ATL 2017

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sexta-feira, 7 de junho de 2013

Governo: retocando a imagem

Correria no Planalto. A série de declarações desencontradas e infelizes, numa clara articulação dos  interesses do agronegócio,  elevaram a temperatura e deixaram aranhões fortes na imagem do país e do governo. Tudo isso agravado pela ação truculenta da polícia federal contra os Terena em Buriti, município de Sidrolandia, no Mato Grosso do Sul. Essa ação culminou com o assassinato de Oziel Gabriel, guerreiro Terena, e mais de uma dezena de indígenas feridos.  Fato semelhante ocorrera com ataque aos Munduruku, no final do ano passado.  “A questão indígena é uma questão de Estado”  e como tal a devemos trata-la, declarou  o ministro da Justiça.  Depoi

s de reunião com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e da Advocacia Geral da União (AGU), declarou “A nossa idéia é estarmos  juntos  o Poder Judiciário, o Ministério Público, o Ministério da Justiça e o Conselho Nacional de  Justiça, para que possamos debater o problema” (Correio Brasiliense 4-06-13). Depois se mandou para o Mato Grosso do Sul para dialogar com as lideranças indígenas  para evitar novas violências.
No Paraná e Rio Grande do Sul houve ocupação da sede do PT, em Curitiba, e fechamento de estradas no Rio Grande do Sul
O motivo das manifestações são as recentes declarações da presidente da República  e da Ministra Gleisi Hoffmann, propondo a mudanças na demarcação das terras indígenas e a suspensão dos processos de demarcação, velha pauta dos ruralistas. Gleisi foi correndo à CNBB para uma conversa com o Secretário Geral, para pedir que ele “acalme”o Cimi.
Conforme as manifestações da presidente Dilma "A ideia é baixar um decreto ampliando o colegiado responsável por bater o martelo sobre as demarcações, incluindo nesse fórum, por exemplo, a Embrapa, o INCRA e o Ministério do Desenvolvimento Agrário. No diagnóstico do governo, a FUNAI não tem preparo técnico para decidir sozinha sobre as demarcações nem para administrar conflitos e conduzir negociações com fazendeiros. Estadão, 4-06-13)
Seria ressuscitar o famigerado "grupão", criado na década de 80, com a participação de órgãos de segurança e das forças armadas, que na prática significou a quase total paralisação das demarcações de terras indígenas.

Os Mundurucu em Brasília
O Ministro Gilberto Carvalho recebeu 140 indígenas, que vieram do canteiro de obras de Belo Monte, para amplificarem seu não às hidrelétricas. Leram e entregaram uma carta ao Ministro onde deixam claro que nada os demoverão de sua postura contrária às hidrelétricas na sua região. Dão as razões de sua postura e, diante da prepotência da atuação do governo e apesar de tudo se dispõem a ensinar como poderiam agir sem a estúpida agressão ao meio ambiente e à vida.
Insatisfeitos com a postura do governo que no máximo se dispõem a consultar as comunidades mas não deixará de construir as hidrelétricas. Se não possuem poder de veto, então é brincadeira de mau gosto. O governo tinha pressa em devolver os índios às suas aldeias, porém eles decidiram ficar em Brasília.  Cedo o clima ficou tenso pois o governo tinha pressa em levar os índios de volta às aldeias.
A delegação indígena permanece no Centro do Formação Vicente Canhas, até definirem os próximos passos da luta que os trouxe a Brasília.
Comissão Especial Guarani
Nesta Semana também esteve reunida nos dias 3 e 4 a Comissão Especial Guarani criada no âmbito da Secretaria de Direitos Humanos, em 2012. Da Comissão participam representantes de diversos órgãos do governo, que tem ações junto aos povos indígenas, representantes Guarani e de organismos da sociedade civil. Com o objetivo de elaborar propostas de atuação do governo que possibilitem a garantia dos direitos do povo Guarani, especialmente com relação a seus territórios, o encontro se deu encima do forte impacto da violências e morte de Oziel Terena, no Mato Grosso do Sul. Diante desse fato a Comissão Especial Guarani aprovou  o encaminhamento de um pedido ao Ministro da Justiça para que a polícia federal não usasse armas letais em eventuais atuações envolvendo povos indígenas.
 Com isso o grupo queria manifestar sua estupefação e indignação diante da ação violenta contra os indígenas e o desrespeito à Constituição no que diz respeito à demarcação e garantia dos direitos territoriais desses povos e a falta de diálogo no encaminhamento de ações que dizem respeito aos direitos indígenas.

