ATL 2017

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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Nisio Vive



Na alegria  saltitante das crianças, na resistência resoluta  dos adultos, na dor permanente por não  poderem ter feito o sepultamento ritual, pois os criminosos mantém ocultado o corpo. Nisio vive nas árvores frondosas que acolhem e envolvem a esperança e os barracos, no vento, na brisa leve que acariciam os corpos guerreiros e nas borboletas coloridas que bailam permanentemente as margens do rio.  Nisio vive na continuidade da luta por sua terra tradicional, o tekoha Guaiviry.
Dois anos sem o riso e reza do cacique que fazia brotar a alegria em meio à maior caristia, de seu humilde barraco emergia a força e energia da resistência.
A recepção ritual conduzida pelas crianças nos enche de emoção. A alegria delas é contagiante. Por um sombreado caminho  adentram à mata até um local mais limpo onde duas velas acesas, lembram os dois anos do brutal assassinato. Naquele local, às 6,30 da manhã do dia 18 de novembro de 2011, tombava Nisio Gomes sob a balas assassinas de dezenas de pistoleiros. Para celebrar essa data o Conselho da Aty Guasu e representantes das comunidades que retornaram a  suas terras tradicionais reuniram-se em Guaiviry  para avaliar as diversas situações de luta pela terra, aprofundar a união entre as comunidades, traçar as estratégias para a garantia de seus direitos, cobrar  justiça prendendo  os assassinos  para que a impunidade não continue reinando neste estado.  Seus inimigos declararam  guerra. Será necessário muita reza e a força que vem dos deuses e dos ancestrais. Precisam mais do que nunca da solidariedade e apoio dos amigos e aliados em todo o mundo.
Yvy Katu e o fantasma do despejo
Quando vejo o  “intimem-se, cumpra-se” imediatamente vem à mente as imagens da violência do Estado. Batalhões de homens fortemente armados, com escudos, cães, cavalos e artefatos anti motim. Do outro lado descalços seres humanos armados com seus instrumentos de reza e sobrevivência, mbarakás, takuaras rituais, arcos e flechas e tacapes. Helicópteros fazendo voos rasantes. As crianças choram, os guerreiros sentem-se humilhados e agredidos pela prepotência, enquanto os Nhanderu e Nhandesi seguem  irredutíveis em suas rezas pela justiça e respeito a seus direitos a seu pedaço de chão. Imagens revoltantes, daquela manhã do dia 15 de dezembro de 2005 na terra indígena Nhahderu Marangatu. O Conselho da Aaty Guasu espera que cenas semelhantes não mais se repitam. Estão solidários com seus parentes da Yvy Katu, com os quais estarão diante de mais essa ameaça.
Amanhã , dia 20, se esgota o prazo. Os Kaiowá Guarani  esperam uma decisão da Justiça Federal,  3ª Região, que  confirme o direito inquestionável dessa terra já demarcada.  Esperam que não se perpetre mais essa vergonhosa violência contra esse povo.
 Daqui uns dias estarão celebrando os 30 anos do assassinato de Marçal de Souza Tupã’i. Em memória dele e de todos os que tombaram na luta pela terra Guarani nessas ultimas três décadas,  esperam que o governo cumpra sua obrigação de demarcar e garantir as terras com a máxima urgência
Impunidade e omissão
Mais uma vez cobraram energicamente ação urgente do governo federal e da justiça. Há quatro anos o professor Rolindo Vera  foi assassinado  e seu corpo continua desaparecido. Os familiares  angustiados, exigem providências. As lideranças denunciaram que o fazendeiro  Firmino Escobar voltou a trancar o portão de acesso ao acampamento, com cadeado, descumprindo decisão da justiça.
Manifestaram sua revolta pelo omissão do governo na publicação dos relatórios e demarcação das terras favorecendo a guerra contra eles.
Chatalin, após ocupar um pequeno espaço  próximo à Terra Indígena Dourados e do acampamento Nhu Verá, no dia de hoje afirmou “Não queremos guerra, queremos apenas a nossa terra para plantar e viver. Estávamos em um acampamento pequeno e passando fome. E daqui não vivamos sair mais” (Diário MS, 19/11/13)


Egon Heck, Povo Guarani Grande Povo, Cimi –Secretariado,  19 de novembro de 2013