morte/extermínio dos indígenas, por essa razão, nós comissão de lideranças da Aty Guasu pedimos a revogação imediata da ordem de despejo da comunidade de Passo Piraju-Dourados-MS. (Tekoha Passo Piraju, 16 de outubro de 2012. Comissão de lideranças da Aty Guasu)
 

Egon Heck - Povo Guarani Grande Povo - Cimi 40 anos, outubro de 2012

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Kaiowá Guarani - Decretos de extermínio


Estava trabalhando na memória histórica dos últimos 40 anos, na perspectiva da reedição do documento Y Juca Pirama - "O Índio aquele que deve morrer". Em dezembro de 1973 foi dado esse grito, por bispos e missionários, contra o genocídio indígena em curso pelos governos da ditadura militar.
Enquanto buscava reunir denúncias e violências, mortes e massacres de povos indígenas nestes 40 anos, quando vejo um email, "urgente", do Conselho da Aty Guasu Kaiowá Guarani.

Ao ler o teor do comunicado, fico estarrecido e me junto ao grito dos condenados- que país é esse?"
Diante do decreto de morte e extermínio surge a obstinada determinação dos povos de viver ou morrer coletivamente, conforme suas crenças, esperanças ou desespero. Esse grito certamente fará parte do manifesto "os povos indígenas, aqueles que devem viver", apesar e contra os decretos de extermínio.

Não podemos calar ou ficar inertes diante desse clamor da comunidade Kaiowá Guarani,  de Pyelito Kue/Mbarakay, no município de Iguatemi, Mato Grosso do Sul. Não se trata de um fato isolado, mas de excepcional gravidade, diante de uma decisão de morte coletiva. Continuaremos sendo desafiados por fatos semelhantes caso não se tome medidas urgentes de solução da questão da demarcação das terras indígenas desse povo. 

O grito Kaiowá Guarani

" Sabemos que seremos expulsas daqui da margem do rio pela justiça, porém não vamos sair da margem do rio. Como um povo nativo/indígena histórico, decidimos meramente em ser morto coletivamente aqui. Não temos outra opção,  esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS." Esse é o comunicado da comunidade indígena para o Governo e Justiça Federal.  "  

 
Nos matem e enterrem coletivamente, gritam das margens do rio Hovy

"Comemos comida uma vez por dia. Tudo isso passamos dia-a-dia para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay.

De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários os nossos avôs e avós, bisavôs e bisavós, ali estão o cemitérios de todos nossos antepassados. Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser morto e enterrado junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação/extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para  jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais. Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal, Assim, é para decretar a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e para enterrar-nos todos aqui. Visto que decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem morto e sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo de modo acelerado." (Carta da comunidade 8/10/20120) Segue em anexo a íntegra da carta.

 
Ao tomar ciência do teor da carta dessa comunidade, Eliseu Lopes,da Aty Guasu/APIB comentou " É, isso vai se repetir muitas vezes se o governo não demarcar logo as nossas terras. Quando os nossos líderes religiosos decidem retornar aos tekoha (terras tradicionais de nossas comunidades) vão mesmo e ninguém segura. Ele lamenta profundamente se chegar a esse ponto de desespero que poderá levar a muitas mortes.

  
Egon Heck

Povo Guarani Grande Povo

Cimi 40 anos, 10 de outubro de 2012

 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Passo Piraju, a um passo da cova


 

Querem decididamente a comunidade kaiowá Guarani, embaixo da terra, há sete palmos.  Conforme pedido do senhor Esmalte, confirmado pelo juiz de primeiro grau, já em 2004 " O MM. juiz de primeiro grau, então, determinou seja o cacique Carlitos de Oliveira advertido a não mais autorizar, incentivar ou permitir que os indígenas sob sua chefia ingressem na propriedade do autor e que a FUNAI providencie "a retirada dos índios da margem da propriedade do autor, assentando-os em local distante" (f. 159).

Quase uma década de tribulação, tormento e desassossego permanente. Talvez seja a comunidade Kaiowá Guarani da Terra Indígena Passo Piraju, emblemática de uma comunidade indígena sitiada, cercada de soja, cana e ódio. "Reduzidos sim, mas não vencidos", diziam comunidades indígenas da Amazônia, quando da Marcha e Conferência Indígena do ano 2000.

Neste período vi as lágrimas deslizando no rosto de Carlitos, ao narrar tudo que passou nas décadas de luta pela terra e vida de seu povo. Ele recebeu a visita de dezenas de personalidades e delegações de Direitos Humanos e aliados, do Brasil e do mundo. Narrou com a mesma dignidade e fidelidade os acontecimentos, desde a expulsão de seu pai e comunidade do Passo Piraju, da área onde hoje se encontram.

