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terça-feira, 11 de setembro de 2012
domingo, 9 de setembro de 2012
Em Rondônia - Celebrando os 40 anos do Cimi

Quando nos dirigimos a Nova Mamoré para nos encontrarmos, refletir e analisar a realidade, a partir da
memória perigosa de décadas de luta
contra os opressores, dominadores e invasores dos territórios indígenas,
ficamos abismados com o cenário de
destruição que vem sendo implantado com a construção das duas hidrelétricas –
Santo Antonio e Jirau. Repete-se o
macabro cenário das quatro décadas de destruição: mata matada, capim semeado,
implantando com a pata do boi a civilização desejada. Hoje mudam apenas os
projetos, porém a lógica perversa da
acumulação e destruição continua a mesma. E as principais vítimas são novamente
os povos indígenas, com seus territórios negados ou invadidos e
saqueados.
Celebrando o testemunho, sangue derramado e presença solidária

Também falou da
importância de celebrar os 40 anos do Cimi, que possibilitou uma presença missionária
profética,solidária,libertadora junto aos povos indígenas na região e em todo o país. Ao lembrar a
responsabi-lidade de todos os
cristãos pela ação missionária solidária e respeitosa com esses povos, pediu a
Deus que nos livre dos preconceitos, dos
conflitos, dos projetos de morte e de
toda sorte de males que trazem injustiça
e opressão.
Nós missionários do regional
Rondônia e participantes nesta XXVII assembleia também externamos nosso
sentimento de carinho e apoio solidário
a esses povos, dos quais tanto aprendemos e que infelizmente continuam
sendo tratados com descaso, preconceito ou racismo.
Rondônia que sonhamos
De povos felizes se
respeitando, convivendo e se enriquecendo com os valores, sabedorias e
conhecimentos partilhados. Com a
natureza respeitada, convivendo com a pluralidade da vida semeada por Deus e que
não deve ser destruída pela primazia do boi, da soja ou da cana. Essa Rondônia
queremos construir com os povos indígenas e todos aqueles que atingidos e
explorados pelos grandes projetos, com o
acelerador de morte e destruição, implantado pelo atual modelo de
desenvolvimento.
As constantes
ameaças e violência sofrida pelo povos indígenas e nos últimos meses tendo-se
intensificado contra o povo Kaxarari, localizados em Extrema – RO, que depois
de muitas ameaças por parte dos fazendeiros e madeireiros que ilegalmente invadem
seus territórios e não contentes com a ampliação do território, tem tomado
proporção perversa, com o recente assassinato anunciado de João Kaxarari, sem
que as FUNAI e Policia Federal e autoridades tomassem providencias para as
constantes ameaças de morte que os lideres deste povo vem sofrendo, mesmo sendo
notificados pelo povo, sobre as constantes ameaças de morte.
Nova Mamoré,
05 de Setembro de 2012.
Conselho
Indigenista Missionário - Regional Rondonia
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
Portaria 303 – revogação não remendo
“ Não tenho problema em revisar a portaria. Ainda falta quase um mês em que ela continuará suspensa. Vou refletir.Precisamos de decisões, de soluções definitivas. O Supremo Tribunal Federal tem que tomar uma decisão”. Nessa linha foi a fala do Ministro da AGU, Luiz Inacio Adams ao se dirigir aos indígenas reunidos no Ministério da Justiça, nesta manhã do dia 29. Ao pedido unânime das lideranças indígenas de revogação, ele apenas reafirmou que a portaria é apenas uma reprodução do que disse o Supremo Tribunal Federal.
Remendar uma portaria inconstitucional e anti-indígena não é possível. Qualquer tentativa de alterar a portaria, só faria piorar a situação.
Rasgue, revogue, queime, acabe com essa portaria

