ATL 2017

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sábado, 22 de setembro de 2012

Homenagem ao guerreiro Avá Apykaverá - Amilton


Jonia, da FIAN Brasil, escreveu uma linda mensagem lembrando o quanto, pacientemente, Ava Apykavera ensinou a nós sobre o modo de vida , luta e resistência do povo Guarani “Aprendi a ter paciência e respeitar as diferenças, a ter perseverança e saber que não importa as derrotas que temos e sim o que podemos construir com o cenário que temos... Ao final do dia estávamos exaustos e Amilton jamais se queixou, se manteve firme e sereno. Sempre que indagado sobre o perigo da situação guarani, ele respondia não temer: “vale a pena lutar pela terra sem males para o bem viver guarani”.
Amilton, era um guerreiro, nada temia por estar com suas plumagens mágicas. É triste Amilton partir antes de ver seu povo desfrutando da terra sem males. Ficam as boas lembranças e o estímulo para continuar na árida busca pela efetivação dos direitos humanos do povo Guarani. Assim, talvez um dia, mesmo que distante, mesmo que em outro plano, ele possa ver a realização de seu sonho, sonho de seu povo. Os feitos de Ava Apykaverá são inspirações ao nosso viver e na atuação do FIAN Brasil. “ Jônia Rodrigues  - FIAN Brasil
Recolhi, para homenagear esse guerreiro Avá, alguns trechos dos escritos e registros das falas que ele foi semeando, com indignação e espeerança, por vários países do velho mundo.

Registrando o momento da partida “Avá senta em frente a seu barraco antes da viagem iniciar.  Vem à memória os 25 anos de luta pela terra, vida e futuro Guarani Kaiowá.  Naquele outubro de 1983 quando, finalmente, voltaram, resolutos, ao tekoha de Pirakuá. Menos de um mês depois Marçal Tupã’i seria assassinado à porta de seu barraco. Vinte e cinco anos depois continuam confinados dentro de sua terra. Continuam as mesmas ameaças e violências. Algumas lágrimas caem ao chão. Não serão em vão. Pega a maleta e parte para mais uma missão de vida e esperança. Acabou de votar e ser votado. O horizonte nunca acaba! Um outro mundo é possível, urgente e necessário.(Nhanderu Marangatu, 5 de outubro de 2008)
Retomando os sonhos Guarani
Avá Apykuverá está muito animado. Em suas falas tem ressaltado a importância de retomarem os sonhos Guarani, que são de não apenas retornar a seus tekoha, mas de verem nelas novamente crescer os alimentos e as florestas. Os animais das florestas sumiram. Quem sabe daqui uns tempos eles possam retornar a essas terras. Só assim também os espíritos, os rituais, a saúde de seu povo poderão novamente estar presentes nas comunidades. Avá está feliz. Está completando 52 anos, aqui em Grenoble. Parabéns! (Grenoble,França, 9 de outubro 2008)

