ATL 2017

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terça-feira, 8 de maio de 2012

Povos indígenas contra os 500 anos de escravidão – contra a PEC da escravidão
Perto de 500 pessoas dos movimentos sociais e políticos lotaram o auditório Nereu Ramos , na Cama dos deputados,nesta manhã do dia 8. Tratava-se de importante e representativa manifestação dos setores combativos no campo e na cidade. Aí estavam irmanados contra a PEC da escravidão. É vergonhoso que em pleno século 21 ainda se esteja tentando votar um texto pela erradicação do trabalho escravo. Essa PEC  está engavetada há 11 anos no Congresso, e seu conteúdo já deveria ter sido eliminado hà 121 anos, com a “abolição da escravatura.
Palavras de ordem lembravam a luta popular e seus heróis na luta por transformações profundas, rupturas com o projeto escravocrata, discriminador, preconceituoso e é sustentado por uma elite econômica e política em nosso país. Temos uma classe ruralista das mais reacionárias e retrógradas. Contra esse regime ancorado e sustentado no capitalismo neoliberal, é que se insurgem os oprimidos no campo e na cidade. E o Congresso, com seus minoritários setores progressistas, e outros humanistas contrários há exploração do trabalho escravo.  Os índios, juntamente com os negros estavam na primeira fila. Os sem terra e várias correntes sindicais e representantes de movimentos sociais, fizeram a bonita, atenta e barulhenta manifestação. “Chega de corrente, abaixo a escravidão”,  “Dignidade acima da propriedade.” “Vida acima do lucro”, é o que diziam algumas faixas e slogans.
A liberdade foi decantada e ecoou em alto e bom som. Resta agora transformar essa energia e união em ações de transformação da sociedade, superação de todos os ranços do colonianismo e construir um novo projeto, plural e igualitário, com justiça e dignidade para todos.
Brasilia, 8 de maio de 2012


Caciques, pagés e lideranças indidgenas do Acre: Nos ouçam

Caciques, pagés e lideranças indidgenas do Acre: Nos ouçam

A delegação de 40 caciques, pagés e lideranças de 6 povos indígenas do Acre, continuam sua acre maratona pelos corredores do poder e da burocracia. Passaram a noite acampados na Funai, aguardando que a presidente receba os documentos que estão trazendo. Hoje será o dia de marcarem presença e quebrarem a monotonia dos tapetes verde e azul, com as  lindas cores  dos cocares, colares e pinturas corporais.
Boa sorte à delegação e que consigam amolecer os endurecidos corações dos parlamentares

sábado, 5 de maio de 2012

Da selva profunda, o grito no asfalto


“Saímos de casa há um mês e dois dias”, revelam algumas das lideranças dos seis povos indígenas do Acre há uma semana em Brasília.  Reuniram com dezenas de órgãos públicos, elaboraram e protocolaram ou entregaram  inúmeros documentos às autoridades, expuseram a dramática situação por que passam a maioria das comunidades indígenas no Estado do Acre, fizeram emergir do fundo da floresta ao coração do poder, o grito “Estamos morrendo.  Que o mundo saiba. Façam alguma ação urgente. Não aguentamos mais.  A saúde indígena nunca esteve tão pior..”
Os quarenta caciques , dos quais alguns viajaram por mais de duas semanas  a pé, de canoa e ônibus, para chegar até Brasília, foram unanimes e enfáticos em seu clamor,  no relato de suas dores, na exigência de providências imediatas. “Estamos aqui numa voz só. Viemos mostrar e falar a realidade, a verdade sobre o que se passa com nossas comunidades.  Hoje expressamos nossas palavras até o mais profundo dos vossos corações parar desabafar todos esses anos de dores, doenças, desespero, genocídio, perseguição, que já não pode mais ser silenciado...”  escreveram os Jaminawa em documento à presidente da República, parentes e autoridades.
Das mais distantes aldeias dos povos indígenas do Acre a voz insurgente da gente primeira, denunciando o sistema de morte, dor, ameaças, abandono a  que estão submetidas.  Parece até um filme. A maioria das pessoas que por horas ouviram atentamente os caciques, ficam embasbacadas “Nunca pensei que isso pudesse ser assim no Acre. As informações que tínhamos eram de uma beleza e tranquilidade paradisíaca.” Essa perplexidade de muitos membros dos órgãos públicos e entidades,  surgem como riscos no cartão postal propalado pelo Brasil e mundo afora por muito anos.
Durante uma semana os caciques e lideranças fizeram uma maratona de audiências, depoimentos contundentes, debates acalorados mas sempre respeitosos e conscientes,  entrega de documentos e denúncias... Apesar do cansaço ,  da estranheza e dureza de salva de pedras do poder, em nenhum momento perderam a alegria, a esperança e a certeza de que essa é uma  dura  luta que está apenas começando.
Vistosos cocares, corpos pintados, flechas e bordunas,  armas da indignação, revolta e paz, os caciques deram visibilidade ao grito de vida e morte ecoado das aldeias mais distantes desse grande Brasil, em acres tempos.