As manifestações indígenas foram pedindo a imediata revogação da portaria (porcaria). E mais do que isso “rasgue ela. Diga isso pra nós. Isso não é justo. Não aceitamos a portaria”, disse Maria das Flores Kraho, gesticulando indignadamente.
Os indígenas ainda registraram sua indignação pelo desrespeito com que foram tratados “nós não somos bandidos. Precisava chamar uns quinhentos policiais? Porque fecharam as portas na AGU e no Ministério da saúde?, clamou Antonio Apinajé.
Essa portaria em muito se assemelha à proposta de “Emancipação indígena”, proposta pelo general Rangel Reis, então Ministro do Interior, em 1976. A verdadeira intenção era emancipar as terras indígenas e em 20 anos ver um Brasil livre de índios. A reação dos povos indígenas e de seus aliados em nível nacional e internacional foi imediata e contundente. Apesar da resistência, após rasgarem o projeto numa Assembléia Indígena nacional, realizada em Goiás Velho, o então ministro sepultou definitivamente seu projeto. Se espera o mesmo do ministro da AGU, com relação à portaria 303.
Saúde fechada

Diante das evasivas e argumentações inconsistentes dos funcionários do órgão, as lideranças indígenas saíram do diálogo profundamente decepcionados e revoltados.
Para o cacique Marcos Xukuru, foi desrespeitosa a forma como a Sesai tratou a delegação indígena “coloca um substituto já com a intenção de que nada se resolva, que tudo fique como está...Acho negativa e desrespeitosa a atuação da Sesai”. A mesma impressão foi manifestada pelas lideranças dos povos indígenas de Goiás e Tocantins. Em função disso estão solicitando uma audiência com o Ministro da Saúde, para pedir algumas providências urgentes, inclusive com a substituição de funcionários da região.
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Adams, da AGU, foge de indígenas

Portas trancadas
Ao chegar ao prédio da AGU a delegação de indígenas dos estados de Tocantins e Goiás, às 14,30 horas encontraram as portas fechadas. Em vão, tentaram com que elas fossem abertas para que eles pudessem se encontrar o ministro da AGU. Movidos pela decisão de falar com quem assinou a portaria, vieram preparados para passar aí a noite se preciso fosse.
Nas falas duras, não faltaram as gesticulações, o dedo em riste, a batida forte das bordunas sobre a mesa, e o rasgar da portaria em frente aos representantes do governo. O Avá Canoeiro Davi, enquanto rasgava a portaria, pedia para que dissessem ao Adam que o seu povo está aguardando a demarcação de suas terras. Diego Avá Canoeiro complementou enviando um recado a Katia Abreu de que a portaria seria revogada.
As mulheres foram as que fizeram as falas mais veementes " Chame o Adams. Vamos ficar aqui até que ele venha. Nem que precisa ficar a noite toda aqui. Trouxemos nossa boroca para dormir aqui. E vocês vão ficar aqui também. Quando os guerreiros ameaçaram fechar a porta, rapidamente seguranças se postaram ao lado das mesmas.

Logo apos a mobilização na AGU a delegação indígena se dirigiu para o Supremo Tribunal Federal, onde o ministro Ayres Brito estava assinando a revogação da ação de paralisação da hidrelétrica de Belo Monte. a ironia e cinismo dda burocracia ficou manifestada em diversas afirmações, dentre elas a de que não haveria espaço para receber toda a delegação (55 pessoas). Ao que os índios responderam: Não tem problema, nois fica de pé mesmo. Nosso costume na aldeia é reunir toda a comunidade.
Apesar da palavra dos negociadores do governo, várias liderranças manifestaram sua desconfiança: Será que Adams virá?
Egon Heck e Laila Menezes
Povo Guarani Grande Povo
Cimi 40 anos, 28 de agosto de 2012
domingo, 26 de agosto de 2012
Guerreiros da Paz
Os povos Indígenas do Mato Grosso do Sul tiveram
mais uma semana intensa de mobilização
na luta pelos seu direitos, especialmente seus territórios, condição básica
para a verdadeira paz no Mato Grosso do Sul. Os fazendeiros alardearam na
imprensa regional a declaração de guerra contra os Kaiowá Guarani, que estão
retornando às suas terras tradicionais. Descrentes de qualquer avanço na
garantia de suas terras, por parte do governo federal, resta-lhes a fidelidade
a seus lideres religiosos (Nhanderu) que decidem o que fazer.

