“Vamos fazer a guerra com a nossa sabedoria”, expressou uma das lideranças indígenas presentes no 14 Acampamento Terra Livre que está se realizando em Brasília. Contra a crueldade de mais de cinco séculos de invasão, extermínio e genocídio, só a sabedoria, forjada na resistência e guerra permanente possibilitaram a sobrevivência dos 305 povos indígenas nas terras brasiiis.
Ontem o Estado
brasileiro proporcionou mais um desses atos que envergonham o nosso país,
levando aos tribunais internacionais, no banco dos réus. Agiu contra os mais de três mil indígenas que
foram manifestar diante do Congresso, suas indignações e temores. Foram, de maneira
especial dizer às autoridades, ao Brasil e ao mundo, que não mais suportam tamanhas agressões,
crueldades e violências. Foram exigir respeito e o fim das atitudes de
colonialismo e repressão contra os povos primeiros dessa terra.
No seminário sobre os Direitos Originários dos povos
indígenas, realizado pela Procuradoria Geral da República, o coordenador da 6ª Câmara,
Dor. Luciano Maia, demonstrou como o Estado Brasileiro tem sido o maior
violador dos direitos indígenas. Aí reside o maior desafio para os povos
indígenas e seus aliados.
O Brasil plural se insurge – nada a
temer
Enfrentamos uma das piores conjunturas para os povos
indígenas, as populações tradicionais, os movimentos sociais e o meio ambiente. Vivemos um dos piores momentos
das últimas décadas, particularmente após o processo constituinte de 1988. Uma
série de mortíferos PLs e PECs, Portarias e decretos estão no gatilho,
espreitando o exato momento de disparar a partir entapetados e esterilizados ambientes do
poder, da corrupção e da opressão. O Estado brasileiro que nunca admitiu e
respeitou a pluralidade de povos e nações, vozes e rituais, organizações
sociais e formas de Bem Viver, mostra
seus dentes carcomidos pelos séculos de
colonialidade e crueldade contra os
povos originários.
Demarcação Já – nenhum direito a
menos
Uma das exigências Expressas com unanimidade pelo movimento
e comunidades e povos indígenas é o imediato reconhecimento e demarcação das
terras/territórios indígenas. Esse processo de paralização das demarcações
já iniciou no governo anterior, e não
apenas permanece, como recrudesce em
função das prioridades de um projeto desenvolvimentista absolutamente
anti indígena. Trata-se de uma cabal afronta à Constituição e legislação
internacional, do qual o Brasil é signatário.
Conforme levantamentos realizados pelo Cimi ainda existem
mais de 352 terras indígenas sem nenhuma providência 352, a identificar
175 e 398 registradas, de um total de
1.116 terras indígenas . Estamos, portanto diante de um gravíssimo quadro, pairando sobre esse direito sagrado e
primordial ameaçadoras nuvens de incertezas e retrocessos.
Momentos fortes da luta
Os duros e longos caminhos da autodeterminação e autonomia
dos povos indígenas no Brasil e no continente vão sendo trilhados e forjados,
com sabedoria e resistência milenar.
Como disse o antropólogo Meliá “Os
caminhos dos povos indígenas serão os nossos caminhos de futuro”.
É preciso mudar nossas mentes e nosso
espírito eivado de colonialidade para darmos espaço para os projetos de autodeterminação e Bem Viver
dos povos indígenas. Será preciso ousadia e esperança, persistência e coragem
revolucionária, sonhos e utopia. Um novo projeto de humanidade é possível,
necessário e urgente. Que saibamos, com os povos indígenas, galgar essa
montanha de obstáculos, repressão e negação de direitos.
Que esse Acampamento Terra Livre Faça avançar a união na luta dos povos
indígenas e a aliança sempre maior entre todos os que lutam pelas mudanças e
transformações profundas em nosso país e na Ameríndia.
Enquanto isso as
vozes e rituais plurais conclamam todos os povos para consolidar a união.
Unidade na diversidade, com os encantados, deuses e guerreiros, todos presentes
no apoio à luta pela vida, pelos direitos, pelos territórios e pela justiça.
Muitos olhos arderam, muita respiração ficou dificultada com
mais um espetáculo de bombas e sprays covardemente lançadas pelo poder opressor
contra as raízes profundas do Brasil plural.
Egon Heck – Fotos Laila Menezes
Cimi, Secretariado Nacional
Brasília, 26 de abril de 2017
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