Apesar de doenças, mortes, tensões e conflitos, pressões e enganações de toda ordem, Carlitos e sua comunidade,enfrentaram todas essas adversidades com muita fé e convicção de que Tupã, Nhanderu fará um dia justiça para seu povo. Agora se encontra diante de uma nova ordem de despejo.

A pergunta crucial que fica é o que se quer de fato dos Kaiowá Guarani. Serão os sete palmos de terra, para consumar de vez o genocídio nunca estancado? Para os arautos dos decretos e

 

praticas de extermínio é muito mais importante ampliar as lavouras de soja, uma vez que na bolsa de valores a cotação do grão maldito está alto, bem acima da vida de qualquer indígena.

Dos 43 indígenas assassinados neste ano, conforme dados divulgados pelo Cimi, mais de 60% ocorreram no Mato Grosso do Sul, confirmando a triste estatística de campeão de violência contra os povos indígenas. Com certeza ações de reintegração de posse, além de ser um ato de violência em si, propiciam o desencadear de mais violências e mortes. No Estado recentemente três reintegrações de posse foram expedidas: Pueblito Kuê-Mbarakay (Iguatemi) Kadiwéu (Bodoquena) e agora Passo Piraju (Dourados)

Para Eliseu Lopes, representante da Aty Guasu na Articulação dos Povos Indígenas do Brasil- APIB, é inconcebível que se continue provocando mais violência ao invés de resolver o problema das terras indígenas de uma vez. Ele está participando de vários iniciativas dos Direitos Humanos "para que haja uma somatória de forças para impedir a continuação da violação dos direitos do nosso povos Kaiowá Guarani", afirma Eliseu. Ele está cobrando do governo e em especial da Funai, a urgente publicação dos relatórios de identificação de todas as terras indígenas no Mato Grosso do Sul. "A APIB continua exigindo a revogação da portaria 303 da AGU, que é uma das causadoras de violência.

Nesta semana foi instalada em Amambai um grupo de 20 integrantes da Força Nacional, para evitar a violência contra a população indígena em 12 municípios da fronteira com o Paraguai.Se espera uma ação eficaz, especialmente em áreas em que as lideranças estão ameaçadas de morte,como em Arroio Korá.

Comissão da Verdade Indígena

Até que enfim neste país se resolve começar a fazer justiça,ou ao menos dar visibilidade, às violências, crimes, torturas e mortes contra comunidades indígenas em todo o país, ocasionando milhares de mortes. Embora tardiamente, e possivelmente contra a vontade de setores das elites do país, à semelhança da Comissão Camponesa.

Para  o ex-secretário do Cimi, Saulo Feitosa a instauração de uma Comissão de Verdade Indígena, além de um valor simbólico muito grande, traz em seu bojo a possibilidade ( e necessidade) de uma reparação aos povos afetados.

Egydio Shwade e a Comissão da Verdade em Manaus estarão entregando, na próxima semana um relatório com mais de 200 documentos comprovando o massacre de mais de 2 mil Waimiri Atroari, por ocasião da construção da estrada BR 194 que liga  Manaus(AM) a Boa Vista (RR). A estrada foi construída durante a ditadura militar, nas décadas de 60 e 70.

Esse será um momento importante para esclarecer a morte de mais de 1.500 Yanomami, em decorrência da invasão de seu território, especialmente por garimpeiros e empresas mineradoras., na década de 80. Também será o momento de esclarecer os massacres dos Juma (Tapauá-AM), do massacre do paralelo 11, Cinta Larga, dentre muitos outros. Quem sabe se comece a reescrever a história fazendo justiça a esses povos.

 

Egon Heck -www.egonheck.blogspot.com.br

Povo Guarani Grande Povo

Cimi 40 anos, 9 de outubro de 2012


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Depois da eleição, o furacão da mineração em terras indígenas



Remover a terra, numa guerra desigual e insaciável, em busca do vil metal! Eis a nova batalha anunciada. As vítimas serão mais uma vez os povos indígenas, que  verão enormes máquinas adentrarem seus territórios, rasgarem o ventre da mãe terra e dela extraírem riquezas para saciar sua voracidade de acumulação de capital e poder.  Mineradoras do mundo inteiro estão com suas máquinas apostas, aguardando apenas o sinal verde da aprovação do projeto que regulamente a exploração mineral em terras indígenas. O relator da Comissão Especial criada na Câmara dos Deputados, Edio Lopes, já anunciou que seu relatório está pronto e estará sendo colocado em votação logo depois das eleições. " Pelas contas do relator, há quase 10 mil requerimentos de pesquisa de lavra, 150 pedidos de lavra e 10 títulos de lavra que incidem sobre terras indígenas " Autor do projeto de Lei é o senador Romero Jucá, de Roraima, que tem enormes expectativas na aprovação, pois parentes seus tem mineradoras naquele estado. O projeto 1610/96 tramita no Congresso há mais de 15 anos. Os povos indígenas e seus aliados já se pronunciaram inúmera vezes contrários à aprovação entendendo que essa questão deve ser apensada  ao Estatuto dos Povos Indígenas.