Diferentemente do que ocorreu há 51 anos, quando se realizou
o primeiro Congresso Camponês, em Belo Horizonte, agora os povos indígenas
estavam ali presentes, articulados, dando seu recado e sua efetiva contribuição
para construir uma unidade das populações de vivem no campo. Naquela ocasião a
população indígena era estimada em menos
de 100 mil pessoas, destinadas ao desaparecimento. Hoje, conforme os últimos
dados do IBGE são quase um milhão,
falando 270 línguas e constituídos em 305 povos. Mas não apenas tiveram
um grande aumento demográfico, como se constituíram em importantes atores
políticos e sociais, protagonistas de importantes lutas no campo.

Protocolaram documentos
no Supremo Tribunal Federal, solicitando
urgência no julgamento dos vários processos envolvendo as terras indígenas,
como Nhanderu Marangatu, Arroio Korá, que já forram homologadas pelo presidente
Lula e que estão liminarmente suspensos.
Na AGU - racismo explícito

Enquanto os indígenas
aguardavam no saguão do prédio, uma senhora, bem vestida, ao sair da porta e se
deparar com os indígenas, mostrou o quanto esse país ainda é racista, ao
declarar "aqui tem mais índio do que gente". Alguns indígenas
imediatamente disseram que ela tivesse cuidado com que fala. Ela apenas apressou
o passo em direção à rua. Esse fato foi relatada ao representante da AGU
No Palácio
do Planalto "pacificar"

Durante quase duas horas
foram feitos os relatos dos acontecimentos pelas lideranças indígenas e
solicitado providências urgentes, especialmente por parte dos órgãos de
segurança, mormente, a Polícia Federal e a Guarda Nacional.
Diante da urgência de medidas de proteção às comunidades e
lideranças ouviram, tanto dos representantes dos órgãos de segurança quanto
da presidente da Funai, a informação de
que não seria possível fazer determinadas ações de segurança devido ao corte de
verbas para as diárias e passagens.
Porém foi anunciado a solicitação de condições para a
presença de efetivo da Guarda Nacional em Paranhos e Iguatemi.
Como a palavra de ordem era "pacificar o Mato Grosso do
Sul", foi anunciado pela secretaria Especial da Presidência da República a
ida de uma delegação do governo federal àquele estado com o intuito de dialogar
com o governo e órgãos locais, na perspectiva de apaziguar a situação,
"sem abrir mão da demarcação das terras indígenas" (Paulo Maldos)
Os guerreiros da paz, tiveram mais uma missão de exigir
justiça, diante da guerra que lhes foi declarada. Aguardam ativamente as
providencias prometidas.
Egon Heck - www.egonheck.blospot.com.br
Povo Guarani Grande Povo
Cimi 40 anos , 25 de agosto de 2012
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Guerra Secular
A guerra
contra os Kaiowá Guarani no Mato Grosso do Sul, declarada secularmente, volta a ser reafirmada. Atualizada, esta guerra genocida,
ininterrupta, ganha contornos inimagináveis em qualquer parte do mundo neste
século 21.

