ATL 2017

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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Mato Grosso do Sul e a banalização da violência


 

Em uma semana que estou aqui em Dourados se tem informações de 4 indígenas Kaiowá Guarani mortos, seja por atropelamento, suicídio (homicídio) ou conflito. Fica difícil  informações mais concretas de algumas situações ,  pois o emaranhado e intensidade de conflitos é tão intenso que se chega ter a sensação de que existe uma banalização da violência em alto grau

  
Enquanto isso algumas dúzias de fazendeiros fazem manifestações no centro da cidade protestando contra os 5 comparsas que estão presos acusados de envolvimento no assassinato do “massacre de Caarapó” que culminou com a morte de Clodiodi de Souza e sete feridos.

Visitando as comunidades Guarani Kaiowá da região de Caarapó, onde fizeram 8 retomadas de suas terras tradicionais, nos últimos 3 anos, se percebe nitidamente que “a situação de guerra não acabou”.  Pesam sobre as comunidade duas ordens de despejo, o que os deixam sob permanente e angustiante estado de sobressalto. “Não vamos entregar um palmo dessas terras que são nossas”, afirma uma das lideranças. A situação é de tensão e apreensão. “Estamos acostumados a ter que enfrentar os inimigos e as decisões judiciais quando se aproxima o final de ano” informou um dos caciques. Segundo informações oficiais, ultimamente houve movimentação em 20 processos envolvendo a questão indígena na região.

A lógica perversa do arrendamento de terras indígenas
  
O arrendamento das terras indígenas tem sido uma das estratégia da invasão das terras dos povos originários nativos, nas últimas décadas. Assim aconteceu especialmente desde o governo de Getulio Vargas, a partir de 1940, acentuando-se na década de 70.

O arrendamento das terras indígenas tem sido um dos mecanismo de gerar desunião e conflitos internos, na medida em que apenas foi favorecendo pequenos grupos que intermediavam os arrendamento das terras, enquanto muitos indígenas permaneciam sem terra.

A mãe não   se vende nem arrenda

A mãe Terra  e mãe natureza são parte dos povos nativos. Para quem vê a terra como objeto é impossível ter a compreensão do imensurável  sofrimento que tem causado para esses povos a destruição da natureza e envenenamento da  terra. 

O  argumento das elites no poder de que os índios não precisam de terra é falacioso. Esquecem de acrescentar que o saque dos recursos naturais e a “morte da terra” tem sido efetuado pelos invasores e arrendatários.O arrendamento como sistema de destruição e morte da Mãe Terra e de todas as formas de vida, através do envenenamento da terra, das águas e do ar.



Dia 25 de novembro  dia em que os povos indígenas da região celebram a memória de Marçal Tupã’i, assassinado em 1983  na terra indígena Nhanderu Marangatu. Em julho de 1980 Marçal Fez uma fala contundente ao Papa  Paulo VI, em Manaus. Denunciou a extrema violência a que seu povo estava submetido

Acabou de ser celebrado  também neste mês de novembro 0s 6 anos do assassinato do cacique Nizio Gomes. Os Kaiowá Guarani celebram a memória de dezenas de lideranças  que derramaram seu sangue na luta por seus direitos, especialmente a terra.

Egon Heck

Cimi Secretariado Nacional