Povo Munduruku, guerreiros da vida, 6 de junho de 2013




segunda-feira, 3 de junho de 2013

FILHOS DA TERRA


Apreendi que por tudo na vida devemos dar Graças. E desde de  há muito tempo não estava entendendo nem aceitando tamanha violência cometida pelo atual governo contra os povos indígenas. Mas hoje ao abrir vários sites percebi o quanto devemos dar graças por todas as desgraças me refiro as portarias, PECs e decretos  que tramitam no congresso nacional e no poder executivo,  ações articuladas do governo federal com o agronegócio na tentativa de tirar dos índios o que lhes é de direito, A TERRA.

Santas e indignantes  portarias, PECs  e decretos vocês acabaram de acordar os corações por hora oprimidos dos Filhos da Terra. Povos indígenas do Brasil sacudidos por tanto desrespeito aos seus direitos e a mãe terra. Os filhos cuidadores articulam-se em ações de retomadas de seus territórios no MS e MT; mobilizam-se fechando o  canteiro de obras de Belo Monte; Fecham Estradas no Sul e Paraná e Marcham no MS.

As sacudidas dos desrespeito estão sendo forte, a ministra da casa civil já falou: Vai mudar o processo de demarcação "que já não acontece". Com isso a gratidão ao universo deve ser maior. Porque assim TODOS OS 305 POVOS INDÍGENAS do Brasil que são fortes Guerreiros, fortes Pajés, fortes Xamãs vãos INTENSIFICAR seus RITUAIS e LUTAS  e fazer acontecer de fato o que lhes é de DIREITO.

Catxekwyj
03.06.13

sábado, 1 de junho de 2013

Terena e os "outros 500"


Gildo Terena avança, resoluto diante do batalhão de choque, que com suas armas anti motim tenta impedir a marcha indígena, que se dirigia a Porto Seguro, onde a invasão começou.  Era 22 de abril do ano 2000.
Como Terena e pensando na luta de todos os povos indígenas do país se ajoelha e abre os braços em forma de cruz. Suplica as policiais que não matem os índios. Vendo que os enfurecidos policiais continuavam sua marcha violenta contra os eles, se deita no asfalto e a tropa passa por cima. O fato e a foto correram o mundo.  Os povos indígenas do Brasil  fizeram a grande marcha de retomada da esperança, de seus sonhos, de suas lutas.
Um grupo familiar de seu povo haviam saído da Terra Indígena Buriti, na década de 80, pela impossibilidade de continuarem sobrevivendo em reduzido espaço de terra.  Em busca de um pedaço de terra, já haviam perambulado por vários lugares, sem que o governo se dignasse lhes garantir um pedaço de chão para trabalhar e viver em paz.

Manhã do dia de Corpus Christi. Um batalhão da polícia federal e militar do Mato Grosso do Sul chega atirando contra uma multidão de índios Terena da Terra Indígena Buriti, na retomada da fazenda Buriti. Um tiro atinge mortalmente Oziel. A violência e insanidade com que o Estado brasileiro trata seus primeiros habitantes é revoltante. Os Terena assim como os Kaiowá Guarani estão submetidos ao terror da violência, por exigirem seus direitos às suas terras.
Desde 2003, quando retornaram pela primeira vez ao pedaço de seu território  tradicional, foram violentamente expulsos pelos jagunços e polícia. O mesmo se repetiu em 2010. E o processo legal foi se arrastando, o relatório antropológico de regularização confirmando a terra indígena. Outra decisão judicial embarga a conclusão do processo de regularização. Poderosos interesses políticos e econômicos, articulados no governo do Estado e com a conivência do governo federal e da justiça.
Um grupo Terena  continua sua longa peregrinação por esse país do latifúndio e agronegócio, que continua  negando terra e paz para os primeiros habitantes. Estão quase na divisa do Mato Grosso com o Pará. Onde irão parar? Talvez fora do país, ou no mar,  pois os males tomaram conta desse Brasil. Ao ser informado sobre o brutal assassinato de Oziel, Gildo deve ter chorado é indignado lembrou aquela cena violenta do início dos outros 500 anos de invasão.
Oziel, mártir e herói  do povo Terena na luta por seus direitos e território é plantado no coração do Território e memória deste povo e dos povos do Mato Grosso do Sul e do Brasil.
Cartas e manifestações de solidariedade ao povo Terena e repúdio à brutalidade genocida com que os povos indígenas estão sendo tratados, chegam de todos os cantos do país e exterior. Os povos indígenas estão mobilizados, tanto no canteiro de obras de Belo Monte quando nas retomadas dos Terena. Até quando os interesses do agronegócio e os discursos do Conselho Nacional da Agricultura contra os direitos dos povos indígenas irão prevalecer semeando violência pelo país afora?
Na declaração da Marcha e Conferência Indígena, os 3.500 indígenas afirmam:
Apesar do peso da velha história, inscrita nas classes dominantes deste país, na sua cultura, nas suas práticas políticas e econômicas e nas suas instituições de Estado, já lançamos o nosso grito de guerra e fundamos o início de uma nova história, a grande história dos "Outros 500". (Coroa Vermelha, Bahia, 21 de abril de 2000.)