Tem um fazendeiro conhecido aí da
região que falou pra todo mundo aqui: posso até sair, e entregar para os
bugres, mas assim que a poeira baixar, eu lavo essa terra de sangue”, relata um
dos produtores que falaram com a reportagem.Vieira confirma que a contratação
de pistoleiros paraguaios é uma opção para os produtores rurais reagirem. “Eu
acredito que vai ser por aí. A guerra vai começar aí. Eu, como a propriedade lá
não é minha... Se é minha, já tinha índio estendido à vontade aqui”, diz
apontando para o campo às margens da rodovia.”(Midiamax,18-08-2012)
Diante da
eminência de mais ações genocidas, os Kaiowá Guarani reafirmam : “Acreditamos
na paz, somos da paz verdadeira, nos não temos armas de fogos destrutivos à
vida humana. Queremos sobreviver. Por fim, repudiamos reiteradamente a
violências contra a vida humana. Sim,
temos somente nossos cantos e rezas sagradas mbaraka e takua para buscar e
gerar a paz verdadeira à vida humana. Neste sentido, nós vamos e queremos ser
morto coletivamente cantando e rezando pelos pistoleiros das fazendas. Esta é
nossa posição definitiva diante da ameaça de morte coletiva/genocídio/etnocídio
anunciada publicamente pelos fazendeiros da região de faixa de fronteira
Brasil/Paraguai.” (Conselho da Aty Guasu, 18-08-2012)
Andando
pelas aldeias e acampamentos Kaiowá Guarani, os sentimentos afloram em dor e
esperança a cada passo dessa história de resistência e afirmação da vida, em
meio à guerra declarada e a dor manifesta em cada sentimento reprimido, em cada
família rompida, em cada casa destruída, em cada vida partida,
Andamos com
a alma na mão e o coração acelerado pois em cada comunidade, acampada ou
confinada, os gritos de dor ou alegria
se repetiam com muita intensidade.
Em
Laranjeira Nhanderu, onde partilhamos belos momentos de luta e resistência,
encontramos uma comunidade abalada pela morte inesperada do Zezinho. Um forte
vendaval de ressentimentos e sentimentos submersos, emergiram transbordando em
agressões, ódio, lágrimas e disputas. Provavelmente só o tempo irá restabelecer
a paz e harmonia entre todos.
Já em Itay um grupo nos aguardava, com o sorriso largo
e constante dos Kaiowá Guarani. Tomando terere (mate com água fria) relataram
orgulhosos o clima de paz, após a publicação da portaria declaratória da terra.
Porém está tudo parado. Ainda não foi feita a demarcação física. Não entendem
por que a demora da Funai neste aspecto. Também sentem a ameaça de moradores de
uma vila que está dentro da área, e que disseram que iriam colocar veneno na
caixa d’água que abastece a comunidade indígena.
Seguimos
para Guirá Kambi’y, onde nos receberam com ritual, enfrente e dentro da oga
pysy ( casa de reza) que estão acabando de construir.
Nas
periferias de Dourados, vimos as duas áreas retomadas, Boqueirão e Nhum Verá
com muito mais barracos do que em tempos passados. As lideranças relataram com
orgulho o que conseguiram plantar e as pequenas conquistas, dentro de uma
realidade de muita necessidade, caristia e pobreza.
Com Damiana,
guerreira destemida, lutadora incansável,
fomos a mais uma “via crucis”,
caminho da dor, da visita ás cruzes onde estão sepultados seus dois
filhos recentemente mortos por atropelamento. Ela, mais do que ninguém conhece
a dor das estradas que matam. Já teve o marido e três filhos mortos por
atropelamento. E ali está ela o asfalto, a cerca e a cana, resistindo
bravamente, no tekohá Apika’y.

Nos caminhos
da dor há esperança. Nos caminhos da guerra secular enfrentada pelos Kaiowá
Guarani no Mato Grosso do Sul, existem as brisas que suavizam o sofrimento e
não deixam morrer a esperança, mesmo em meio a tantas mortes e violência. A resistência
desse povo da paz sinaliza e nos convoca para outros jeitos de vida, para além
do brutal sistema da acumulação, da agressão á terra e sua gente.
Egon Heck e Laila Menezes
Povo Guarani Grande Povo
Cimi 40 anos, agosto de 2012
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