Cimi 40 anos, 5 de maio de 2012

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O dia em que a justiça começou a ser feita


A agenda do Supremo Tribunal Federal estava tomada por questões relevantes. A ministra Carmem Lucia propõem , em função da gravidade da situação e a eminência de conflitos e violências, o julgamento da nulidade dos títulos incidentes nos 54 mil hectares da terra dos Pataxo-Hã-Hã-Hae, no Sul da Bahia. Exceto o ministro Gilmar Mendes, os demais se pronunciaram pela nulidade dos títulos. Era dois de maio.
O presidente do STF, Ayres Brito, interveio em algumas oportunidades frisando que para os indígenas “terra não é um bem, mas um ser, um ente, um espírito protetor. Eles não aceitam indenização, porque acreditam que nessas terras vivem seus ancestrais”.
Quem diria,
Uma vez mais na Bahia,
Onde a invasão começou,
Há mais de cinco séculos,
O heroico povo Pataxó Hã-Hã-Hae
Reconquista, com suprema galhardia,
Um pedaço de seu território tradicional.
Suprema justiça no tribunal da vida!
Foram mais de 28 anos em que a ação de anulação dos títulos esteve para ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal. O que todos nós perguntamos é porque quase três décadas para se julgar uma ação?. Foram mais de três dezenas de lideranças assassinadas neste período. Há 15 anos Galdino era queimado aqui em Brasília.
Agora esperamos  o julgamento urgente das ações de devolução das terras já homologadas dos Kaiowá Guarani de Nhanderu Marangatu, e outras dezenas de ações que envolvem direitos indígenas a seus territórios. Que sejam anulados os títulos dados pelo governo Getúlio Vargas em terras dos Kaiowá Guarani.
Que a justiça para com os povos indígenas continue sendo feita!
A justiça abre os olhos e o coração
Enquanto em Brasília o Supremo Tribunal Federal, julgava a nulidade dos títulos incidentes sobre a Terra Indígena Caramuru Paraguasu, do povo indígena Pataxo-Hã-Háã-Hae, a juíza Dora Martins que, juntamente com uma delegação de juízes, visitou algumas comunidades Kaiowá Guarani, escrevia seus sentimentos com relação à visita: “E nós, juízes, ali, "veneno e antídoto" a engolir em seco lágrimas insuspeitas. Conseguimos, estou certa, nos fazer ver além e através da toga. E foi bom.  E o líder Jorge bradou justiça com a Constituição na mão, e as mulheres fizeram, na história, sua segunda ATY GUASU (assembleia) para discutir o medo de não terem terra, alimento, saúde e identidade. Mulheres indígenas com voz. Homens indígenas que querem voltar a ocupar seu território sagrado e tão vilipendiado. E as atrocidades se repetem compassadamente. Nos agradeceram os companheiros brancos, que lá nos receberam, e nos presentearam com a fala de que, com toda certeza, nós, juízes brancos, ao irmos até lá "fizemos história na história deles". Mais lágrimas e legítimas. E foi tocante saber que eles acharam honroso e importante que juízas e um juiz que lá estiveram se fizeram acompanhar por familiares, crianças e filhos. E tudo ficou tão familiar, tão igual, tão brasil profundo de brancos e índios... um alento, para todos, e em especial para aqueles que lá, guerreiros bravios, lutam em prol da causa Guarani; lá, em Mato Grosso do Sul, onde juízes decidem os processos de uma perspectiva tão divorciada da terra e dos humanos valores indígenas, a ponto de entenderem que quando a prova é apenas a "fala do índio", ainda que sejam dezenas deles, alega-se "falta de prova" para por fim ao caso... Afinal, para esse cego olhar da justiça de branco, palavra de índio não vale! “
Oxalá outras delegações de juízes se disponham a conhecer esse outro Brasil, de origem, profundo, desconhecido e desprezado. Quiçá outras Doras, Coras e Coralinas  surjam por esse país afora e tenham a sensibilidade e coragem de expressar seus sentimentos com relação aos sofrimentos e injustiças sofridas pelos povos primeiros desse “grande país e tão pequeno para nós povos indígenas” (Marçal Guarani em sua fala ao Papa, em 1980)
Povo Guarani Grande Povo
Cimi 40 anos –de maio de 2012