Destruiram nosso supermercado
Uma das questçoes que Avá tem ressaltado em suas falas é a grande tristeza por terem destruído tanto a terra, a mata, os animais, os peixes, enfim, tudo que era parte essencial de sua alimentação natural. “Destruiram nosso supermercado que eram as florestas. Hoje vivemos de alimentos com produtos químicos, pobres, que vem na sexta básica, na maioria das vezes. Quase não comemos mais carne.  A comida de uma sexta básica mal dá para alguns dias. É um tipo de um lanche.” Dessa forma desabafa sobre a triste realidade de carência e dependencia em que se transformou a maior parte dos mais de  40 mil Kaiowá Guarani do Maato Grosso do Sul. “Nosso supermercado foi destruído pelo governo. Nosso supermercado foi trocado pela Colonia Agricola. Nosso supermercado foi trocado pela erva mate, depois pelo gado e soja. E agora está sendo trocado pela cana e etanol”.
Fome de solidariedade e luta
Nesta véspera do dia mundial da alimentação, quando os movimentos sociais, e particularmente os do campo, os trabalhadores rurais que são a metade da população que passa fome no mundo hoje, estarão fazendo mobilizações, Avá também fará seu protesto e diálogo em Bruxelas, sede da União Européia. Irá com outros ativiistas sociais protestar contra a fome e violência a que está submetido seu povo, pedindo a demarcação o mais urgentemente possível das terras Guarani.  “Só com terra poderemos novamente ter liberdade, alegria e fartura”, declarou AVá em diversos momentos.
Em Budapest - Hungria
Avá Apykaverá Kaiowá Guarani faz uma rápida explanação sobre  a situação grave por que passa sua comunidade e povo por causa do confinamento e falta de reconhecimento das terras. Lembra que essa história de violência na verdade já dura mais de 500 anos.. “Hoje estão nos matando lentamente com as leis e as demoras em reconhecer nossos direitos, como as nossas terras”, explica.
Após mais alguns dados para compreensão da realidade  Kaiowá Guarani e da conjuntura  atual em conseqüência do modelo de produção e da  expansão rápida do setor sucroalcoleiro na região, foi aberto espaço para as perguntas dos jornalistas. Havia grande interesse em conhecer a realidade trazida até a Hungria pela Campanha Guarani, através da FIAN e do CIMI. Foi um longo tempo de perguntas visando um melhor entendimento especialmente da situação fundiária, terras Guarani e o sistema de produção do etanol. Foram quase duas horas de esforço intenso para o entendimento de uma das realidades mais graves por que passa um povo indígena no Brasil.  Houve insistência na co-responsabilidade mundial diante da grande crise por que passa o planeta e da necessária solidariedade em nível global diante da violação de direitos fundamentais dos povos e das pessoas ( Budapest, 22 de outubro de 2008)
O que fazer
No final dos encontros, contatos e debates sempre se manifestam os desejos de saber como apoiar essa causa nobre e justa, a vida, terra e futuro dos Kaiowá Guarani. Juntos se tem construído algumas possibilidades e gestos concretos de apoio
  1. Pedir o cumprimento da Constituição  que garante a terra e vivência conforme a organização social, tradição e cultura dos povos indígenas. Igualmente esses direitos estão garantidos na legislação internacional como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho e a Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas aprovada no ano passado pela Organização das Nações Unidas.
  2. Articulação das instituições e pessoas sensíveis à causa do Povo Guarani construindo uma rede que possa conhecer sempre mais a vida, os valores e os desafios que encontra esse povo nos cinco países da América do Sul onde vivem hoje.
  3. Contribuir com a descolonização exigida pelos povos em todos os lugares do mundo, que significa mudar atitudes, modos de vida, abdicar de privilégios e ajudar na construção de um mundo plural e justo.
  4. Participar concretamente de campanhas de apoio aos Povos Guarani, como a Campanha que a FiAN internacional está realizando enviando cartão ao presidente Lula pedindo a urgente demarcação das terras Kaiowá Guarani .
Pelas ruas , calçadas, corações e mentes, Avá vai semeando a semente da volta do povo Guarani Kaiowá a seus tekohá, terras tradicionais e ali fazer brotar os sonhos e a sabedoria que foram cultivados por milhares de anos pelo seu povo.( Paris, 17 de outubro de 2008)
A volta -  a Campanha Povo Guarani Grarnde Povo nas alturas
Enquanto brigamos com o tempo, aproveitamos para socializar nossas impressões no giro pelo velho mundo. O futuro certamente não passará mais por aqui. Creio que está vindo das Américas. E mais  precisamente das raízes e valores indígenas. É o que nos contou com muito entusiasmo Geza, na Hungria, ex-república da União Soviética. Nos dizia ele que a presença da questão indígena ente eles naqueles dias tinha uma dupla mão. Entender e ver como ser solidário com essa causa e ao mesmo tempo aprender com essas sociedades como voltar a ter uma vida mais simples, solidária e coletiva. Certamente a inspiração na aldeia e seus valores é algo muito real, concreto e possível hoje.
Fomos refletindo sobre os inúmeros contatos, pessoas extremamente gentis, receptivas e solidárias, entidades entusiasmadas com a Campanha, especialmente as equipes de FIAN nos diversos países. Recordamos o acolhimento nas casas dos membros das equipes, as longas caminhas, sobe e desce de metrô, trem, ônibus, trembus (um cruzamento de bondinho e ônibus) e assim por diante. Só não andamos de bicicleta em Amsterdam, onde milhares de bicicletas circulam constantemente e outras tantas estão amarradas nas ruas, com direito até a prédios de estacionamento de bicicleta. Creio que é algo que aponta para o futuro. Ao menos deixa respirar melhor do que em Paris, Pudapest e outros lugares que se assemelham dramaticamente às ruas das nossas grandes cidades. O impressionante é que não vimos nenhum acidente nesses dias e lugares todos e também não atropelamos nenhuma bicicleta em Amsterdam.
  o que não faltou guarani e gauchamente, foi o chimarrão. Não ficamos um dia sem o precioso líquido. A primeira palavra que tínhamos que decorar nas diversas línguas era “água quente”. O único fato curioso foi na Hungria, onde não conseguimos nos prevenir, e quando de manhã fomos entregar a garrafa termina pedindo água quente nas línguas que  conhecíamos o resultado foi uma garra de chá bem doce. Não tivemos dúvidas. Foi o nosso chá-mate.
Já estamos nos reencontrando com a saudade que já foi ao Brasil e voltou. Em breve estaremos pisando firme em chão brasileiro. Pena que seja na poluição de São Paulo. Mas seguiremos. Em Campo grande, antes do dia findar, iremos respirar novamente nosso ar.
Sobre o oceano Atlântico, há 10300 metros de altura, 23, de outubro de 2008
Egon Heck (Cimi) Avá Apykaverá Kaikowá Guaran)i
Mas a esperança está viva como ouvimos nas falas da filha “Meu pai não morreu, está vivo em nossos corações e no nosso sangue de guerreiros”.
Egon Heck  -Povo Guarani Grande Povo, 20 de setembro de 2012

Um comentário:

  1. parabéns pelo blog, egon
    mas essencialmente parabéns por tudo q vc se transformou a favor dos indígenas, na sua incansável e bela luta

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