ATL 2017

ATL 2017

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Povos da resistência e da esperança seguem em luta




Nas asas da primavera chega o grito de socorro da Terra Indígena Ypo’i/Triunfo, na fronteira do Brasil com o Paraguai.  Da Amazônia, da terra indígena Vale do Javari, do alto rio Jandiatuba, na divisa do Brasil com o Peru, chega, envolta em brumas e nevoeiros, a notícia do massacre de mais de 10 índios flecheiros. O massacre é atribuído a garimpeiros que invadiram aquela região onde vivem mais de uma dezena de povos indígenas “isolados” (em situação de isolamento voluntário).



Do clamor das lideranças Kaiowá Guarani do Ypo’i/Triunfo, ressurge com vigor a memória do assassinato dos professores indígenas Genival e Rolindo Vera. O corpo de Rolindo até hoje não foi localizado. O mesmo acontece com relação ao corpo do cacique Nisio Gomes. Se nessas regiões totalmente devastadas do nosso país, as autoridades e a justiça não conseguem localizar os corpos, não fica difícil imaginar o que se passa no interior da floresta amazônica com os grupos isolados.  Parece muito cinismo e descaramento de uma sociedade que insiste em decretar a morte a seus povos originários. Não existem corpos, portanto a ação genocida vai ser enterrada na vala comum do esquecimento. Mais um massacre indígena ficará encoberto pela truculência do projeto colonizador que impiedosamente veio exterminando centenas de povos, milhões de pessoas originários destas terras.


De várias regiões do país chegam os gritos de socorro dos povos nativos deste país. A denúncia foi levada pelos povos indígenas do Brasil à ONU por diversas vezes.  Ainda neste mês de setembro, Voninho Kaiowá Guarani, denunciou na ONU a grave situação por que passa seu povo e a maioria dos povos indígenas do Brasil. A embaixadora do Brasil, nesta instância internacional tentou se apressar em desmentir tão escancarado cenário de violência e desrespeito aos direitos elementares dos povos indígenas do país.

A esperança que renasce na resistência diária e na profunda espiritualidade dos povos originários


 A procuradora Geral da República, Raquel Dodge, que há poucos dias tomou posse, tem demonstrado grande sensibilidade com a causa dos povos indígenas, meio ambiente, direitos humanos, populações tradicionais dentre outros.
“Além da questão indígena, o grupo montado por Raquel para atuar pelos direitos de minorias também definiu como prioridade fazer valer o cumprimento de tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário” (O Globo, 24/09/17).


A Aty Guasu das Mulheres Kaiowá (Aty Kuña) Guarani, no Mato Grosso do Sul, que contou com a presença e apoio de mulheres de outros povos e até mesmo representante da ONU, tem sido mais um marco na luta desses povos submetido a um processo de genocídio. No documento Final renovaram a decisão de resistir e lutar de forma permanente por seus direitos, especialmente a terra.




“Se o governo não concluir a demarcação de nossas terras, vamos continuar retomando nossos tekoha. Nós mesmo vamos demarcar as nossas terras”, ressalta Leila Rocha, liderança do tekoha Yvy Katu, localizado em Iguatemi (MS).
O bem viver e a construção de redes de cuidado
“Para tanto, propomos pensar sobre o que podem significar as redes de cuidado para cada uma e um dos participantes e suas organizações ou comunidades, e quais as estratégias de construção de processos de agregação, apoio mútuo, fortalecimento das comunidades, das autonomias, dos processos reivindicativos sobre o Estado, e a ampliação da compreensão do território, articulação entre diversos movimentos etc.” (Encontro Internacional sobre o Bem Viver, São Luís, Maranhão, início de agosto 2017). 

Além das partilhas de vida, lutas e experiências de resistência e insurgência foi realizado um expressivo intercâmbio com a comunidade quilombola de Santa Rosa dos Pretos, uma das inúmeras comunidades atingidas mortalmente pelo projeto Carajás.
Na atual conjuntura, alguns temas como autodefesa, autodemarcação dos territórios e autonomia se 
tornaram urgentes e vitais.




Representantes dos povos indígenas Munduruku do Pará e Gamela do Maranhão trouxeram cartas e documentos com suas exigências e reivindicações. Diante das ameaças de construção de hidrelétricas e de invasões, o movimento de mulheres Munduruku afirmou:
“Estamos olhando vocês. Não podem se esconder dos nossos olhos. Neste território vocês não vão entrar. Sabemos que o governo doente quer voltar e o governo podre quer ficar. Nenhum dos dois merece a confiança de nenhum povo. Em toda parte que vamos tem as armadilhas do governo. Nós mulheres sabemos que vai ter muita dificuldade, mas nossa força é nosso Movimento”.
Brasília, início da primavera 2017


Egon Heck


Cimi Secretariado