Na semana de abertura dos jogos, correria e custos
adicionais. Ainda está muito vivo na
memória das populações das cidades que sediaram jogos da Copa do Mundo, no ano
passado, os transtornos, sufocos e o festival de obras inacabadas. Tudo indica
que desta vez também não será diferente.
Obras permanentes prometidas e projetadas, como um museu do índio e
piscina olímpica, que ficaram apenas na promessa. Fica no ar a pergunta: será
que o dinheiro fugiu, algum ralo se abriu, alguma conta bancária engordou? Ou será que foi mesmo blefe, com total
desconsideração para com os povos indígenas e a população da cidade sede dos
jogos, iludidos com os inúmeros benefícios .
Apesar dosJogos Mundiais Indígenas terem sido adiados duas
vezes, mesmo assim a infraestrutura, que ficou por conta da prefeitura de
Palmas, parece ter sido adiada até os últimos dias antes dos jogos. São melancólicas,
para não dizer tétricas, as paisagens do ambiente dos jogos, cheia de tocos de
árvores arrancadas que nada tem a ver com a mensagem de vida e respeito à
natureza que os povos indígenas trazem para o mundo e o planeta Terra.
Nos
bastidores
Começam a circular, no calor de Palmas (na chegada o copiloto
anunciou que a temperatura na capital doTocantins era de 42 graus), as
denúncias com relação ao tratamento dispensado aos voluntários indígenas. Segundo essas informações, dos 550
voluntários cadastrados, 250 estão em Palmas. Esses informes dão conta de uma
generalizada desorganização, falta de atenção e consideração para com os
voluntários. Atribuem a responsabilidade pelos desmandos à prefeitura que os
colocou em local inadequado para hospedagem e carestia de alimentação.
“Tem voluntários indígenas que chegaram sem ter pra onde ir
e dormir. Eles negaram a estes voluntários que ficassem hospedados com os
parentes das delegações que participarão dos jogos (que vão ficar numa área
restrita que nem eles como voluntários poderão acessar)...e nesse jogo todo um
está jogando pra cima do outro,prefeitura, Comitê, PNUD... Sóestando aqui para
acreditar nisso”.
Membros da União dos estudantes indígenas estão muito
insatisfeitos.
Muitas reclamações com relação ao descaso e tratamento com
que a prefeitura de Palmas dispensou a voluntários: “Chegamos aqui e a
prefeitura (que ficou responsável pela gestão dos recursos do Ministério dos
Esportes para aplicar na infraestrutura, inclusive para os voluntários) colocou
a gente num camping que não dava para dormir (muito calor, sem árvore nenhuma e
emcima de asfalto) e que sequer tinha água nos banheiros... Fora a alimentação
que ontem conseguimos ter uma reunião com a secretaria e eles vão dar mais de
uma refeição pra gente... Eles disseram que se a gente quisesse mais de uma
refeição a gente teria que trabalhar em mais de um turno...difícil, né”.
“Também somos indígenas”
O slogan visto na
placa não condiz, portanto, com a
realidade constatada.
Quiçá seja esse um momento para iniciarmos um processo de
mudança de mentalidade, superando preconceitos, racismo, descolonizando mentes.
Com os povos indígenas do mundo façamos a solene declaração
do Conselho Mundial dos Povos Indígenas, de 1975:
“Nós, povos indígenas do mundo,
unidos numa grande Assembleia de Homens Sábios, declaramos a todas as nações:
Quando a terra-mãe era nosso
alimento
Quando a noite escura formava
nosso teto,
Quando o céu e a lua eram nossos
pais,
Quando éramos irmãos e irmãs,
Quando nossos caciques e anciãos
eram grandes líderes,
Quando a justiça dirigia a lei e
sua execução,
Aí outras civilizações chegaram!
Com fome de sangue, de ouro, de
terra e de todas as suas riquezas, trazendo numa mão a cruz e na outra a
espada, sem conhecer ou querer aprender os costumes de nossos povos, nos
classificaram abaixo dos animais, roubaram nossas terras e nos levaram para
longe delas,
Transformando em escravos os
"filhos do sol".
Entretanto não puderam nos
eliminar;
Nem nos fazer esquecer o que
somos,
Porque somos a cultura da terra
e do céu, somos de uma
Ascendência milenar e somos
milhões,
E mesmo que nosso universo
inteiro seja destruído,
NÓS VIVEREMOS
Palmas, 19 de outubro de 2015.
Cimi Regional Goiás/Tocantins
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