“Não daremos nenhum passo atrás. A PEC 215 é uma proposta de
genocídio de toda humanidade, pois todos dependem da natureza para se alimentar
e sobreviver. Vamos à luta!” Com essa decisão guerreira 13 povos indígenas da
bacia do rio Xingu estão essa semana realizando contatos diversos, caminhadas e
conversações com lideranças de partidos e encontros com ministros do Supremo
Tribunal Federal.
Segunda-feira agradável. Sem sol, sem chuva, sem calor.
Apenas o calor humano e a beleza das pinturas corporais, adornos e armas
rituais. Após uma breve concentração e rituais em frente à Catedral, com a
ostentação de faixas, banners e cartazes contra a PEC 215, iniciou a caminhada
pelas ruas e espaços dos Três Poderes.
Num dos banners estava expresso a razão da mobilização: “Xingu contra a
PEC 215. Acorda povo brasileiro. Desenvolvimento à custa de vidas não. Xingu
entrou nessa guerra contra o capitalismo irracional”.
Um grupo de Kayapó que se somaram com as várias etnias do
Parque Indígena do Xingu, o primeiro grande parque, pelo qual lutaram os irmãos
Villas Boas, e que foi assinado pelo presidente Jânio Quadros em 1961,
realizaram a marcha e caminhada ritual. Gritos e cantos encheram o caminho. Um
grupo Kayapó já está em Brasília fazendo mobilizações e conversações há três
semanas. Fato inédito, pois nem na Constituinte permaneceram tanto tempo. Uma
das personalidades da luta histórica, e que estava na linha de frente da
caminhada foi Raoni, protagonista, junto com seu povo de inúmeras lutas pelos
direitos constitucionais e o respeito ao território de seu povo.
No “Manifesto dos Povos Originários contra a PEC 215 e pela
proteção da natureza em sua totalidade” explicitam a razão de sua luta em Brasília,
somando com os demais parentes de todo o país. “Viemos aqui deixar um recado
claro aos deputados e senadores que irão analisar esta proposta nos próximos
dias. Não aprovem a PEC 215. Estamos chamando todas as pessoas preocupadas com
o nosso planeta, e com o futuro de nossos netos para que se juntem também à
nossa luta. Toda a humanidade irá sofrer, todos já estão sentindo as mudanças
climáticas”.
No decorrer da manhã, foram sendo feitas denúncias da
invasão das terras e das graves consequências dos desmatamentos de todo o
entorno do Parque/Terra Indígena do Xingu. As águas estão cada vez mais
poluídas, os peixes estão diminuindo, as condições de sobrevivência cada vez
mais difíceis.
O quadro daquilo que
era considerado um paraíso e nas décadas de 50 e 60 eram desenhados como o modelo
de sobrevivência dos povos originários deste país, hoje está drasticamente
ameaçado pelo modelo de desenvolvimento agropecuário da região.
Diante da obstinada luta dos ruralistas para abrir as terras
indígenas à exploração dos recursos naturais e da terra pelo agronegócio, os
povos do Xingu em seu manifesto e lutas desta semana pedem aos parlamentares
que não aprovem a PEC citada, “pois ela fere os direitos e garantias dos povos
originários... estabelecendo o marco temporal, tiranos nosso direito de usufruto
de nosso território e abrindo as portas para a exploração direta e indireta de
nossas riquezas”.
Mobilizemos a
esperança na luta
Os povos originários do Brasil estão passando por um dos
momentos mais ameaçadores das últimas décadas. Nunca as elites deste país
investiram tanto em projetos e ações, leis e decisões judiciais contra os povos
indígenas.
Por outro lado, estamos às vésperas da realização de uma Conferência Nacional de Política Indigenista, com mais de 1.800 participantes, da qual se espera em definitivo enterrar essa ação antiindígena orquestrada pelo Estado brasileiro. É momento de mobilização. É momento de esperança. É tempo de luta.
Egon Heck – fotos Laila Menezes
Cimi Secretariado
Brasília, 18 de novembro de 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário