ATL 2017

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quarta-feira, 3 de abril de 2019

Sobrevivência humana depende das comunidades indígenas



Os líderes religiosos (nhanderu e nhandeci) veem com muita preocupação e apreensão o momento que estamos vivendo, o perigoso caminhar da humanidade. Na visão desses líderes, os indícios são de que o mundo vai acabar.




Enquanto um grupo de lideranças dos povos de Mato Grosso do Sul (Kaiowá Guarani, Terena e Kinikinau), participava de audiência no Ministério Público Federal, o Nhanderu Olimpio, sua esposa e mais um rezador, faziam seus rituais, pedindo proteção e forças para que os líderes dos povos originários sejam iluminados e sábios na luta dos direitos de seus povos. Com o semblante preocupado, prenunciou: “O mundo vai acabar. Os nhanderu que sustentam o mundo estão acabando”. E prosseguiu em suas preocupações quanto ao destino do mundo: “Os jovens estão perdendo a cultura”. Apesar dessa trágica ameaça que pesa sobre o desequilíbrio em que a terra está ameaçada em cair, apesar de tudo isso, “estamos, nós índios em luta por nossa terra”. “O nosso Pai do céu deu a terra para os índios. Por isso estamos lutando por nossa terra”. Lembrou ainda da abundância que tinham em suas terras, com muita mata, água boa, muita comida. “E agora acabou tudo. Tudo acabado. Mato não tem mais. Onde tem mato tem chuva”.
Coincidência ou não, um estudo recente que envolveu pesquisadores de 15 países, mostra que as práticas dessas comunidades com o manejo dos polinizadores são fundamentais para o meio ambiente e para o bem-estar do homem em nosso planeta (ver mais).

Espaço de resistência e violência

A visita à Comissão de Direitos Humanos, da Câmara dos Deputados, foi um dos momentos fortes. O presidente da Comissão, deputado Helder Salomão, foi muito receptivo ouvindo atentamente as denúncias da situação de barbárie contra os povos indígenas. Frisou que nesse momento inicial, sua gestão ouvirá a sociedade e seus clamores, visando fazer o enfrentamento às violências da melhor forma possível. Informou que mesmo antes de ser indicado para presidir a comissão, visitou os índios Tupiniquim e Guarani, localizados no Espírito Santo. “Vivemos tempos sombrios. Esta comissão será um espaço de resistência, de luta pelos direitos dos povos indígenas”.



Eliseu Guarani-Kaiowá expressou com veemência as violências a que estão submetidos no Mato Grosso do Sul. “Hoje estou aqui denunciando as ameaças que nós lideranças estamos sofrendo. Estando hoje aqui e amanhã não estarmos mais junto do nosso povo”. Para que o presidente e toda a Comissão de Direitos Humanos tenham uma noção mais realista do que está se passando com os povos indígenas no Mato Grosso do Sul, insistiram que fizessem uma visita à região.
Paulinho Terena afirmou que as lideranças de seu povo estão sendo massacradas: “Elas precisam de segurança urgente. Somos contra o arrendamento de nossas terras, contra a municipalização da saúde indígena. Queremos a Sesai fortalecida”.

Outra liderança Kaiowá Guarani, denunciou um descaso gravíssimo sofrido por uma indígena num hospital da região: “Somos maltratados e perseguidos. E nossa alma fica presa quando somos perseguidos. O genocídio dos povos originários continua. Mas não estamos amedrontados”.
Por fim, outras lideranças que se manifestaram na audiência na CDH pediram o fortalecimento da Funai para que esta possa cumprir a sua obrigação que é “demarcar nossas terras”. Ao invés de esquartejar a Funai, como fez o presidente da República no primeiro dia de seu mandato.
Depois de mais uma semana de presença em Brasília, permanece a firme decisão para que não haja retrocesso e perda de direitos. Retornaram a suas aldeias depois de muita mobilização, reza e luta. Partiram com a firme convicção de que os povos indígenas do Brasil vão avançar sem medo na luta por seus direitos.


Egon Heck
fotos\lailaCimi

Secretariado nacional do Cimi
Brasília, início de abril 2019.

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