Em vários encontros os  indígenas tem se posicionado contrários à mineração em seus territórios.  Eles exigem que não apenas sejam consultados a respeito, mas que tenham poder de veto.

Os povos indígenas no Brasil sabem o que significa, em termos de impacto e destruição, a mineração nas terras indígenas.  Por ocasião da constituinte na década de oitenta os interesses minerais nacionais e mundiais tentaram inviabilizar os direitos indígenas na nova Constituição. Montaram uma campanha midiática contra os povos indígenas e seus aliados, como o Cimi, jamais vista na recente história do país.

Os povos indígenas na América latina sustentam uma luta secular contra o saque e destruição que a mineração vem promovendo em seus territórios. Na Bolívia, no Peru e Equador existe uma luta ferrenha contra a predatória e genocida exploração mineral em territórios indígenas, desde os Antes até a Amazônia.

A voracidade e truculência do poder mineral no mundo nunca se conformou com o dispositivo constitucional  que exige uma regulamentação especial para  a exploração mineral em terras indígenas. Em vários momentos tentaram a aprovação no Congresso desse projeto de lei. Aos sobrevivente caberá contar a desgraça anunciada.

Eleições e primavera

Para os povos indígenas as eleições são apenas mais um momento de tapas nas costas, promessas de benefícios imediatas, sorrisos e rostos farisaicamente simpáticos. Para alguns, dos mais de 200 candidatos indígenas a vereador, é também o momento de levar a reflexão política para dentro das aldeias, para mostrar as possibilidades e limites de participar desse ritual da democracia formal, representativa ( tão diferente da democracia comunitária participativa das aldeias!) É provável  que mais de trinta lideranças indígenas sejam aprovados no ritual das urnas e tenham quatro anos de mandato, no estranho e complicado ninho das câmaras dos vereadores. Boa sorte aos que  como Otoniel  Kaiowá Guarani, buscam a reeleição,  na estreita margem de luta pelos direitos de seu povo, especialmente à terra e os recursos naturais nelas existentes.

A primavera explode em beleza rara, no serrado em flor. A cagaita com suas minúsculas flores e folhas de cores variadas são de encher os olhos e regar o coração, numa infinita série maravilhosa de imagens gravadas em nossos atentos olhares. As flores do pequizeiro recebem inúmeras abelhas entre seus brancos filetes com bolinhas nas pontas. As árvores que há poucos dias espetavam o céu desnudas, agora colocam suas novas vestes para engalanar a primavera com seus verdes tons, e sons dos pássaros, das cigarras e inúmeros viventes encantados.

No embalo da primavera a vida é mais vida, a esperança galopa na beleza abundante da natureza que renasce em cada olhar atento e desabrocha em gratidão à mãe terra.

No dia da " pacificação"

Convite irrecusável. Colegas do Cimi em Florianópolis convidaram para falar da "Vivência com os Povos Indígenas", e juntamente com o Kaiowá Guarani Elizeu Lopes, debater a situação dos povos indígenas no Mato Grosso do Sul.  Não poderia deixar de falar sobre a trajetória de luta e compromisso com os povos indígenas, uma vez que foi com os Kaingang, Guarani e Xokleng que inicie a trajetória de 40 anos de aprendizado e luta com os habitantes primeiros desta terra. Eram quase 100 alunos indígenas de um curso de licenciatura na Universidade Federal de Santa Catarina.

Ao final da conversa os Xokleng pediram um tempo para apresentar algo sobre a data de 22 de setembro, que além do início da primavera, para eles tinha um significado especial. Faziam exatos 98 anos em que eles decidiram fazer contato pacífico com os brancos. É considerado o dia da "pacificação", ou seja, quando eles decidiram manter contato com a equipe de atração do Serviço de Proteção ao Índio- SPI. Assim como os Kaingang os Xokleng se mantiveram isolados e resistentes ao contato até o início do século 20. E a resistência deles foi a razão da criação do SPI, em 1910.

Egon Heck  -www.egonheck.blogspot.com.br  - Cimi 40 anos, inicio de primavera de 2012