ATL 2017

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terça-feira, 19 de junho de 2012

Passeata dos Povos Primeiros



Sol quente e sob o olhar atento do mar, marcharam  os primeiros habitantes desta terra, em paz e guerra, à sombra de imensos prédios. Centro do Rio de Janeiro. Pisaram forte os pés nativos expulsos, mas vivos, nesses cinco séculos de invasão.  Os povos indígenas deram ao centro do Rio algo que os engravatados, do outro lado não podem dar: múltiplas cores, sons, gritos e palavras de ordem contra o genocídio  e a morte decretada, a destruição desenfreada, da natureza, das gentes, da vida. “Dilma não mate a nossa esperança...”, “Chega de enganação, demarquem as nossas terras” Não às hidrelétricas, não ao PAC e à PEC 215...”

Foi de lavar a alma, ver a aquela multidão serpentear entre os prédios e avenidas, para dizer ao Rio e ao mundo que não apenas estão vivos e estão aqui, mas que querem por fim à secular dominação e ajudar a construir um mundo melhor para todos, sem a enganação verde da economia global neoliberal, a falácia da proteção ambiental e do desenvolvimento sustentável do grande capital.

A dignidade desfilou no Rio, do Sambódromo, onde estão hospedados, partiu o grito forte das mulheres, do aterro do Flamengo, partiram os povos raiz, e por fim os ambientalistas mostraram a “marcha ré”, do governo Dilma com relação aos direitos da Mãe Terra, das leis de proteção ambiental.
Foi um dia memorável. Ficará há história e coração de cada um dos indígenas participantes.
A situação mais grave, em termos de violência, assassinatos, fome, desnutrição, dependência, suicídios, é a do Mato Grosso do Sul. E é exatamente a região em que as terras estão sendo assaltadas pelo grande capital, empresas multinacionais como a Bunge, Dreifus, Raizen...estão plantando cana, nas terras Kaiowá Guarani. A denúncia de Oriel, na atividade sobre Direitos à Terra e  “Grilagem de terras”. O biodiesel de cana que está movendo uma frota de ônibus aqui no Rio, está sendo movido a sangue indígena, pois é tirado de nossas terras no Mato Grosso do Sul.

O objetivo da passeata, além da dar visibilidade aos povos indígenas presentes na Cúpula dos Povos, no Acampamento Terra Livre, foi de deixar seu protesto contra a imposição e implantação dos grandes projetos que afetam diretamente a vida e sobrevivência dos povos indígenas. Esses projetos são financiados pelo banco BNDES, dinheiro público. Por isso foi feito um cerco ao prédio do banco. Depois de rituais de protesto, o mesmo gesto foi repetido diante do prédio da Petrobras

A Articulação dos Povos Indígenas no Brasil está coordenando a elaboração de um documento que será entregue aos chefes de Estado reunidos na Rio +20. Também estarão participando das plenárias e Assembléias onde está sendo construído o documento unificado em que ficará definido o posicionamento e as propostas consensuadas na Cúpula dos Povos com relação à grave ameaça à vida no planeta Terra.

Apesar dos povos indígenas estarem enfrentando sérios problemas de infra-estrutura (hospedagem e alimentação) entendem que esse é um momento histórico em que deixarão seu recado ao mundo. Seu grito de guerra e de paz.

Egon Heck

Cimi 40 anos – Povo  Guarani Grande Povo

 Cúpula Dos Povos, Rio de Janeiro, 19 de junho s012

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Povos indígenas - a luta tem futuro


“Estamos lutando pela vida dos nossos povos, mas principalmente por nossas crianças. Somos povos raiz dessa terra e exigimos respeito e justiça. Apenas queremos viver com dignidade e paz.”




Essas são expressões que perpassam os inúmeros depoimentos, denúncias e anúncios dos mais de mil e trezentos indígenas participantes da Cúpula dos Povos, especialmente do Acampamento Terra Livre.
É um momento histórico importante para o movimento indígena do Brasil e mundial. É hora de gritar que não apenas estão vivos, mas  que muito tem a contribuir na construção desse novo mundo possível e urgente, a partir dos projetos do Bem Viver de seus povos.

Os povos indígenas acreditam  que com sua união e o apoio amplo de todos os que lutam para  para superar o colonialismo e o neoliberalismo, e assim salvar o planeta terra.


Egon Heck – Cimi 40 anos – Cúpula dos Povos Rio de Janeiro, junho de 2012


domingo, 17 de junho de 2012

O grito indígena na Cúpula dos Povos





Ao intercalarem rituais e clamores, em centenas de tons,línguas e cores, os povos indígenas estão indignadamente fazendo seusdesabafos, conclamando para a união para a luta comum contra esse sistema quelhes decretou a morte e travestiu de verde a destruição. São em torno de  mil e trezentos indígenas de mais de cempovos do Brasil e das Américas, presentes na mobilização, conclamação, debate e grito nativo no espaçodo Acampamento Terra Livre, na Cúpula dos Povos.


Essa diversidade, raiz efuturo do continente, se manifesta de maneira contundente. Não agüentam mais oavanço dos projetos de morte e saque de seus territórios, sob o discurso verdeda sustentabilidade e preservação. Querem dizer isso ao mundo. Que os ensurdecidose insensíveis chefes de Estado e governantes sejam atingidos pelas flechas  de futuro, que exige imediata e radicalmudança nos rumos dos projetos de desenvolvimento e a devolução e garantia dosterritórios dos povos indígenas e o reconhecimento de sua autonomia e seusprojetos de vida.


Confiam na força da união dos povos indígenas do mundo emaliança com todos os setores da sociedade que lutam contra o devastador sistemacapitalista global, para interromperem o caminho de morte, que ameaça a vida todosos seres vivos e do próprio Planeta. Denunciaram o assassinato de dezenas delideranças indígenas e a total impunidade em que permanecem esses crimes.


Estão cansados de denunciar a violação constante dos seusdireitos. Porém não se cansam de anunciar seus projetos de Bem Viver comocontribuição e alternativa aos projetos do grande capital global, que tem aserviço de seus interesses os Estados nacionais e o sistema financeiro mundial.


Ao infernoBelo Monte


Entre as inúmeras denúncias foi ressaltado, por diversospovos e lideranças indígenas,  a situaçãoe conseqüências calamitosas do mega projeto da usina hidrelétrica de BeloMonte. Raoni e Megaron  deixaram clarosua posição e dos povos indígenas contra essa monstruosa obra que irá impactarmortalmente vários povos indígenas, populações ribeirinhas, com um rastro dedestruição.


Está sendo unânime o rechaço dos povos indígenas a todo tipode desenvolvimento baseado nessas grandes obras a serviço do grande capital econtra os direitos e vida dos povos originários deste continente.


Egon Heck


Cimi 40 anos – Rio de Janeiro 17 de junho de 2012


Povo Guarani grande povo.



sábado, 16 de junho de 2012

Demarquem nossas terras

Após a abertura do Acampamento Terra Livre, na Cúpula dos Povos, no Rio de Janeiro, um batalhão de fotógrafos  estava seguindo uma pessoa que adentrava ao Auditório 33 onde estavam algumas centenas de indígenas de todo o Brasil. Antonio Patriota, ministro das Relações Exteriores, veio dar uma olhada apenas no evento. Mas foi convidado pelos índios a dar uma palavra aos presentes. Deixou escapar o que parece ser a grande preocupação do governo: tentar convencer o mundo de que no Brasil é possível conjugar desenvolvimento com proteção ambiental.
Para os povos indígenas esse esforço do governo brasileiro é em vão. É apenas  uma retórica fantasiosa ( para não dizer mentirosa) onde a onda de desenvolvimentismo, uma vez mais tem os povos indígenas como maiores vítimas. Basta olhar o descalabro e o caos  em que estão a saúde e educação indígena e mais grave ainda a total falta de uma política de produção de alimentos, de acordo com a lógica das economias indígenas.  Prefere-se institucionalizar a dependência através das cestas  básicas.

Logo após as breves palavras do ministro Antonio Patriota, Otoniel Kaiowá Guarani  do Mato Grosso do Sul pegou o microfone para dizer exaltado. “Demarquem nossas terras.  É bom o senhor estar aqui. Queremos a demarcação de nossas terras urgente. Não adianta falar em economia e proteção ambiental para nós, o que queremos e precisamos que o governo demarque as nossas terras”.
Acampamento Terra Livre
“A salvação do planeta está na sabedoria ancestral dos povos indígenas”, consta no folder da programação do IX Acampamento Terra Livre, organizado pela Articulação dos Povos Indígena do Brasil, e que se integra com agendas, participação e contribuições dos povos indígenas do continente Abya Yala. Durante uma semana serão debatidos os grandes temas que desafiam a humanidade hoje e em especial os povos indígenas do mundo. Serão feitos mobilizações, rituais, debates e elaborado um documento que expressa a posição do movimento indígena mundial diante da grave crise em que o sistema capitalista é uma ameaça à sobrevivência da vida no planeta.
“O respeito aos povos indígenas requer valorizar a sua contribuição na formação social do Estado nacional e reconhecer o papel estratégico que os territórios indígenas tem desenvolvido milenarmente na preservação do meio ambiente, na proteção da biodiversidade e na solução dos problemas que hoje ameaçam a vida no planeta”
Essas atividades dos povos indígenas previstas para os próximos dias fazem parte dos mais de 3 mil eventos que estão previstos.
Mandantes do assassinato de Nisio Gomes, na cadeia
Foi deflagrada operação de prisão  dos mandantes e envolvidos no assassinado do cacique Nisio Gomes, conforme noticiou a imprensa de Campo Grande. O cacique foi assassinado em novembro último passado na Terra Indígena Guayviri, no município de Aral Moreira, no Mato Grosso do Sul. Mesmo que o anúncio da operação tenha  sido estrategicamente feito no decorrer da Cúpula dos Povos e Rio + 20, o que se espera é agilidade da justiça para  punir os responsáveis de dezenas de lideranças assassinadas e que permanecem na total impunidade. Além do mais não se tem ainda informações sobre o corpo do Nisio e do professor Rolindo. Que a prisão dos mandantes abra caminho para a localização dos corpos.

Egon Heck
Cúpula dos Povos, 15 de junho de 2012

Povo Guarani Grande Povo

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Povos Indígenas - cresce a violência

Os números são estarrecedores. A violência contra os povos indígenas,  são indícios de um processo de guerra, de genocídio que continua decretando a morte de inúmeros indígenas de norte a sul do país, da terra dos Makuxi, Wapichana e Ingarikó em Roraima aos Kaingang, Guarani e Charrua no Rio Grande do Sul.

No dia em que iniciou a Rio + 20, em que o Brasil como anfitrião tem que ficar bem na foto, em Brasília é lançado o "Relatório de Violência contra os Povos Indígenas no Brasil".  No placar de regularização de terras indígenas,o governo Dilma está com m desempenho pífio - no ano de 2011 homologou apenas 3 terra indígenas. Já em 1992 o governo Collor demarcou 128 terras indígenas, enquanto o governo Lula demarcou apenas 88 terras indígenas em oito anos de governo. Conforme D. Erwin, no lançamento do relatório, essa foi e continua sendo a principal causa da violência contra os povos indígenas ".  Tanto o presidente da CNBB, como o presidente do Cimi, demonstraram sua profunda preocupação com o avanço da violência contra os povos indígenas, em conseqüência de um modelo de desenvolvimento que não respeita os povos indígenas. "Pensávamos que a publicação do relatório  ajudaria a diminui a violência. Infelizmente está aumentando. É o rolo compressora que não respeita os povos indígenas e ribeirinhos, no caso do  emblemático e fatal projeto da usina hidrelétrica de Belo Monte."  D. Erwin lembrou que nos 40 anos do Cimi vários missionários derramaram seu sangue em defesa dos direitos dos povos indígenas. "Continuaremos decididamente ao lado dos  povos indígenas", afirmou o presidente do Cimi.

Nailton Pataxo-Hã-Hã-Hae, em sua apresentação falou da emoção de estar participando desse ato, como um dos testemunhos do massacre, opressão e do assassinato de mais de 30 membros de seu povo nessa luta pela reconquista de seu território. Lembrou do grande sofrimento e opressão, que gerou uma descrença quanto à Justiça e uma desesperança quanto à garantia dos direitos de seu povo. Por essa razão eles tomaram a iniciativa de buscar a justiça retomando seu território, em abril desse ano. Ao agradecer a todos os apoiadores e aliados lembrou "Nosso problema está resolvido, mas vamos lutar agora para resolver o problema de todos os índios do Brasil". Fez referencia à gravíssima situação dos Kaiowá Guarani no Mato Grosso do Sul e sugeriu "Que o acampamento Terra Livre seja realizado em áreas de luta pelos direitos, sendo dois dias de conversa e três  de limpeza".

