Falta um pouco
mais de um mês para o início de um evento mundial congregando povos indígenas
de 30 países e de 22 povos nativos do Brasil. O país tem se destacado, nos últimos
anos, por ser anfitrião de grandes espetáculos esportivos como a Copa do Mundo
em 2014 e se aproximam os Jogos Olímpicos Mundiais a se realizarem no Rio de
Janeiro em 2016, portanto, há menos de um ano.
Os Jogos Mundiais
Indígenas se transformam em mais um momento projetado com grandiosidade, dentro
de um pensamento ufanista, de vender e forjar a imagem de um país plural,
democrático, sem racismo, que tenta ser justo e pacífico. Se isso fosse verdade
seria o caso de invadirmos a velha Europa e quiçá a América do Norte com nossos
projetos de Bem Viver e nossos exemplos de como salvar o Planeta Terra da total
destruição. Longe disso. Nossos governantes fazem malabarismos para esconder
que somos um dos países mais desiguais do mundo.
Se olharmos o
país com um mínimo de realismo e isenção, a partir do que está acontecendo com
os povos indígenas ultimamente, especialmente no Mato Grosso do Sul, teremos
que reconhecer o fracasso de nossa pretensa democracia racial e colhermos mais
um título, de estarmos entre os países de maior violência e negação dos
direitos humanos e de povos à nossa população originária.
Mas nem tudo está
perdido. Antônio Apinagé, do estado onde se realizarão os Jogos Indígenas, adverte:
“O
fato é que as terras dos povos Apinajé, Krahô, Karajá Xambioá e Xerente, já
demarcadas, estão sendo invadidas ou encontram-se ameaçadas por hidrelétricas,
hidrovias, eucaliptos, soja, mineração e madeireiras. E alguns povos ainda não
têm sequer suas terras demarcadas. Por causa da luta pela terra, muitas lideranças
indígenas estão sendo criminalizadas, presas, espancadas ou assassinadas a
mando de fazendeiros e políticos” (Manifesto Crítico sobre os Jogos Mundiais
Indígenas). Afirma ainda que “a melhor atitude pela paz é também demarcar e
respeitar os territórios indígenas que são sagrados para nossos povos e
necessários para o equilíbrio e a sustentação do clima no planeta terra”.
Lindomar Terena, do Mato Grosso do Sul, estado
de maior violência contra os povos indígenas do Brasil, é enfático ao afirmar:
“Estes jogos escondem a verdadeira face
do Governo no massacre dos povos indígenas, elevando a imagem governamental e
de alguns indivíduos enquanto se continua negando aos povos o direito sagrado a
terra, a cultura, ao modo de vida originário... Somente a mobilização direta
dos povos fará com que rompamos as cercas que nos separa do nosso bem viver. É
a única ação que pode mudar esta triste realidade”.
Operação Dourados: Forças Armadas na
fronteira com o Paraguai
Num comunicado
reproduzido pela imprensa regional (Diário do MS), o Comando Militar do Oeste
informa que a operação militar na fronteira estará integrada de 1.200 a 1.500
homens do Exército, que estarão se somando aos já presentes na região, tanto da
Força Nacional, como DOF (Destacamento de Operação na Fronteira). O objetivo
declarado é de “implantar a Lei e a Ordem”. Se a esses contingentes agregarmos
as centenas de fazendeiros, pistoleiros e forças paramilitares fortemente
armados veremos que estamos num cenário de guerra. Contra as armas de grosso
calibre os mbaracá e as flechas. Se as comunidades indígenas não tiverem seus
direitos respeitados, especialmente a sua integridade física, a lei e a ordem
que as Forças Armadas irão defender terá lado. Será lastimável se isso vier a
ocorrer. Os povos indígenas não terão para onde correr. Já percorreram todos os
caminhos da justiça e de seus direitos. A paciência já se esgotou.
Na guerra a esperança avança
O que nos deixa
extasiados e esperançosos é a capacidade desse povo de fazer da dor uma flor,
uma semente, uma razão para avançar. O sangue derramado se transforma em novos
e abundantes guerreiros.
A esperança vai
se transformando em gestos concretos de solidariedade e de convocação à luta
pela justiça.
Lembro com muita
emoção e gratidão, as recepções na comunidade de Guyrá Kamby’i, com rituais e
sorrisos. Apesar de seu território tradicional ser dos mais documentados
historicamente, conforme declaração do antropólogo do Ministério Público Federal
de Dourados, Marco Homero, essa comunidade tem sobrevivido em apenas dois hectares.
Nesta semana, Dom
Juventino, do leito do hospital, enviou ao povo de Deus da Diocese de
Rondonópolis uma bela mensagem conclamando a solidariedade com aqueles que mais
sofrem no mundo de hoje, lembrando a morte de uma criança kurda e dos povos
indígenas do Mato Grosso do Sul: “Povos
indígenas do Mato Grosso do Sul, povos nativos, com nosso apoio e solidariedade
teus filhos vão ver dias melhores e condições de vida digna”.
Egon
Heck
Secretariado
Cimi
Brasília,
9 de setembro de 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário