ATL 2017

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quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Povo Krahô e os Jogos Mundiais Indígenas: “Estamos fora”






Enquanto busco entender um pouco melhor todo o processo em que está envolvido esse megaevento, vejo o reloginho no sítio eletrônico dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMI) marcar que faltam 38 dias, 22 horas, 26 minutos e 53 segundos para o início desse evento. No ofício 03/2015, encaminhado pelos 28 caciques do povo Krahô, do estado do Tocantins, encaminhado no dia 10 de setembro aos organizadores do Jogos, eles exigem que os “organizadores do evento retirem as imagens e o nome Krahô de qualquer meio de comunicação que sirva de promoção aos Jogos Mundiais Indígenas”.

Nas razões de sua decisão perguntam “Como podemos participar de um evento financiado por um governo que está promovendo o genocídio de nossos parentes Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul, e em várias outras regiões do país? Como podemos participar de um evento promovido pela  senadora Katia Abreu, uma das principais  responsáveis pelo avanço do movimento anti-indígena no nosso país?”

No mesmo documento os caciques Krahô denunciam a forma como é conduzido o processo dos JMI, que serve muito mais para promover sua própria imagem, do que efetivamente apoiar a causa indígena.

Em função desses procedimentos, os caciques  afirmam categoricamente que o povo Krahô não participará dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas.


Outras lideranças se manifestam
Em seu “Manifesto crítico sobre os jogos mundiais indígenas”, a liderança Antônio Apinajé afirma que “é por causa da luta pela terra que muitas lideranças indígenas estão sendo criminalizadas, presas,  espancadas ou assassinadas a mando de fazendeiros e políticos”.

Antonio Apinajé ainda faz várias perguntas que, certamente, devem estar martelando a consciência dos promotores desses Jogos. Chama atenção para a difícil e até dramática situação pela qual passam vários povos indígenas no país, em particular no Mato Grosso do Sul. Afirma que “a melhor atitude pela paz é também demarcar  e respeitar os territórios indígenas, que são sagrado para nossos povos e necessários para o equilíbrio e a sustentação do clima no planeta terra.”

No final do 1º dia da 21ª Assembleia Geral do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), com mais de 160 participantes de todo o país, foi feito o lançamento de várias publicações do Cimi e de entidades de apoio à causa indígena. Dentre as publicações está um folder que traz importantes elementos para entender quem  ganha e quem perde com a realização dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. Procura, principalmente, trazer elementos da conjuntura em que se realizarão os jogos.


Alguns problemas levantados pelos povos indígenas com relação a este mega evento dizem respeito aos custos. De acordo com a própria Secretaria Extraordinária dos Jogos Mundiais Indígenas, mais de R$ 100 milhões foram disponibilizados para a realização deste evento, enquanto o governo tem um orçamente pífio para a demarcação das terras e dos territórios tradicionais indígenas. Também fazem alusão à baixa participação dos povos indígenas do Brasil (dos 305 povos no Brasil, apenas 24 participarão; dos dez povos do estado de Tocantins, apenas três participarão); aos riscos da folclorização; à distorção  da realidade, no sentido de camuflar a verdadeira situação de extrema vulnerabilidade de diversos povos, assim como de tirar o foco da atual crise política e econômica; distorcer o significado profundo e sagrado dos rituais em seus contextos e propósitos originais, colocando-os em um ambiente de competição e comercialização.

Lindomar Terena, liderança  indígena do Mato Grosso do Sul, denuncia: “Estes jogos escondem a verdadeira face do governo no massacre dos povos indígenas, elevando a imagem governamental e de alguns indivíduos, enquanto continua negando aos povos o direito sagrado à terra, à cultura e ao modo de vida originário. Enquanto governo e aproveitadores sonham com uma 'FIFA indígena', os desmontes, suspensões e ataques aos nossos territórios demonstram que logo todas as terras indígenas não caberão nem ao menos no espaço de um campo de futebol.”


Egon Heck
Cimi Secretariado
Brasília, 16 de setembro de 2015