É tempo de celebração. Tempo
de graça, de gratidão, de agradecimento ao Deus da Vida e aos povos indígenas
por esses 40 anos de caminhada, de crescimento, de doação e presença solidária
junto aos povos primeiros, originários desta terra.
Quando nos dirigimos a Nova Mamoré para nos encontrarmos, refletir e analisar a realidade, a partir da
memória perigosa de décadas de luta
contra os opressores, dominadores e invasores dos territórios indígenas,
ficamos abismados com o cenário de
destruição que vem sendo implantado com a construção das duas hidrelétricas –
Santo Antonio e Jirau. Repete-se o
macabro cenário das quatro décadas de destruição: mata matada, capim semeado,
implantando com a pata do boi a civilização desejada. Hoje mudam apenas os
projetos, porém a lógica perversa da
acumulação e destruição continua a mesma. E as principais vítimas são novamente
os povos indígenas, com seus territórios negados ou invadidos e
saqueados.
Celebrando o testemunho, sangue derramado e presença solidária
D. Benedito Araujo, bispo de
Guajará Mirim, presidiu a celebração na Igreja São Francisco de Nova
Mamoré. Igreja lotada. Pela primeira
vez mais de trinta indígenas Wari, que são desta região, estiveram nos primeiros
lugares da igreja. Tocaram sua flauta (hiruroi) e wakam (tambores). D. Bendito
pediu perdão a Deus pelas vezes que a igreja foi omissa ou conivente, pelas
vezes que os cristãos foram algozes e não irmãos solidários desses povos. Falou
dos grandes projetos que continuam sendo implantados sobre os cadáveres dos povos que ali viviam e que
continuam sendo impactados e desrespeitados em seus direitos e sua dignidade.
Também falou da
importância de celebrar os 40 anos do Cimi, que possibilitou uma presença missionária
profética,solidária,libertadora junto aos povos indígenas na região e em todo o país. Ao lembrar a
responsabi-lidade de todos os
cristãos pela ação missionária solidária e respeitosa com esses povos, pediu a
Deus que nos livre dos preconceitos, dos
conflitos, dos projetos de morte e de
toda sorte de males que trazem injustiça
e opressão.
Nós missionários do regional
Rondônia e participantes nesta XXVII assembleia também externamos nosso
sentimento de carinho e apoio solidário
a esses povos, dos quais tanto aprendemos e que infelizmente continuam
sendo tratados com descaso, preconceito ou racismo.
Rondônia que sonhamos
De povos felizes se
respeitando, convivendo e se enriquecendo com os valores, sabedorias e
conhecimentos partilhados. Com a
natureza respeitada, convivendo com a pluralidade da vida semeada por Deus e que
não deve ser destruída pela primazia do boi, da soja ou da cana. Essa Rondônia
queremos construir com os povos indígenas e todos aqueles que atingidos e
explorados pelos grandes projetos, com o
acelerador de morte e destruição, implantado pelo atual modelo de
desenvolvimento.
As constantes
ameaças e violência sofrida pelo povos indígenas e nos últimos meses tendo-se
intensificado contra o povo Kaxarari, localizados em Extrema – RO, que depois
de muitas ameaças por parte dos fazendeiros e madeireiros que ilegalmente invadem
seus territórios e não contentes com a ampliação do território, tem tomado
proporção perversa, com o recente assassinato anunciado de João Kaxarari, sem
que as FUNAI e Policia Federal e autoridades tomassem providencias para as
constantes ameaças de morte que os lideres deste povo vem sofrendo, mesmo sendo
notificados pelo povo, sobre as constantes ameaças de morte.
Nova Mamoré,
05 de Setembro de 2012.
Conselho
Indigenista Missionário - Regional Rondonia