As rezas e
os rezadores Nhanderu e Nhandessi
Na semana
passada, Brasília tornou-se uma grande casa de reza (Oga Guasu). Por onde passou,
a delegação de 45 Guarani Kaiowá e Nhandeva realizou seus rituais, rezas e
danças. Impreterivelmente tinham que encerrar seu momento de espiritualidade,
fazendo os gestos de expulsão dos maus espíritos. Só não podiam realizar as
rezas mais fortes, com medo que Brasília poderia se esvaziar muito. Se todas as contas no exterior
fossem revelas a debandada seria grande.
Conquistando aliados:
a greve de fome e a demarcação da terra
Um dos momentos emocionantes, nessa semana de luta da
delegação Guarani Kaiowá em Brasília, foi o encontro que tiveram com o grupo de
lutadores sociais em greve de fome. Depois de inúmeros rituais falaram sobre o
significado desse seu gesto de solidariedade. Os Nhanderu abençoaram e
desejaram força nesse gesto supremo de por em risco suas vidas por uma causa
tão magnânima e generosa.
Na carta que entregaram aos amigos em greve de fome,
externaram as razões de sua esperança, nessa permanente guerra e luta que
enfrenam: “Somos gratos pelo ato de sacrifício de vocês para que o povo
brasileiro possa se alimentar de pão, mas também de justiça. Iremos rezar com
toda nossa força para que fiquem bem e temos certeza que com nossa reza e com
atos de coragem como o de vocês este país poderá ser melhor, mais democrático e
mais justo com todos nós, em especial com os povos indígenas que são seus filhos
primeiros. Todos estamos juntos e sabemos que a fome que passamos também conduz
nossos pés para o mundo onde ninguém precisará passar fome. Deixamos aqui,
junto com a benção de nossos rezadores, nosso abraço, nosso obrigado e nossa
amizade enquanto Guarani e Kaiowá”.
Frei Sérgio, emocionado pela forte
expressão dos rituais e palavras dos indígenas, disse: “Nós da esquerda, em especial
do PT, temos muito que aprender com os povos indígenas”. E concluiu: “Enquanto
não forem respeitados os direitos dos povos indígenas, não haverá verdadeira
justiça em nosso país”.
O Estado brasileiro
na contramão da história
No Dia Mundial dos Povos Indígenas, 9
de de agosto, a delegação Kaiowá Guarani participou com seus rituais e falas,
de um memorável ato de protesto e debate sobre a situação dos povos indígenas
no Brasil e no mundo.
Durante ato realizado no Memorial dos Povos Indígenas, em
Brasília, organizações indígenas e aliados, destacaram avanços importantes
registrados nas últimas décadas. Ao mesmo tempo denunciaram o lamentável
processo de regressão verificado em vários países, dentre os quais se destaca o
Brasil, que “é certamente um dos países que hoje mais violenta os direitos
indígenas”.
Na Funai, a
choradeira foi geral
Meteram a mão no orçamento, deixando-a pele e osso. Não
liberaram grana. Deixaram-na agonizante. Mas seu presidente atual disse não se
intimidar. Afirmou trabalhar incessantemente. E para ancorar suas afirmações,
prometeu que com seus assessores deixaria pronto um minucioso documento com todas
as informações da realidade de todas as terras indígenas Kaiowá Guarani, no
Mato Grosso do Sul. Os índios até retardaram sua viagem de volta, mas não levaram
o documento com as informações.
Entenda a AGU, quem
puder
A delegação Guarani-Kaiowá reforçou o pedido de revogação urgente
desse instrumento de genocídio que os interesses antiindígenas estão utilizando
na sua incansável investida contra os direitos dos mais de 300 povos
originários deste país.
Marco Temporal:
enredo supremo para o próximo carnaval
No campo de futebol, nas rodas de
pilhéria, o marco temporal servia para fazer chacotas ou piadas.
Quem sabe até o próximo carnaval o dito marco temporal já
esteja na cova e sirva apenas para a memória sórdida de um instrumento e
decreto de morte para os povos indígenas.
É lamentável que frequentemente os supremos ministros tenham
que ser lembrados que a Constituição foi construída para ser cumprida. Quase
semanalmente delegações indígenas estão se fazendo presentes no Supremo
Tribunal Federal, não apenas para lembrar de que ainda estão vivos, mas que
pretendem chegar ao coração dos ministros e demonstrar a eles quanto sofrimento
e mortes estão provocando interpretações contra os povos indígenas, como é o
caso do marco do temporal.
Egon Heck
Fotos Laila/Cimi
Secretariado Nacional
Brasília, 17 de agosto de 2018
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