Estudantes universitários indígenas e
quilombolas na luta
Aprendendo e
construindo a união
Enquanto em torno de 300 estudantes universitários,
indígenas e quilombolas deixam o Centro de Formação Vicente Cañas, animados
pela histórica semana de mobilização e luta pelos seus direitos, em Brasília,
ficam as lições, certezas e desafios. A luta continua na certeza de que o passo
dado nesta semana será muito importante, não apenas para terem condições
objetivas de continuarem sua formação nas universidades, mas principalmente
para que seus povos não percam direitos constitucionais, mas que tenham
conquistas, unidos com os quilombolas e outras populações tradicionais. O
momento é de somar, construir juntos a união necessária para conquistar a tão
sonhada autonomia em seus territórios, na pluralidade de povos e culturas.
Na avaliação, no final da semana de mobilização e
incidências políticas em vários órgãos do Estado brasileiro, emoção, lágrimas e
compromisso. Dos mais de 300 estudantes indígenas e quilombolas de
universidades de todas as regiões do país, foi destacada a importância da união
promissora que vem se consolidando entre os povos indígenas e quilombolas. “Ajudamos
a construir mais uma página bonita e importante na luta pelos direitos dos
povos indígenas em nosso país. O que parecia apenas mais um sonho, aos poucos
vai se tornando realidade. Nós temos que
continuar a luta dos nossos antepassados. Eles nos deixaram um testemunho de
resistência, coragem e determinação. Se hoje estamos aqui é porque foi
derramado muito sangue e sofrimento em nossas aldeias”, ressaltou um dos
estudantes.
Era difícil imaginar, quando há quatro décadas se iniciou,
através das assembleias indígenas, um novo movimento indígena no Brasil,
momentos como os que estão sendo protagonizados pelos estudantes indígenas e
quilombolas, como acabamos de ver nessa semana em Brasília. Foi um momento
revelador da vitalidade e potencialidade das lutas dos povos indígenas e
quilombolas para não apenas evitar retrocessos como pretendem as elites no
poder, mas para contribuir com a sabedoria milenar na construção de sistemas de
Bem Viver para todos os brasileiros.
A experiência de passar horas em ritual na estrada, na
entrada do Palácio do Planalto, na Advocacia Geral da União, perceber o descaso
e desdém com que os representantes do Estado tratam os povos indígenas,
quilombolas e populações marginalizadas desse país, é uma experiência que cala
fundo na alma e não se aprende nas universidades.
A descolonização
necessária
Precisam não apenas chegar às universidades, mas nelas poder
permanecer e contribuir com a sabedoria de seus povos, lutar pela
descolonização desse espaço de saber e sabedoria. Os estudantes indígenas têm consciência
de que essa é uma tarefa difícil pois o ranço colonial está impregnado nas
estruturas das universidades onde ainda precisam enfrentar muitos preconceitos,
desprezo e racismo.
O colonialismo interno e o neocolonialismo impregnam as
relações de saber, poder e ser. Mudanças
profundas dessas estruturas só serão possíveis através de lutas de
transformação dos sistemas dominantes. A presença de indígenas e quilombolas
nas universidades poderá ser um desses espaços de transformação e superação do
sistema colonial.
“Diante a conjuntura de golpes nas políticas de inclusão,
dos ataques aos direitos indígenas e quilombolas arquitetados nos três poderes
do Estado brasileiro, permaneceremos vigilantes contra toda política que tende
a governar para os que são privilegiados há 518 anos e contra toda política
social”. (Nota Pública – Permanência já! Movimento Nacional dos Estudantes
Universitários Indígenas e Quilombolas).
Apesar dos mitos e grandes desafios que os povos indígenas e
quilombolas tem pela frente, a manifestação foi de felicidade pela contribuição
na luta. “Temos orgulho de estar na luta.
Ficaram sementes que farão crescer a nossa luta e nossa
união”.
A luta vai continuar, com maior união, com a força dos
encantados e dos que tombaram na resistência e luta pelos direitos.
Egon Heck
fotos Laila/Cimi
Cimi Secretariado
Brasília 25 de junho 2018