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Povos Indígena do Acre em Brasilia


Delegação de 6 povos indígenas do Acre estão em Brasilia para exigir providências dos Ministérios da Justiça com relação à regularização de várias áreas indígenas, da SESAI exigindo atendimento urgente a situações críticas de saude em várias comunidades.

O dia em que a justiça começou a ser feita

PARABENS!!! ao heroico povo Pataxó-Hã-Hã-Hae do sul da Bahia. "No dia em que a justiça começou a ser feita " é uma reflexão na qual pretendo homenagear a conquista histórica desse povo. Foram mais de 28 anos em que a ação de anulação dos títulos esteve para ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal. O que todos nos perguntamos é porque quase três décadas para se julgar uma ação. Foram mais de três dezenas de lideranças assassinadas neste período. Há 15 anos Galdino era queimado aqui em Brasília.
Agora esperamos  o julgamento urgente das ações de devolução das terras já homologadas dos Kaiowá Guarani de Nhanderu Marangatu, e outras dezenas de ações que envolvem direitos indígenas a seus territórios.
Que sejam anulados os títulos dados pelo governo Getulio Vargas em terras dos Kaiowá Guarani.
QUE A JUSTIÇA PARA COM OS POVOS INDÍGENAS CONTINUE SENDO FEITA!
A crise global e as religiões
Brasília, patrimônio cultural da humanidade, não pode ficar refém de Cachoeiras de corrupção. Tem que ser também palco do pensamento e de  intelectuais do mundo todo.  Alçar voos  e sobrevoos  na atual crise global por que passa a humanidade é preciso. Quiçá se consiga vislumbrar sôfregas luzes entre a  nevoa da crise e desesperança.
Abril fez da capital brasileira, ao completar 52 anos, um espaço de grandes debates, com especialistas renomados do mundo. No palco os grandes temas que desafiam a humanidade hoje. “Krisis”,foi o guarda chuva.  As palestras e debates começaram com o tema “Religião-Fé, fanatismo e  conflitos políticos no mundo atual”. Tariq Ali, intelectual e escritor paquistanês, iniciou as exposições.  Leonardo Boff, teólogo, escritor e militante da vida do planeta terra, trouxe um enfoque mais latino americano, da teologia da libertação. Pedro Terra (Hamilton Pereira) secretário de Cultura do Distrito Federal, fez a mediação do debate.
Tariq fez uma breve explanação das religiões nas revoluções industriais, fazendo uma análise crítica da inserção e instrumentalização das mesmas por esses processos econômicos, para chegar às crises e assensos das religiões nos dias atuais. Fez referência às críticas de Marx às religiões, classificando-as como “ópio do povo”. Expressão do pensamento da revolução racionalista. Fez menção à profunda crise atual em que o “mundo está  comandado por gente  cujo único Deus é o dinheiro”.  No turbulento  mundo do capitalismo vemos o constante surgimento de novas religiões, como “fest food”.  Afirmou que nos Estados Unidos tem três grandes religiões: o dinheiro,  as igrejas da competição, e a religião promotora da guerra de civilizações. Isso gera um retrocesso hoje,  pois estimula uma cruzada contra o outro.
Crise de sistema político e religiões