Egon Heck

Povo  Terena Povo guerreiro, Ultimo dia de maio de 2013

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Parar o país e a demarcação das terras indígenas


Veja vídeo : http://www.youtube.com/watch?v=lF4XZnjHHOo

"Produtores rurais de Mato Grosso do Sul se reuniram na terça-feira (28) com a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, para pedir a suspensão da demarcação de terras indígenas no estado até que os processos sejam submetidos a pareceres da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e dos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário. A interrupção da criação de novas reservas indígenas está suspensa no Paraná e o mesmo também deve ocorrer no Rio Grande do Sul por determinação do governo federal.

Segundo o presidente da Frente Nacional Agropecuária, Francisco Maia, os produtores saíram da reunião de terça-feira sem respostas do governo. "Chegamos com um problema grave e estamos saindo com o mesmo". Maia disse que os produtores rurais do sul do estado estão dispostos "a parar o país" para cobrar uma decisão do governo federal em relação aos conflitos fundiários em Mato Grosso do Sul. " (Ambiente Brasil, 29/05/2013)

"Após a mobilização da Assembleia Legislativa em Brasília ontem, o Governo federal anunciou que interromperá temporariamente os processos para demarcação de aldeias indígenas em 28 municípios de Mato Grosso do Sul até que o Ministério da Justiça e a Casa Civil da Presidência da República recebam estudos de outros órgãos envolvidos nas questões fundiárias. Correio do Estado - MS, 29-05-13) "

Hipocrisia. Pouca vergonha. O que se está fazendo com os povos e direitos indígenas neste país, só teve precedentes, na década de sessenta e setenta, com um processo de genocídio programado e planejado pela ditadura militar e interesses econômicos ávidos por assaltar os recursos naturais das terras indígenas.

Quando, em 1966, o Serviço de Proteção aos Índios - SPI, pediu de volta os Toldos (Terras Indígenas) cuja proteção lhe havia sido cedida ao Estado do Rio Grande do Sul, por acordo com o órgão federal,  os governantes ficaram perplexos e enrubescidos, por  não saber  o que devolver, pois já haviam se locupletado às custas da espoliação e retaliação das terras indígenas.  Não tinham como devolver os espólios, pois vários já se haviam eleito ou estavam ocupando cargos no governo às custas do voto e das promessas  aos pequenos e grandes produtores e empresários rurais. E agora, quando os povos indígenas exigem seus direitos recuperando pequenas partes das terras que lhes foram tiradas, vem novamente os políticos e governantes com mais uma barbaridade: suspensão das demarcações de terra.
Seria bom que os envolvidos em mais essa tramoia anti-indígena, já que possuem tanto tempo para, maquiavelicamente tirar os direitos dos povos indígenas, sentassem na varanda ventilada de suas casas e mansões e começassem a ler as  7 mil páginas do Relatório Figueiredo (de 1967-68),  para ver se sentem alguma dor e remorso no coração e na consciência. Quem sabe então pediriam ao governo federal que cumpra com agilidade seu dever constitucional parar demarcar todas as terras indígenas do país, o que já deveria ter acontecido há 25 anos .