Jader Marubo do Vale do Javari, Amazonas, fronteira com o Peru, relatou com dor e indignação a situação de morte a que estão relegados os povos indígenas dessa região, sendo que 82%  dos indígenas de 6 povos estão com hepatite e temem a febre negra (hepatite B mais hepatite D), além de alta incidência de tuberculose, filaria, dentre outras doenças. Além disso tem seu território invadido por madeiros, fazendeiros, peixeiros, narcotraficantes. Ele teme pela morte de pelo menos  13 grupos indígenas isolados, conforme dados da Funai, e de outros 8 grupos dos quais tem informação."Temo que esses povos sejam extintos, sem que os senhores venham a conhecê-los". Concluiu se emocionante testemunho denúncia " Apenas queremos a dignidade de ir e vi e viver. Queremos a terra para viver dignamente.

Na segunda parte do ato foi lançada a campanha, articulada pela Associação dos Juízes pela Democracia - AJD e pelo Cimi, "Em defesa da Causa Indígena".  A Campanha www.causaindigena.org.br  busca amplo apoio aos direitos dos povos indígenas, em especial pela terra e vida dos Kaiowá Guarani e contra a PEC 215, que é um dos projetos de lei que visa tirar os direitos indígenas garantidos pela Constituição e legislação internacional.

Egon Heck

Povo Guarani Grande Povo, Cimi 40 anos

www.egonheck.blogspot.com.br






Lançamento Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas 2011

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Caos na Educação Escolar Indígena - apuração(punição) urgente
Escolas caindo, professores indígenas sendo demitidos em massa, fechamento de escolas em aldeias, desvio dos recursos da educação indígena que vão para ralos nas prefeituras e  secretarias de educação de estados, cooptação de professores, o mato tomando conta de escolas, escolas transformadas em carcaças, deterioradas sem serem concluídas, educação escolar indígena em situação caótica,Conselheiros distritais funcionários públicos sem compromisso com  a comunidade, saque dos recursos, nepotismo, descaso, abandono, criminalização dos saberes indígenas, chantagem para com os professores indígenas...Todas essas expressões relatadas na oficina  sobre educação escolar indígena realizado no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia neste início de junho. Participaram membros de todo país. No mesmo sentido foram as denúncias levadas ao MEC por delegações indígenas que estiveram em Brasília ultimamente.
Uma delegação de representantes de 6 povos do Acre, trouxeram denúncias ao MEC a calamitosa situação das escolas, mostrando, inclusive uma sala de aula em que os alunos estavam de guarda chuva para não se molharem. Além disso as comunidades mais distantes sequer escola tem.
Com essas denúncias, tanto as delegações indígenas quanto os participantes da oficina sobre a educação escolar indígena, pedem urgente apuração dessa grave situação, e que se chegue à punição dos responsáveis.

Presidente Dilma assina
Quando a presidente Dilma, por ocasião da Rio+ 20 estiver assinando o Projeto de Resolução das Diretrizes Curriculares para a Educação Escolar Indígena,  estará colocando mais um remendo na caótica situação do ensino nas terras indígenas, realizado através das 2.819 escolas indígenas existentes entre os 240 povos indígenas no Brasil.
Todo esforço empreendido pelo Ministério da Educação para construir uma educação diferenciada, específica e de qualidade para os povos indígenas será em vão caso não se construir um sistema de educação escolar que tenha autonomia e efetiva participação das comunidades indígenas em todos os níveis.
De pouco adianta o esforço de alguns que se esmeram em construir belos castelos de leis, que na prática esbarram nas estruturas de poder e interesses contrários ao reconhecimento dos povos indígenas. Ou ainda a  imposição de modelos, como o dos distritos etnoeducacionais sem a devida participação do movimento indígena.

Egon Heck
Cimi 40 anos , Brasília 12 de junho de 2012