ATL 2017

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segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Semana de luta Guarani em Brasília



As rezas e os rezadores Nhanderu e Nhandessi


Na semana passada, Brasília tornou-se uma grande casa de reza (Oga Guasu). Por onde passou, a delegação de 45 Guarani Kaiowá e Nhandeva realizou seus rituais, rezas e danças. Impreterivelmente tinham que encerrar seu momento de espiritualidade, fazendo os gestos de expulsão dos maus espíritos. Só não podiam realizar as rezas mais fortes, com medo que Brasília poderia se esvaziar muito. Se todas as contas no exterior fossem revelas a debandada seria grande.

Conquistando aliados: a greve de fome e a demarcação da terra

Um dos momentos emocionantes, nessa semana de luta da delegação Guarani Kaiowá em Brasília, foi o encontro que tiveram com o grupo de lutadores sociais em greve de fome. Depois de inúmeros rituais falaram sobre o significado desse seu gesto de solidariedade. Os Nhanderu abençoaram e desejaram força nesse gesto supremo de por em risco suas vidas por uma causa tão magnânima e generosa.

Na carta que entregaram aos amigos em greve de fome, externaram as razões de sua esperança, nessa permanente guerra e luta que enfrenam: “Somos gratos pelo ato de sacrifício de vocês para que o povo brasileiro possa se alimentar de pão, mas também de justiça. Iremos rezar com toda nossa força para que fiquem bem e temos certeza que com nossa reza e com atos de coragem como o de vocês este país poderá ser melhor, mais democrático e mais justo com todos nós, em especial com os povos indígenas que são seus filhos primeiros. Todos estamos juntos e sabemos que a fome que passamos também conduz nossos pés para o mundo onde ninguém precisará passar fome. Deixamos aqui, junto com a benção de nossos rezadores, nosso abraço, nosso obrigado e nossa amizade enquanto Guarani e Kaiowá”.
Frei Sérgio, emocionado pela forte expressão dos rituais e palavras dos indígenas, disse: “Nós da esquerda, em especial do PT, temos muito que aprender com os povos indígenas”. E concluiu: “Enquanto não forem respeitados os direitos dos povos indígenas, não haverá verdadeira justiça em nosso país”.

O Estado brasileiro na contramão da história


No Dia Mundial dos Povos Indígenas, 9 de de agosto, a delegação Kaiowá Guarani participou com seus rituais e falas, de um memorável ato de protesto e debate sobre a situação dos povos indígenas no Brasil e no mundo.
Durante ato realizado no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília, organizações indígenas e aliados, destacaram avanços importantes registrados nas últimas décadas. Ao mesmo tempo denunciaram o lamentável processo de regressão verificado em vários países, dentre os quais se destaca o Brasil, que “é certamente um dos países que hoje mais violenta os direitos indígenas”.

Na Funai, a choradeira foi geral

Meteram a mão no orçamento, deixando-a pele e osso. Não liberaram grana. Deixaram-na agonizante. Mas seu presidente atual disse não se intimidar. Afirmou trabalhar incessantemente. E para ancorar suas afirmações, prometeu que com seus assessores deixaria pronto um minucioso documento com todas as informações da realidade de todas as terras indígenas Kaiowá Guarani, no Mato Grosso do Sul. Os índios até retardaram sua viagem de volta, mas não levaram o documento com as informações.

Entenda a AGU, quem puder


A Portaria 01 de 2017 é a anti-porta do genocídio dos povos indígenas. Além de impedir e inviabilizar a demarcação das terras indígenas, propõe a possibilidade de anular processos administrativos já em andamento ou mesmo conclusos. Porém, a ministra da AGU, Grace Mendonça, em sua retórica falaciosa continua afirmando que a portaria é para dar segurança jurídica para a demarcação das terras indígenas e mesmo agilizar os processos de demarcação. Será que a ministra plagiou a iniciativa do ministro Jobim que na década de 1990 também editou portaria introduzindo o contraditório nos processos de demarcação das terras indígenas e justificou sua iniciativa afirmando ter estabelecido prazos para cada etapa para agilizar as demarcações? Na prática, além dos prazos terem sido sistematicamente descumpridos, acabou inviabilizando as demarcações, pela forte pressão dos ruralistas e de interesses políticos. Parece que o Estado brasileiro e seus prepostos, apenas buscam justificativas burocráticas para descumprir a Constituição e a legislação internacional, assinados pelo Estado brasileiro, como a Convenção 169 da OIT, a Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas, pela ONU, e a declaração da OEA (Organização dos Estados Americanos).
A delegação Guarani-Kaiowá reforçou o pedido de revogação urgente desse instrumento de genocídio que os interesses antiindígenas estão utilizando na sua incansável investida contra os direitos dos mais de 300 povos originários deste país.

Marco Temporal: enredo supremo para o próximo carnaval




No campo de futebol, nas rodas de pilhéria, o marco temporal servia para fazer chacotas ou piadas.
Quem sabe até o próximo carnaval o dito marco temporal já esteja na cova e sirva apenas para a memória sórdida de um instrumento e decreto de morte para os povos indígenas.
É lamentável que frequentemente os supremos ministros tenham que ser lembrados que a Constituição foi construída para ser cumprida. Quase semanalmente delegações indígenas estão se fazendo presentes no Supremo Tribunal Federal, não apenas para lembrar de que ainda estão vivos, mas que pretendem chegar ao coração dos ministros e demonstrar a eles quanto sofrimento e mortes estão provocando interpretações contra os povos indígenas, como é o caso do marco do temporal.
Egon Heck
Fotos Laila/Cimi
Secretariado Nacional
Brasília, 17 de agosto de 2018