ATL 2017

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segunda-feira, 21 de março de 2016

Povos e Comunidades tradicionais: violências, temores e caminhos


“Nossos líderes não são mortos, mas plantados, e nós somos os frutos, continuando a luta”, afirmou uma das lideranças indígenas presente no  “Encontro  de articulação das Pastorais e Povos do Campo”, realizado na semana passada no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia.  Vários depoimentos de outras lideranças expressaram os mesmos sentimentos. “Estamos rodeados de jagunços...vivemos ameaçados...a qualquer momento podemos ser mortos”.




Num momento de  profunda crise e incertezas, foi muito importante  refletir e traçar estratégias de luta para evitar retrocessos  nos direitos das comunidades e povos tradicionais, como os povos indígenas, quilombolas, pescadores, migrantes, dentre outros.

Ao analisar a conjuntura, a partir de cada segmento social e do conjunto das populações no campo,  percebeu-se a importância de  uma manifestação conjunta. No documento  foram expressos os temores e compromissos  dos membros das Pastorais do Campo e representantes dos povos e comunidades que vivem e lutam na terra e pela terra.  “não podemos permitir que as conquistas democráticas e que os direitos civis, políticos e sociais sejam mais uma vez afrontados pela forca da intolerância, do conservadorismo e da violência, física e/ou institucional...gerando um  clima de instabilidade, violência e medo”. (Carta Aberta e Defesa da Democracia Brasileira)

Apesar  das apreensões que vinham das ruas e dos corações de milhões de brasileiros, os trabalhos fluíram cm a serenidade e indignação necessárias,  para fazer avançar a construção de um novo projeto para o país, onde sejam respeitadas e valorizadas as diversidades culturais, as sabedorias seculares,  as formas de viver e conviver com a natureza e todas as formas de vida, com justiça social e dignidade.

Nesta caminhada são fundamentais os processos formativos de militantes e lutadores , animados e impulsionados por uma espiritualidade e mística que ajude a enfrentar  os interesses e poderes responsáveis por tanto sofrimento e violência.  Os povos e comunidades tradicionais tem sido permanentemente espoliados  de seus direitos de viver na e da terra, em paz e harmonia. Foram e continuam sendo pressionados e expulsos da terra pelo avanço do agronegócio e dos grandes projetos  de mineração, hidrelétricas rodovias, hidrovias e outros tantos projetos do grande capital.


Xô Matopiba


Um dos temas analisados foi o ameaçador Plano de Desenvolvimento Matopiba o qual se insere na lógica desenvolvimentista e que põem em risco o que resta do bioma Cerrado, pois é o carro chefe da política do agronegócio  implementado pela atual ministra do Agricultura, Katia Abreu. É considerada a última fronteira agrícola do país.  É neste bioma em que vivem mais de 20 milhões de pessoas, sendo uma das regiões de proporcionalmente  maior população vivendo no interior. Portanto toda essa população, e com maior intensidade as populações tradicionais, povos indígenas, quilombolas, pescadores, camponeses e todos os que vivem da terra estarão fatalmente impactados e sua sobrevivência no cerrado ameaçada.
Estudos mostram que “se toda essa devastação continuar no Cerrado, terá o fim o bioma e as principais fontes de água do Brasil e da América do Sul” (Manifesto dos Povos do Cerrado no Dia Mundial da Água”.  No mesmo documento os povos do cerrado exigem o “reconhecimento do Cerrado como Patrimônio Nacional, com aprovação da Lei 504/2010...é importante que o governo federal garanta a demarcação dos Territórios Indígenas, regularização e titulação das terras dos  Quilombolas, Geraizeiros, Retireiros, Ribeirinhos, Pescadores, Vazanteiros e o assentamento dos Sem Terra”.


O grito das águas

Foto Fernando Lopes – Utiariti - MT
 
Recentemente ouvi o clamor dramático de aldeias indígenas passando sede ou sendo obrigados a ingerir águas contaminadas pelas monoculturas do agronegócio. É cruel assistirmos cenas de sede num dos países de maior volume de água doce do planeta. O que parecia inimaginável até pouco tempo, já estamos presenciando.

“O Cerrado, berço das águas, não só está ameaçado, como tem sido assassinado dia após dia. E se ele for extinto levará consigo a água que chega às torneiras, usada para beber, banhar, cozinhar, molhar as plantações, dar de beber aos animais...” No manifesto dos Povos do Cerrado propõem que “a proteção das águas tinha que ser questão de segurança nacional, por que se o Cerrado for extinto, leva ao fim dos rios e dos reservatórios de água”(Altair Sales)

Tempos de mobilizar a esperança, articular sonhos, ampliar a união e alianças, indignar-se invocar nossos mártires e guerreiros para a grande luta pela Vida.

Egon Heck    fotos Laila/Cimi
Cimi, Secretariado Nacional
Brasilia, 21 de março de 2016