Não existe uma religião monolítica. Quando as religiões conversar, dialogam, aprendem  umas com as outras.  Diante da constatação do assenso das religiões, chamou atenção para o fanatismo que se expande,  demonstrando que na verdade o que se aprofunda é a crise do capitalismo. Fez referência  ao fenômeno do surgimento de partidos políticos religiosos tomando o poder  no mundo árabe, ao vazio e falta de sentido da maioria das democracias atuais. Apesar disso muitos processos importantes acontecem na América do Sul, como o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, e os diversos movimentos ante  imperialismo que chegaram ao poder na Venezuela, Equador, Bolívia...
Apesar de suas ásperas críticas às religiões e suas consequências nos processos civilizatórios e revoluções,  afirmou que na verdade trata-se de uma profunda crise do capitalismo global e a construção de um novo sistema, em que os atuais dos males no mundo não ficarão impunes.
Olhando para seu companheiro que neste instante estava à sua direita na mesa, Leonardo Boff, lamentou que a Teologia da Libertação tenha chegado bastante tarde, porém manifestou sua convicção de que ela poderá contribuir muito com os processos de transformação social e a superação da crise sistêmica atual.
Religião – espaço gerador de esperança
Ao iniciar sua fala, Leonardo Boff,  disse “a religião está realmente  em ascensão. Prova disso era o auditório apinhado de gente, até no palco atrás dos expositores. Boff em sua fala,  disse que a crise da religião nos remete a uma crise mais profunda, de civilização. Fez referência às situações de violência geradas pelo fanatismo religioso, intolerância, proselitismo, fundamentalismo, problemas religiosos não resolvidos.  Insistiu que a religião é espaço gerador de esperança, de elaboração de novos sonhos e utopias.
Fez menção  do cansaço do consumo que está gerando um vazio que propicia o surgimento de religiões, muitas vezes de forma patológica, fundamentalista.  Ao mesmo tempo as religiões ganham uma forma política, profética, de resistência. São as religiões de libertação. Temos uma herança libertária, de resistência, de consciência crítica, ao lado dos oprimidos. As religiões mobilizam as populações.
Quanto à crise mundial,  alertou sobre a grave ameaça por que passa Gaia, o planeta terra, nossa casa comum, pelo feroz sistema de destruição em marcha. Diante dessa realidade dramática somos convocados em regime de urgência a construir um novo modelo de sociedade, que não tenha apenas uma relação utilitarista com a natureza, mas que junte as sabedorias de todos os povos,  nativos, africanos, que tem uma dimensão mística de suas espiritualidades e religiões. Será necessário muito diálogo, busca conjunta da verdade, da construção de um novo modelo civilizatório, baseado na radicalidade da vida, superando as religiões de mercado.
Ao ser perguntado sobre o que esperava da Conferência Rio + 20, foi categórico “  da Conferência oficial não espero nada. Porém  acredito na Cúpula dos Povos, por entender que ali sim a vida  será colocada como questão central e a terra como um bem de vida. Aí sim haverá esperança”.
Povo Guarani Grande Povo
Cimi 40 anos,   maio de 2012