Em 1978, quando a lei 6.001, Estatuto do Índio, determinava que todas as terras indígenas deveriam estar demarcadas, o então ministro do Interior, general Rangel Reis, propôs a "emancipação" dos índios e de suas terras. Em 1993, quando a Constituição determinava que todas as terras indígenas deveriam estar demarcadas pelo governo federal, parlamentares e setores do governo pleitearam a revisão constitucional para impedir a demarcação das terras indígenas e escancará-las à exploração, principalmente de madeireiras e mineradoras. Aumentaram as invasões e violências contra os povos indígenas.  A Terra Indígena Yanomami chegou a ser invadida por mais de 40 mil garimpeiros. Em junho de 1993 aconteceu o massacre de Haximu, em Roraima,no qual foram mortos 16 Yanomami.

Já que existe tanta disposição de parar o país para garantir os vultosos lucros obtidos pelos senhores do agronegócio e seus eleitos, porque não fazê-lo para exigir do governo federal o cumprimento da Constituição? Porque sacrificar no altar do progresso a vida de comunidades e povos como dos Terena e Kaiowá Guarani? Nos últimos dez anos foram mais de 300 assassinatos de membros desse povo, seja pela luta por suas terras, seja em decorrência dos confinamentos e acampamentos às beiras das estradas.

Funcionários da Embrapa não sejam cúmplices de massacres e extermínios de populações indígenas e de destruição da natureza.

Estamos em véspera do Encontro Mundial da Juventude, quem sabe não seria a oportunidade de dizer para o Brasil e o mundo, porque nas últimas décadas se suicidaram 555 Kaiowá Guarani, sendo a grande maioria jovens. Talvez o Papa Francisco intercedesse junto ao governo brasileiro para por fim a esse processo de genocídio em curso no Mato Grosso do sul e outros estados.

 
Povo Guarani Grande Povo, 30 de maio de 2013

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Vamos fazer mudança




Sob a fala dura e decidida de Jercilia Kraho, um grupo de mulheres tomou a funcionária da Sesai  Ivanizilia Ferreira Noleto , e a conduziram para forra do recinto, sob a decisão irrevogável de afastá-la do cargo de chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena – DSEI Tocantins. Eram 10,20 minutos de uma quente manhã em Palmas-TO

Foi um gesto concreto, definitivo, em resposta à situação caótica da saúde indígena e a total ineficiência da coordenação da Sesai. “Acabou a nossa paciência.” Eram 10,20 horas, de uma quente manhã em Palmas-TO . Um gesto de consciência e forte simbolismo – Basta. Não vamos maltratar ninguém. Mas tomamos decisão. Botamos  Jercilia pra fora. Agora nós vamos decidir quem queremos para trabalhar com nós.

Na mesa estavam três procuradores do Ministério Publico Federal, aos quais foi solicitado um posição.

Estavam também na mesa Cleiton Javaé, do CONDISI  e Edmundo Xavante do Conselho Nacional d Saúde.

Revogue, Rasgue, queime essa  portaria!

Foi com indignação e revolta que  as centenas de participantes  da 2ª Assembleia dos Povos Indígenas do Estado do Tocantins e Goiás, receberam a informação de que o ministro Adams, da AGU, se manifestou recentemente dizendo que em caso de uma decisão  do Supremo Tribunal Federal, favorável às condicionantes, a portaria 303 entraria em vigor com efeito retroativo a julho de 2012. Essa afirmação confirma a intensão e esperança do governo de fazer valer as intensões anti indígenas desta portaria. O levante nacional dos povos indígenas contra essa “porcaria”, levou o governo ao recuo temporário.

Em passeata pelo centro da cidade, até o prédio da Advocacia Geral da União, os povos indígenas  dos Estados de Tocantins e Goiás, reunidos em sua 2ª Assembleia, deram seu  recado

 

Passeata  até a AGU

Depois de socializar as informações sobre os problemas das aldeias, que são praticamente os mesmos, e se manifestarem insistentemente contra  os projetos que trazem sofrimento e morte para as comunidades indígenas e contra as leis que matam, que desrespeitam  os direitos.  Após breve diálogo com o represente da AGU no Tocantins, entregaram um documento  pedindo a revogação da Portaria 303, não apenas a suspensão como ocorreu em julho do ano passado. E advertiram   “ Estaremos mobilizados para evitar qualquer agressão ou retirada de nossos direitos constitucionais Junto aos povos indígenas do país, estaremos denunciando, repudiando qualquer manobra ou proposta que venha ferir e desconstruir nossos direitos já garantidos na Constituição Federal.”

