Política Indigenista ruralista
Nos idos de 1975, no auge da ditadura militar e do milagre
brasileiro, o crítico e escritor Tristão de Athayde, publicou um artigo “indigenismo e antiindigenismo, em
que traz elementos de análise extremamente atuais, “ Como sempre, várias soluções se defrontam, algumas analógicas e
outras contraditórias, entre indigenistas e antiindigenistas. A mais radical
destas últimas, considera nossos índios
como um anacronismo e sua defesa como um romantismo dispendioso e inútil. Seu
desaparecimento deverá ser mesmo favorecido ou por bem (integração) ou por mal
(extinção), pelas moléstias, pela
construção de estradas ou pelas agressões dos próprios mateiros e fazendeiros
locais. O progresso, para esses antiindigenistas , é um rolo compressor
irreversível, exigindo a extinção dos mais fracos.”(Jornal do Brasil,
6/03/1975)
Quantas vezes ouvimos esses discursos trombeteados pelas
nossas elites econômicas, politicas e setores militares, acrescidos de outras pérolas mais, de teor
racista e fatalista, dentre as quais “os índios atravancam o progresso”,
os índios são quistos sociais que devem ser erradicados, os índios na fronteira são uma ameaça à
segurança e soberania nacional, os
índios são um ônus para a nação...
Quantas vezes não foram os povos indígenas ultrajados, ameaçados,
violentados e denegridos em sua honra e dignidade, impunemente?
Nessa semana mundial dos Direitos Humanos, na véspera da
entrega do Relatório da Comissão Nacional da Verdade á Presidente Dilma, onde pela primeira vez é relatado a morte e desaparecimento de
aproximadamente 8 mil indígenas dentro período examinado pela Comissão (1946 a
1988), estão em pauta no Congresso
Nacional projetos de lei e emenda constitucional,
como a PEC 215, que se aprovadas, tornarão as ameaças fatos, e a vida dos povos
originários/indígenas estarão sob a batuta
da política indigenista ruralista, do agronegócio e do latifúndio.
Estratégias
do agronegócio
Neste
ano de 2014 o agronegócio avançou em sua política anti-indígenas, inovando com
a realização de leilão, em Campo
Grande-MS, para sustentar a caixinha que banca
as milícias particulares por eles contratadas. A isso se acresce a
contratação de expressivo número de profissionais que vai desde antropólogos,
historiadores, arqueólogos, advogados, até filósofos. São esses que constroem e
garantem as fundamentações das políticas indigenistas ruralistas.
No Congresso, onde a bancada afirma ter pelo menos 240
membros, esperam acionar o rolo
compressor para aprovar várias leis e projetos de emenda constitucional que
garantam os interesses do agronegócio. Certamente esperam uma mãozinha do poder executivo para tornar tudo mais fácil.
Não
Passarão
Se por um lado a temporada de caça aos direitos indígenas
está configurada, por parte do movimento
indígena existe uma esperança de mobilização pela vida e pelos direitos,
baseada em suas estratégias de resistência secular, com o apoio dos espíritos
guerreiros e seus deuses.
Contam também com a solidariedade de amigos no Brasil e no
mundo e com o apoio das populações tradicionais e dos movimentos sociais que
lutam por justiça e aprofundamento da democracia.
Egon Heck
Cimi Secretariado
Brasilia, 9 de dezembro de 2014
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