Uma delegação de mais de 40 lideranças dos povos Krahô e Xerente estiveram no mês de dezembro em Brasília fazendo graves denúncias junto a várias instituições e órgãos do governo.
A questão mais grave se refere às constantes invasões de
seus territórios e saques dos recursos naturais.
Outra questão denunciada a vários órgãos e opinião pública, é
a tentativa de repetição da famigerada Guarda Rural indígena, implantada
durante a ditadura militar, num processo de militarização que esperávamos estar
definitivamente enterrado. Em documento, manifestam sua indignação e repulsa a
essa à insana tentativa de militarização da questão indígena.
“Durante a ditadura Militar, indígenas Krahô foram
arrancados com violência do seu território para o presídio Krenak, em Minas
Gerais, onde receberam treinamento militar e aulas de tortura. Ao retornarem ao
território, praticaram diversas agressões aos seus parentes, e um assassinato
envolvendo Guardas Rurais na aldeia Cachoeira. E isso já foi testado uma vez e
não deu certo. Por isso não queremos que retorne. Reafirmamos a nossa autonomia
e exigimos o respeito à nossa organização social. Nós lideranças indígenas
continuaremos na luta em defesa do nosso território, das nossas águas e de
nossas vidas e não queremos a criação de uma milícia indígena”.
Em audiência organizada pela deputada Joênia Wapixana e a
Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas, Erika Kokay denunciou uma vez
mais o etnocídio em curso onde o presidente da república tem acusado os povos
indígenas, como inimigos da nação, estimulando com semelhante afirmação ainda
mais violência contra os povos originários.
As lideranças estiveram em gabinetes de deputados
denunciando as inúmeras violências a que estão submetidos e ao saque e invasões
de seus territórios. Além disso, estão submetidos a constantes pulverizações
aéreas de agrotóxicos sobre suas comunidades. “Exigimos respeito aos nossos
povos e à mãe terra. Não queremos que a Constituição continue sendo rasgada e
os nossos direitos violados. Dizemos não ao projeto MATOPIBA e suas ações de
destruição. Não aceitaremos nossas águas e terras sendo envenenadas e destruídas.
Não queremos a invasão de nossos territórios sendo invadidos e arrendados. Queremos
viver em paz em nossos territórios, lá nós somos felizes. Somos contra a tese
do Marco Temporal, pois essa tese afronta nossos direitos originários”. Esse
clamor foi levado aos gabinetes de todos os ministros do Supremo Tribunal
Federal.
Na Funai entregaram um manifesto: “nossos direitos estão
sendo ameaçados. Esse governo está retrocedendo nossos direitos originários.
Queremos repudiar as últimas medidas da Funai contra os nossos direitos que
estão garantidos na Constituição de 1988. A retirada da Funai das terras que
ainda estão em processo de demarcação, é uma afronta ao nosso direito. Haverá o
aumento de violência nos territórios. Quem será responsabilizado pelas
possíveis mortes que haverá do nosso povo? Exigimos que a Funai reveja esse
procedimento imediatamente. Nossos territórios do povo Xerente e Krahô estão
sofrendo com desmatamento, venda ilegal de madeira, tráfico de animais,
contaminação de agrotóxico, secagem dos rios. Exigimos providências para a
fiscalização pela Secretaria de Segurança”.
Brasília final do ano de 2019
Egon Heck
Fotos Laila