 Assessoria de comunicação da 2ª Assembleia dos Povos Indígenas dos Estados de Goiás e Tocantins

 
Palmas, Cimi GOIO, 22 de maio de 2013

 

terça-feira, 21 de maio de 2013

Eu não tenho medo de morrer !


 2ª Assembleia dos Povos Indígenas  do Tocantins e Goiás

       Tudo muito lindo. Uns pintando os corpos, outros construindo os barracos ou  circulando no pateio da grande aldeia Palmas. Muitos povos irmanados, sonhos somados, lutas fortalecidas! São quase 500 representantes dos povos Xerente, Krahô,  Apinajé, Krahô Kanela, Karajá de Xambioá, Karajá da Ilha do Bananal, Javaé, Avá Canoeiro, Guarani, Tapuia, Canela do Tocantins. 

      Os povos indígenas desta região tem uma longa tradição de luta por seus territórios e direitos, de resistência. Já na década de 70 enfrentaram os  invasores de suas terras e nas décadas seguintes tiveram que lutar contra as invasões das hidrelétricas, estradas, hidrovias e o latifúndio. Nos últimos anos, através dos processos intensivos de formação política e participação de mobilizações locais, regionais e nacionais,  construíram processos de articulação, solidariedade com as lutas dos povos indígenas em nível nacional. As assembleias indígenas passaram a ser um desses espaços de articulação das lutas, de traçar estratégias comuns e animar a esperança e solidariedade

       Na 1ª Assembleia dos povos indígenas, realizada em maio de 2010, um dos grandes desafios debatidos foi a questão dos grandes projetos,  e modelo de desenvolvimento  do país.  Conforme depoimento de Alderez Kraho Kanela “esse desenvolvimento está matando os povos indígenas da região e do país. Esse progresso é tristeza, é morte. Nós queremos viver do nosso jeito. O que devemos preservar em nosso país é a Vida”. 

         Na conversa com a deputada federal Dorinha, Izabel Xerente foi dura ao denunciar a permanente perturbação em que vivem por causa dos brancos, por causa dos pistoleiros que estão assassinando os índios. Concluiu sua fala enérgica dizendo “Eu não tenho medo de morrer. Posso morrer encima dos meus direitos”.

Conforme Antônio Apinajé “vivemos em estado de apreensão, submetidos e ameaçados por uma campanha muito forte, contra nossos direitos e nossa esperança. Estamos sendo constantemente bombardeados por medidas que visam tirar nossos direitos”

         Antônio  Apinajé coordenou a mesa de abertura da 2ª Assembleia, da qual participaram lideranças dos povos indígenas, representantes da Universidade Federal e do Ministério Público e  D. Tomás, como um dos fundadores do Cimi e D. Pedro, arcebispo de Palmas.

Porque estamos aqui

      Com essa interrogação Jucélia Krahô disse querer dar um recado pro governo, pois os indígenas bem como os ribeirinhos, camponeses e outros estão muito tristes com o que o governo vem fazendo.  “Nós somos o broto da terra. Queremos que o governo nos respeite. Somos impactados. Não quero que esses grandes projetos vá adiante. Estão querendo matar nosso povo com veneno”.

         Dom Tomás,  falou com muito vigor, a partir de sua longa história de luta, com seus mais de 90 anos “A  situação dos povos indígenas nunca esteve tão ruim. O governo está contra vocês. Em tempos passados os índios eram caçados. Hoje matam retirando a terra. Isso fazem na lei, retirando os direitos da Constituição.  Acho que a única força para conter essa política de morte,  é a união de vocês. Vocês como protagonistas, são a única possibilidade de solução. Os poderosos tem medo dos povos indígenas. Vocês não podem perder a oportunidade de se unir cada vez mais. O que faz tremer é a força de vocês. Vocês são a solução, a alma do nosso povo”.

