ATL 2017

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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

OPAN: meio século na luta pelos direitos indígenas




Dia de muito calor em Cuiabá, Mato Grosso.  Dia especial.  Momento de comemorar o meio século de existência da Operação Anchieta, posteriormente Operação Amazônia Nativa (desde 1987).  Além de ser a primeira entidade criada dentro do processo de surgimento de um novo indigenismo, no final da década de 1960 ela teve a mesma raiz e inspiração do Cimi, que seria criado quatro anos depois, por Egydio e Tomas, ambos jesuítas ligados à Missão Anchieta, em Diamantino, MT.
Momento histórico. Os idealizadores da entidade expuseram o contexto eclesial e social em que ousaram enfrentar conjunturas adversas para abrir um novo caminho de compromisso missionário, a partir de um novo e radical compromisso com os povos indígenas e as populações marginalizadas e oprimidas.

Essa rebelião que partiu do coração de cada um dos fundadores da OPAN, estava em sintonia e alimentada pela fé transformadora e necessidade de mudanças profundas. Como sentiam e vivenciavam essa realidade de dentro das estruturas, percebiam a necessidade de partir para outros caminhos, que não das missões tradicionais com estruturas de internatos. Os leigos seriam os que neste momento poderiam fazer a diferença, pois não tinham sobre si o peso das estruturas. Estariam mais leves e livres para um compromisso mais radical com os povos indígenas que estavam submetidos a um intenso processo de extermínio.

No dia 6 de fevereiro, a OPAN inicia a comemoração dos 50 anos de existência com a presença dos idealizadores e fundadores Egydio e Tomás e alguns dos primeiros voluntários que estavam atuando em projetos no norte do Mato Grosso e na Prelazia de Guajará-Mirim, em Rondônia.
Os fundadores da entidade expuseram os caminhos que os levaram a idealizar a entidade a partir da força e insatisfação presentes na juventude, submetida ao regime ditatorial militar e de uma Igreja que estava sendo impulsionada pelos ventos do Concílio Vaticano II, além de outros momentos fortes em nível de América Latina.

Tomas Lisboa expôs a histórica caminhada que resultou no desmonte a missão de Utiariti e o consequente deslocamento dos missionários para as aldeias. Também relatou seu batismo de fogo ao conviver por alguns meses com os Tapaiuna (beiços de pau), vítimas de mais uma ação criminosa do governo, que articulou o contato com esse povo, desencadeando a drástica redução de mais de 300 índios para uns 40 sobreviventes. E estes foram transferidos para o Parque do Xingu, onde aguardam até hoje seu retorno ao território original.

Egydio Schwade contou as peripécias enfrentadas ao procurar, em vários lugares do Brasil, voluntários que assumissem o desafio radical de conviver com os povos indígenas nas aldeias, num processo de encarnação, desde o aprender a língua do povo, até procurar ao máximo ser um deles. Foi nos seminários que ele obteve maior adesão à sua proposta. Lembrou que a OPAN no decorrer desse meio século de existência teve muitas mudanças e enfrentou muitos desafios. Porém, foi sem dúvida uma caminhada com muita dignidade e compromisso com os povos indígenas em nosso país.

OPAN e Cimi, uma mesma raiz e caminhos diversos


Houve uma sintonia e articulação muito intensa entre as duas entidades. Tanto isso é verdade que em determinados momentos, membros da OPAN passaram a trabalhar no Cimi e membros do Cimi eram também membros da OPAN. O primeiro secretário geral do Cimi foi Egydio que na ocasião era coordenador da OPAN. Nos dez primeiros anos, os missionários do Cimi faziam o curso de formação indigenista na OPAN.
O importante de toda essa história é que a causa indígena ganhou aliados de compromisso e confiança na luta por seus direitos e no enfrentamento das lutas contra seus inimigos.

Indígenas dão seu recado

A primeira mesa foi de representantes dos povos indígenas. Estes insistiram na importância de não apenas festejar, mas de aprofundar a aliança e solidariedade entre os povos originários para enfrentar com sabedoria, união e energia todas as adversidades que o atual governo pretende desencadear contra seus direitos.
As lideranças indígenas foram unânimes na avaliação da gravidade da situação com relação aos direitos dos povos indígenas. Esta situação exige uma permanente vigilância e mobilização para que não prevaleça o império da violência, da criminalização e retrocesso com relação aos direitos conquistados. Igualmente importante foi considerada a formação de quadros, de guerreiros, que façam o enfrentamento contra as forças adversas encasteladas no atual governo, com um discurso anti-indígena orquestrado pelo atual presidente.


Uma história de lutas e conquistas, solidariedade e alianças com os povos originários do Brasil.  Na abertura do evento Ivar, um dos históricos membros da entidade, fez referência às inúmeras ações que foram desenvolvidos nesses 50 anos. pela vida e direitos dos povos indígenas
Como Opanista e em seguida como membro do Cimi pude testemunhar e partilhar de inúmeras lutas, vitórias e derrotas dos povos indígenas em nosso país e outras regiões do continente americano

 
Egon Heck
Cimi Secretariado Nacional