Enquanto as urnas vão
acariciando silenciosamente voto por voto, ponho-me a dialogar com meus botões,
já envelhecidos e cansados da mesmice política a cada eleição. A primeira constatação é obvia: tudo farinha
do mesmo saco. Ou melhor, os que tem alguma chance de chegar ou permanecer no
palácio do Planalto, rigorosamente propõem ou seguem a cartilha neoliberal,
colonialista, ditatorial, eletista. Diante de tal cenário, a reação primeira
seria de rejeição em bloco e não votar na falta de democracia.
Mas tem quase um milhão de brasileiros originários cuja
situação é infinitamente pior. Além de sentir-se no direito do exercício da
indignação terão que amargar mais quatro anos de vilipêndio sobre seus direitos
constitucionais. O agronegócio cresce e se expande mais que erva daninha. São
os povos indígenas que primeiro e mais
intensamente terão que arcar com as consequências nefastas, destruidoras,
criminosas. Ele nada poupa. Rasga o
ventre da mãe terra e o enche de venenos, impunemente. Os filhos originários da terra são agraciados
com uma silenciosa guerra. Tudo acontece com a benção do sistema que
covardemente insiste de chamar isso de progresso.
E se eleito for algum indígena, seja para Assembleia
Legislativa estadual seja para o Congresso Nacional, cenário pouco
provável, mesmo assim terá sido o passo
mais fácil, diante do hercúleo esforço que terão que fazer, em meio a um
ambiente de cobras criadas, de cartas marcadas, de interesses consolidados.
Tenhamos a coragem e honestidade de pensar ,por uns
instantes, no gigantesco desafio que terá
pela frente esse eventual eleito. Por mais que o movimento indígena
tenha avançado e amadurecido, dificilmente não sucumbirá diante das presas
sanguinolentas do monstro.
Apesar dos apesares “se eleito for” ninguém poderá fugir do
pareo. Que os céus conclamem todos os
heróis e combatentes para cerrar fileira na defesa da vida e direitos dos povos
indígenas.
O que será das nossas crianças? Qual será o nosso futuro, a partir de amanhã?
Egon Heck
Dia de mais uma eleição
Cimi, secretariado