ATL 2017

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segunda-feira, 25 de junho de 2018


Estudantes universitários indígenas e quilombolas na luta

Aprendendo e construindo a união


Enquanto em torno de 300 estudantes universitários, indígenas e quilombolas deixam o Centro de Formação Vicente Cañas, animados pela histórica semana de mobilização e luta pelos seus direitos, em Brasília, ficam as lições, certezas e desafios. A luta continua na certeza de que o passo dado nesta semana será muito importante, não apenas para terem condições objetivas de continuarem sua formação nas universidades, mas principalmente para que seus povos não percam direitos constitucionais, mas que tenham conquistas, unidos com os quilombolas e outras populações tradicionais. O momento é de somar, construir juntos a união necessária para conquistar a tão sonhada autonomia em seus territórios, na pluralidade de povos e culturas.

Na avaliação, no final da semana de mobilização e incidências políticas em vários órgãos do Estado brasileiro, emoção, lágrimas e compromisso. Dos mais de 300 estudantes indígenas e quilombolas de universidades de todas as regiões do país, foi destacada a importância da união promissora que vem se consolidando entre os povos indígenas e quilombolas. “Ajudamos a construir mais uma página bonita e importante na luta pelos direitos dos povos indígenas em nosso país. O que parecia apenas mais um sonho, aos poucos vai se tornando  realidade. Nós temos que continuar a luta dos nossos antepassados. Eles nos deixaram um testemunho de resistência, coragem e determinação. Se hoje estamos aqui é porque foi derramado muito sangue e sofrimento em nossas aldeias”, ressaltou um dos estudantes.
Era difícil imaginar, quando há quatro décadas se iniciou, através das assembleias indígenas, um novo movimento indígena no Brasil, momentos como os que estão sendo protagonizados pelos estudantes indígenas e quilombolas, como acabamos de ver nessa semana em Brasília. Foi um momento revelador da vitalidade e potencialidade das lutas dos povos indígenas e quilombolas para não apenas evitar retrocessos como pretendem as elites no poder, mas para contribuir com a sabedoria milenar na construção de sistemas de Bem Viver para todos os brasileiros.
A experiência de passar horas em ritual na estrada, na entrada do Palácio do Planalto, na Advocacia Geral da União, perceber o descaso e desdém com que os representantes do Estado tratam os povos indígenas, quilombolas e populações marginalizadas desse país, é uma experiência que cala fundo na alma e não se aprende nas universidades.


A descolonização necessária

Precisam não apenas chegar às universidades, mas nelas poder permanecer e contribuir com a sabedoria de seus povos, lutar pela descolonização desse espaço de saber e sabedoria. Os estudantes indígenas têm consciência de que essa é uma tarefa difícil pois o ranço colonial está impregnado nas estruturas das universidades onde ainda precisam enfrentar muitos preconceitos, desprezo e racismo.
O colonialismo interno e o neocolonialismo impregnam as relações de saber, poder e ser.  Mudanças profundas dessas estruturas só serão possíveis através de lutas de transformação dos sistemas dominantes. A presença de indígenas e quilombolas nas universidades poderá ser um desses espaços de transformação e superação do sistema colonial.


“Diante a conjuntura de golpes nas políticas de inclusão, dos ataques aos direitos indígenas e quilombolas arquitetados nos três poderes do Estado brasileiro, permaneceremos vigilantes contra toda política que tende a governar para os que são privilegiados há 518 anos e contra toda política social”. (Nota Pública – Permanência já! Movimento Nacional dos Estudantes Universitários Indígenas e Quilombolas).





Apesar dos mitos e grandes desafios que os povos indígenas e quilombolas tem pela frente, a manifestação foi de felicidade pela contribuição na luta. “Temos orgulho de estar na luta.
Ficaram sementes que farão crescer a nossa luta e nossa união”.

A luta vai continuar, com maior união, com a força dos encantados e dos que tombaram na resistência e luta pelos direitos.

Egon Heck          
fotos Laila/Cimi
Cimi Secretariado
Brasília 25 de junho 2018