Mobilização Indígena em
Brasília
Em frente ao Congresso
centenas de policiais estão apostos e dispostos a reagir a qualquer tentativa
de entrada na “casa do povo”. Do outro lado da trincheira verde centenas de
indígenas de todo o país decididos a visitar a sua casa e entregar um documento
com suas exigências e reivindicações. Quando os indígenas se aproximam, recebem
uma rajada de pray de pimenta nos olhos. Correm com a forte ardência dos
olhos.Revoltados pelo ato covarde dos “recepcionistas” com suas armas modernas
de uma guerra secular, insistem em sua intenção de entrar no Congresso,
covardemente abandonado, com as atividades suspensas. Seguem-se momentos de
tensão e expectativa. Os Kayapó e Xavantes fazem seus rituais de guerra e com
seus arcos, flechas e bordunas avançam em direção aos policiais. Centenas de
guerreiros de inúmeros povos se posicionam frente ao Congresso ao qual
pretendiam entrar para um ato de
protesto, num diálogo impossível, de uma casa donde partem iniciativas mortais
contra seus povos e diretos.
É apenas mais um capítulo de uma guerra secular. Mudam as
armas e os atores, mas o processo de invasão, violência, saque e extermínio
genocida continuam. Infelizmente, nessas últimas décadas, tenho sido mais uma
espécie de repórter, testemunho e indignado registrador das violências que o projeto
colonizador impetra contra os povos originários dessa terra.
Simbolicamente, na tarde
desse dia 2 de outubro, Brasília se transformou no palco de mais uma batalha
contra os direitos dos povos indígenas. Impedidos de entrar no Congresso, os
indígenas manifestaram sua indignação fechando os acesso aos três poderes e
circulando por esses espaços, fortemente ocupados por tropas policiais.
Mulheres Pataxó, de Coroa
Vermelha, revoltadas com a ação dos policiais que atiraram spray de pimenta em
seus olhos, chorando xingavam os
responsáveis pela atualização da violência desses 513 anos, desde que Cabral
iniciou a invasão de seu território.
Mas foi também um dia em
que receberam importante solidariedade da Central Única dos Trabalhadores – CUT
, “Declaramos todo apoio à semana de mobilização em defesa dos direitos
indígenas, presentes na Constituição Federal...”. O sindicato dos servidores públicos no distrito
federal – SINDSEP-DF “vem a público apoiar a convocação da Articulação dos
Povos Indígenas do Brasil para as manifestações em defesa dos direitos
indígenas presentes na Constituição Federal de 1988...Nós enquanto
representantes dos servidores públicos não podemos estar ausentes dessa luta,
pois o que está em jogo é a soberania nacional”. Também receberam importante
apoio da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, onde participaram de um debate e
de uma centena de deputados aliados que vieram até o acampamento trazer seu
apoio e solidariedade.
A mobilização e luta dos povos indígenas em todo o Brasil e
particularmente em Brasília a cada dia que passam vem recebendo apoio da
sociedade brasileira e internacional, “pois essa é uma luta pela vida dos
povos, da natureza, do planeta terra”.
Egon Heck
Povo Guarani Grande Povo
Cimi, Brasília, 3 de outubro de
2013
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