        Comissão de Comunicação da 2ª Assembleia  dos  Povos Indígenas de Goias e Tocantins

Egon Heck e Antonio Apinajé –Cimi goto - Palmas 21 de maio 2013

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Tecendo o Bem Viver

2ª Assembléia dos povos indígenas dos estados de Goiás e Tocantins
O dia amanhece com encanto. Céu azul com algumas nuvens brancas,são prenuncio de um dia ensolarado, de festa, memória e luta. Palmas, a jovem capital está engalanada para o festejo de seus 24 anos.  Em 1989 era lançada a pedra fundamental em meio a uma região ainda marcada pela sua vegetação natural. Sonhos e impactos marcaram, desde então, o meio ambiente e a população que começou a ser atraída para a região.
Para Palmas também estão se dirigindo aproximadamente 500 indígenas de 15 povos,para a realização da 2ª Assembleia dos Povos Indígenas dos Estados de Goiás e Tocantins. Com o tema “Tecendo o Bem Viver denunciamos e resistimos ao modelo de desenvolvimento que destrói nossos direitos e nossa Mãe Terra”.
Esse será um dia memorável, de chegada com alegria e animação, após longa expectativa e preparação. Será dia de celebrar a pluralidade, a beleza das culturas, a resistência dos povos raiz, os nativos dessas terras.  Será um momento forte de alimentar os sonhos do Brasil plural, no aconchego da mãe terra,tecendo juntos o Bem Viver.
No centro da cidade a movimentação em torno dos festejos do aniversário da jovem capital, enquanto na área verde da Universidade Federal do  Tocantins começam a chegar as primeiras delegações indígenas. Os Apinajé chegam do distante norte do Estado, trazendomuito entusiasmo, esperança e grito. Exigem respeito a seus direitos, seus territórios, a mãe terra,  as riquezas naturais e culturais, sua organização e luta conforme garantem os direitos na Constituição e normas e legislação internacionais.
Um grande momento
Conforme Sara Sánchez, coordenadora do Regional GOTO, do Cimi, esse é um momento muito especial da luta, consciência e visibilidade dos povos indígenas na região.  Ela lembra os grandes desafios que esses povos enfrentam hoje “a monocultura da soja, arroz, eucalipto e agora até o plantio de seringueiras, é a arrasadora expansão do agronegócio. As hidrelétricas, que acabam sendo impostas por um modelo de desenvolvimento comandado pelo grande capital e acelerado pelo governo, alagando e destruindo em grande profusão. Os índios estão vindo para dizer não à hidrelétricade Serra Quebrada (no rio Tocantins) e Santa Isabel ( no Rio Araguaia) dentre outras. Vem para dizer não a todas essas grandes obras que trazem muita morte, destruição e sofrimento.”
Mas eles vêem não apenas para denunciar, dizer que estão vivos e resistirão a todos os projetos de morte, mas vem dizer que querem contribuir com seus projetos de bem  viver para a construção de um Brasil plural, mais justo, respeitoso  de seus povos primeiros. E para isso vem se unir aos demais povos indígenas do Brasil e da América Latina e a todos aqueles que buscam a construção de outros modelos de sociedade, de política, de valores e de economia.
Segundo Antônio Apinajé,que acaba de chegar com quase uma centena de representantes desse povo, espera que essa Assembleia  impulsione e fortaleça a organização e articulação dos povos indígena para fazer o enfrentamento coma as políticas equivocadas do governo e setores conservadores e do agronegócio, a partir das bases. Mas ressalta;“Essa conjuntura nos preocupa, nos tira o sono, mas não tira nossa vontade de lutar. Vamos fazer articulação com as Universidades, os camponeses, com os Quilombolas, com a sociedade civil organizada. Finalizou dizendo;  “nessa II Assembleia, vamos dar o nosso recado”.
Durante os próximos quatro dias, Palmas será o espaço de grandes debates do movimento indígena regional com a presença de representantes indígenas e indigenistas do país. Será feita uma análise de conjuntura a partir das aldeias até em nível nacional e internacional. Serão debatidostemos desafiadores da humanidade hoje, como  mudanças climáticas e REDD, TerritóriosIndígenas: espaços ameaçados pelo agronegócio, o Bem Viver e a Mãe Terra, além das cruciais questões da saúde indígena, educação e sustentabilidade.
Também serão elaborados e divulgados informações diárias do andamento da Assembleia e manifestações públicas e atividades culturais e celebrações diárias.

EgonHeck,
Assessoria de comunicação da 2ª Assembleia dos Povos Indígenas de Goiás e Tocantins
Palmas, 20 de maio de 2013