ATL 2017

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sexta-feira, 1 de julho de 2016

MATOPIBA É MORTE QUEREMOS A VIDA







Um forte vento  se uniu ás vozes, gritos e clamores contra o projeto de morte, o PDA  MATOPIBA( Plano de Desenvolvimento Agrícola)  no segundo dia da 3ª Assembleia dos Povos Indígenas de Goiás e Tocantins. Palmas- TO está sendo o palco desse histórico evento onde os povos originários se unem aos quilombolas, camponeses, acadêmicos, para juntos traçarem estratégias para o enfrentamento desse modelo de desenvolvimento, predador, destruidor, criminoso e genocida, que está sendo implantado com euforia e aval do governo e apoiado com recursos públicos.

“Nós não vamos deixar o MATOPIBA passar” exclama a liderança Kraho, Gercília “O Rio Vermelho está morrendo. Eu protejo o rio sagrado. Não vamos deixar roubar nossas terras e matar os rios e as matas. Falo  do que está dentro do meu coração, não sei falar bonito em português, mas quero dizer a vocês que o  MATOPIBA não vai vingar”

Antonio Apinajé destacou a gravidade do momento de sérias ameaças à vida e ao futuro das comunidades e aldeias “A gente fica atordoado, perturbado com esses projetos como o MATOPIBA. Estamos construindo união com os quilombolas, camponeses na defesa da Mãe Terra. Precisamos lutar juntos, fortalecer a cultura, nossas raízes para ter mais força no enfrentamento com esses poderosos”.

O secretário do Cimi, Cleber Buzatto,  chamou atenção para a agressividade com que os setores antiniindígenas estão  procurando desconstruir direitos e conquistas dos povos indígenas nas últimas décadas. “É preciso dar continuidade à mobilização permanente dos povos indígenas, ampliando suas alianças com as populações do campo”.

Rituais de vida e resistência

Ivo Poletto, que há décadas vem acompanhando e denunciando a destruição do cerrado lembrou que na verdade o MATOPIBA é a reedição de projetos como o PRODECER, implantado pelo ditador Geisel, em 1978, com a entrega de grande parte do cerrado a multinacionais japonesas. Agora vemos a mesma lógica se repetindo. “E uma loucura o que está sendo feito” e conclamou todos “seja profetas da Vida. Tenham amor e respeito sagrado pela terra. O cerrado diz seu não desesperado a esse desastre total Deem a vossa mensagem do Bem Viver”.


Para o procurador da República Felício Pontes, “o MATOPIBA é o projeto final de destruição do cerrado”. Destacou que a voracidade com que o atual modelo capitalista busca sugar os recursos naturais está baseada em quatro pilares: madeira, pecuária, monocultura e mineração” Esse modelo caminha celeremente  para o esgotamento deixando em seu caminho os rastros de morte e destruição.” Alertou para as gravíssimas consequências de semelhantes projetos, não apenas para o cerrado, mas com fortes impactos sobre praticamente  todos os biomas, em especial para a  Amazônia, que tem os berços de seus mananciais de água no bioma do cerrado. Destacou que é obrigação constitucional do Ministério Público a defesa das populações que vão sendo atingidas por esses projetos e sugeriu  ações e debates que deem visibilidade a esse grave situação e que se realize uma audiência pública em Brasília, sobre o MATOPIBA.  Mostrou com números como os governos vem destinando recursos públicos para promover a destruição. É contra esses monstros que temos que lutar.

O Procurador Alvaro Manzano, de Palmas, mostrou a continuidade do modelo desenvolvimentista gerando grave desagregação social nas populações do cerrado.

Alfredo Wagner professor da Universidade Federal do Amazonas,  mostrou o descalabro do momento atual, onde sequer existe uma definição clara sobre o lugar institucional para resolver a questão da demarcação das terras indígenas e quilombolas. E neste quadro caótico de desconstrução de direitos, o agronegócio avança incontrolavelmente. Mostrou com números o importante espaço de terras coletivas, garantidas ou reivindicadas, e que poderiam configurar uma  esperançosa garantia de vida de populações e da natureza. Mas que infelizmente, apesar das garantias legais e constitucionais, não estão seguras diante da voracidade do atual modelo de desenvolvimento. Todos os direitos estão ameaçados. “Estamos numa encruzilhada. Temos que admitir nossas fraquezas, contradições  e esfacelamentos. É preciso unir as forças e escolher um novo caminho. Estivemos imobilizados por muito tempo. É hora de  fazer os enfrentamentos locais, somar as resistências locais e ir somando forças.


Luta comum


Os debates mostraram que é urgente avançar na unificação das lutas. É preciso enfrentar sem medo.
Na parte da tarde foi feito uma importante passeata pelo centro da cidade, conclamando a população para se unir aos povos indígenas, quilombolas, populações e comunidades tradicionais, camponeses e todos os lutadores pela vida, para “defender nossos rios, nossa água, nossa casa comum.
Quase 500 cruzes simbolizando o longo processo de extermínio e destruição, foram fincadas numa das praças centrais da cidade. No folheto que foi distribuído  à população trazia importantes informações sobre as graves consequências de destruição da vida pelo atual modelo de desenvolvimento. “Vocês estão percebendo que o Rio Tocantins está morrendo? Ele está cada da mais estreito e está pedindo socorro. É pelo desmatamento que, em média, desaparecem 10 pequenos rios no Cerrado, por ano...
Território livres, florestas sagradas, fontes de águas puras! Vamos somar, unir forças na defesa da nossa Mãe Terra. Se a Casa  é Comum, a luta também é Comum.

O final da manifestação foi na Assembleia Legislativa, onde foi entregue um documento e um questionamento de projetos aprovados pelos deputados:” Queremos também dizer o nosso não ao projeto MATOPIBA  que com os correntões da morte, ameaça destruir  o cerrado  no qual apenas restam  menos de30% da vegetação nativa. Caso esse projeto for implementado, em poucos anos  não restará quase nada do cerrado e estaremos sujeitos a una catastrófica falta de água. E a que restar estará cada vez mais contaminada e escassa, pois as nascentes secarão e nossos rios serão mortos.”

Egon Heck
Cimi GOTO
Palmas,  junho de 2016