ATL 2017

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segunda-feira, 6 de junho de 2016

Adeus guerreira Kaiowá Guarani







O sol amanheceu triste. Não sabia se ia dar o ar de sua graça, ou anunciar o nome da guerreira Léia, liderança e professora na Terra Indígena Nhanderu Marangatu, município de Antônio João, Mato Grosso do Sul, fronteira com o Paraguai, falecida nesse dia 3 de junho. Momento de luto e de luta. A terra pela qual ela tanto lutou nas últimas duas décadas, a chamou antes de poder vê-la novamente em poder de seus habitantes originários.

 Léia incansável lutadora pelos direitos de seu povo e em especial das comunidades de Nhanderu Marangatu/Campestre, procurou fazer do espaço da escola uma trincheira na luta pela terra, e formação de guerreiros, participantes ativos das lutas pelos seus direitos.

Ela viveu intensamente as lutas e contradições de seu povo. Juntamente com as lideranças Hamilton Lopes e Loretito empenhou-se para evitar a expulsão de seu povo da terra já demarcada e homologada pelo presidente Lula em março de 2005 e suspensa liminarmente pelo ministro do STF Nelnon Jobim.


Para que o mundo saiba

“Venham, convidem as lideranças reunidas em Sombrerito. Venham testemunhar o que vai acontecer aqui. Venham ficar em vigília conosco. Queremos dizer ao mundo o que vão fazer conosco aqui amanhã”, dizia Léia, não conseguindo esconder seu nervosismo e indignação. Com os alunos e professores fizeram uma série de cartazes e faixas que no outro dia, iriam estar presentes na estrada da resistência, aguardando a polícia, com seu pelotão de choque para enfrentar um povo apenas armado com a esperança e secular resistência. E Léia lá estava com seus alunos e colegas testemunhando a covardia da expulsão, ameaças, voos rasantes de helicóptero, casas queimadas e um monte de prepotência. “Não somos bandidos. Queremos apenas a nossa terra”. Era 15 de dezembro de 2005. Dia de intenso sofrimento que jamais se apagará namemória da luta e resistência desse povo.

No dia 24 de dezembro, duas semanas após a expulsão e acampamento na beira da estrada, Léia me liga novamente, e com tom de sofrimento grita no telefone “mataram uma liderança. Atiraram e mataram Dorvalino”.  Covardemente foi assassinado com tiros desferidos pelos jagunços contratado pelos invasores.




Esses fatos ganharam o mundo. O secretário  especial dos Direitos Humanos, Paulo Vanuchi, juntamente com o presidente da Funai, representantes do governo do Estado, delegados da Polícia Federal e o prefeito de Antônio João, foram, no dia 27 de dezembro visitar a comunidade expulsa e acampada na beira da estrada. Ouviram atentamente os relatos indignados dos Kaiowá Guarani e foram visitar as sepulturas de Dorvalino, Dom Quitito e outras lideranças assassinadas. Se comprometeram a agilizar o processo e punição dos assassinos.

Nos dias subsequentes professora Léia, com outras lideranças indígenas e o representante dos posseiros da Vila Campestre, assentados em terra indígena pelo INCRA, rumaram para Brasilia, para denunciar as barbaridades e violências e exigir ação eficaz por parte do Estado brasileiro.

No Supremo Tribunal Federal, obtiveram a promessa de que assim que os Ministros  voltariam do recesso, iriam por em pauta o julgamento da ação de suspensão da homologação da Terra Indígena Nhanderu Marangatu. O processo tinha como relator o Ministro Peluzo.

Foram ao INCRA pedir ao presidente do órgão o reassentamento dos posseiros, solicitado por eles.  Receberam a resposta de que em menos de um mês, estaria feito o levantamento cadastral e já tinham em vista terra onde reassentá-los.

Passaram-se mais de dez anos e nem o STF julgou o processo e nem o INCRA fez levantamento e reassentamento dos posseiros. Léia deu uma importante depoimento à representante da dos Direitos Humanos, da ONU,. E o mundo ficou sabendo do intenso sofrimento, o genocídio a que estavam submetidos os indígenas desta região.

Depois de uma longa e penosa sobrevivência de mais de mil indígenas em aproximadamente 100 hectares de Terra, o grupo resolveu voltar ao seu território já demarcado e homologado. Isso aconteceu no ano passado. Simão Vilhalva foi assassinado. Nada avançou com relação à terra. Os índios continuam em pequena parte de sua terra tradicional, sobrevivendo a duras penas e suportando permanente pressão dos fazendeiros.


O luto e a luta continuam



Léia foi juntar-se com Marçal, Dorvalino, Simeão e milhares de lutadores Kaiowá Guarani, que morrera na luta e esperança da  conquista da Terra Sem Males.
Léia viveu e sofreu de forma muito intensa as lutas e contradições de deu povo. Sua memória será certamente mais um estímulo para continuar a luta pelos direitos de Todos os Kaiowá Guarani, especialmente na reconquista de suas terras.

Léia morreu de AVC depois de ter ensinado o ABC dos direitos dos povos indígenas para centenas de crianças e ter participado de inúmeras lutas, especialmente pela terra.

Léia, leia-se guerreira, aqui no espaço da vida continuarás viva na memória da resistência e da afirmação dos direitos e projetos do povo Kaiowá  Guarani.

Uno-me a esse povo na homenagem derradeira dessa lutadora e guerreira, na certeza da vitória da vida dos povos originários dessa terra. Adeus Léia Aquino.

Egon Heck  fotos: Laila e Egon/Cimi
Cimi, Secretariado Nacional
Brasília, 5 de junho de 2016



3 comentários:

  1. Lamentável a perda dessa grande guerreira e educadora Leia mas ela se torna mais uma nas estatísticas do descaso do Estado referente aos direitos dos povos tradicionais no Brasil.morreu de AVC mas com certeza seu coração já sofria a grande dor de ver seu povo encurralado pelo sistema dominante e injusto do nosso país. O seu grito continuará b forte o grito pela liberdade de viver em suas terras ancestrais com direitos a dignidade e singularidade cultural como questão de vida e sobrevivência de um povo, o povo Kaiowá Guarani . descanse em paz Leia e saiba que sua vida e morte nao foi em vão.

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  2. Lamentável a perda dessa grande guerreira e educadora Leia mas ela se torna mais uma nas estatísticas do descaso do Estado referente aos direitos dos povos tradicionais no Brasil.morreu de AVC mas com certeza seu coração já sofria a grande dor de ver seu povo encurralado pelo sistema dominante e injusto do nosso país. O seu grito continuará b forte o grito pela liberdade de viver em suas terras ancestrais com direitos a dignidade e singularidade cultural como questão de vida e sobrevivência de um povo, o povo Kaiowá Guarani . descanse em paz Leia e saiba que sua vida e morte nao foi em vão.

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  3. Lamentável a perda dessa grande guerreira e educadora Leia mas ela se torna mais uma nas estatísticas do descaso do Estado referente aos direitos dos povos tradicionais no Brasil.morreu de AVC mas com certeza seu coração já sofria a grande dor de ver seu povo encurralado pelo sistema dominante e injusto do nosso país. O seu grito continuará b forte o grito pela liberdade de viver em suas terras ancestrais com direitos a dignidade e singularidade cultural como questão de vida e sobrevivência de um povo, o povo Kaiowá Guarani . descanse em paz Leia e saiba que sua vida e morte nao foi em vão.

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